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PT sendo PT

publicado: 06/03/2024 13h49, última modificação: 06/03/2024 13h49

por Gisa Veiga*

O PT na Paraíba nunca foi um partido fácil. Mas agora, às vésperas de uma eleição municipal, o caso se complica ainda mais. Existe a corrente que defende Cida Ramos como candidata a prefeita de João Pessoa; outros preferem Luciano Cartaxo; e outra ala prefere apoiar a candidatura do prefeito Cícero Lucena à reeleição, por não enxergar força numa candidatura própria.

Ontem, o deputado Luciano Cartaxo deu uma entrevista questionando a ideia do partido apoiar Cícero. Perguntou, ao ser indagado sobre essa questão: “Esse pessoal tem medo de quê? O partido não pode ter medo, porque é forte, terá o apoio do presidente Lula e tem, sim, condições de vencer a eleição”, afirma.

Porém, quando ele fala “tem condições de vencer”, deve-se entender que Cartaxo fala, no íntimo, que essa possibilidade de vitória se daria com ele como cabeça de chapa. Evita, a todo instante, falar com todas as letras que pediria votos para Cida, caso ela vencesse a disputa interna. Porque, para o deputado petista, nem passa por sua cabeça que ele não seja o ungido.

"Cida tem chances de vitória? E Cartaxo? Ou nenhum dos dois teria condições de vencer e seria mais prudente se aliar a outro partido?"
Gisa Veiga

Ele insiste que só deve representar o partido nas eleições deste ano quem tem reais chances de vitória. Fala dele mesmo, convicto de que Cida Ramos não conseguiria bater os adversários.

Eu não tenho tanta certeza disso, embora também não tenha números de pesquisas que indiquem o contrário. No entanto, é claro que qualquer partido deve, sim, fazer pesquisas eleitorais que possam indicar qual dos pré-candidatos venceria a eleição – ou pelo menos, por enquanto, chegaria perto disso. Ou se nenhum é do agrado popular.

O exemplo do PL, que enfiou goela abaixo o nome do ex-ministro Marcelo Queiroga como pré-candidato a prefeito “e ponto final”, e por isso mesmo deve amargar uma grande derrota e baixas na legenda, pode servir de lição. O PT pode cair numa cilada, caso imponha qualquer nome sem, primeiro, ouvir suas bases e, em seguida, os eleitores. Cida tem chances de vitória? E Cartaxo? Ou nenhum dos dois teria condições de vencer e seria mais prudente se aliar a outro partido? Tudo isso algumas simples pesquisas poderiam sinalizar.

Uma reunião em caráter de urgência, marcada para amanhã, por videoconferência, entre Cida, Cartaxo e outras lideranças com a presidente nacional da legenda, Gleisi Hoffmann, não parece indicar que, num passe de mágica, haverá uma conscientização coletiva de que razões práticas devem prevalecer sobre as emoções que movem as torcidas internas. Afinal, Gleisi não deverá decidir, de cima para baixo, sobre o nome ideal, embora essa seja a expectativa de alguns, inclusive de Cartaxo. Duvido muito que a solução para a crise interna passe por uma decisão autoritária. Ela – creio eu - não vai se comportar como uma mãe que vem apartar a briga dos filhos e apontar quem tem razão. Talvez pregue um “deixa disso” e indique um caminho saudável para resolver a pendenga. Democraticamente.

Confiar no fato do PT ser o partido do presidente Lula não parece ser um argumento perfeito. Isso não significa muita coisa para o eleitor comum de João Pessoa.

Trocar farpas por meio da imprensa também não ajuda.

Mas esse é o PT sendo PT.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 06 de março de 2024.