A Quaresma, período de 40 dias de preparação para a Semana Santa, começou ontem para os cristãos católicos, quando também foi lançada a Campanha da Fraternidade 2025, que tem como tema “Fraternidade e Ecologia Integral”. O arcebispo Dom Manoel Delson presidiu a celebração da Missa de Cinzas, na Catedral Basílica de Nossa Senhora das Neves, na capital, oportunidade em que também orientou os fiéis sobre a campanha anual da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
“Na Bíblia Sagrada, 40 é um número simbólico. Moisés, com o povo de Deus, passou 40 anos no deserto. Jesus foi tentado por 40 dias. E a Igreja escolheu 40 dias, um tempo longo, apropriado para a preparação para a Páscoa do Senhor, que é o grande acontecimento da Paixão, morte e ressurreição de Jesus, o centro da nossa fé cristã”, explicou o líder religioso sobre a Quaresma.
Na prática, a Igreja Católica propõe aos fiéis a intensificação de jejum, orações e caridade. “É uma forma de a gente ir abrindo o coração e aprofundando interiormente a nossa espiritualidade para o mistério que se revela para nós através da Paixão, morte e ressurreição de Jesus”, completou o arcebispo de João Pessoa.
O controlador de gestão contábil João Paulo do Nascimento, de 42 anos, foi um dos fiéis que receberam as cinzas na testa, na noite de ontem. A escolha do nome dele foi influenciada pela primeira visita do papa João Paulo II ao Brasil, em 1981. Ele disse ser assíduo frequentador das missas e seguir as orientações da sua religião, inclusive nesse período. “A missa da Quarta-Feira de Cinzas dá início à Quaresma. Então, ela serve como um dia que vai ter penitências e também para você pensar sobre atos e até a nossa conversão”, falou momentos antes de ser cingido por um sacerdote na Catedral Basílica.
As cinzas também reforçam a fragilidade da condição humana. “Elas têm uma indicação penitencial de nos recordar também que viemos da terra; somos pó e a ele retornaremos. E um apelo à conversão. Recebemos as cinzas para nos converter ao Senhor e nos voltar para Deus”, acrescentou Manoel Delson.
Absolvição de pecados?
Apesar de ser logo após o Carnaval, o momento não deve ser visto como uma forma de compensar ou pedir absolvição dos pecados cometidos durante a festa da carne. “Se alguém foi brincar Carnaval com essa intenção — ‘vou aprontar e depois Deus me perdoa’ —, isso é muito perigoso para a consciência da pessoa”, declarou o arcebispo.
Foi exatamente essa orientação que a coordenadora pedagógica Richelly Silva, de 34 anos, disse ter seguido durante o Carnaval deste ano. “Não brinco Carnaval, mas, neste ano, também não fui para nenhum retiro. Fui para Araruna, fiquei resguardada lá e retornei ontem”, contou.
Papa propõe atenção à “ecologia integral”
O lançamento da Campanha da Fraternidade 2025 foi realizado no salão nobre da Cúria Metropolitana da Arquidiocese da Paraíba, em João Pessoa. Realizada desde 1964, a ação, neste ano, tem como tema “Fraternidade e Ecologia Integral”.
O termo “ecologia integral” foi usado pelo Papa Francisco na encíclica “Laudato si’”, documento em que o “sucessor de Pedro” orienta a doutrina católica. “Integral, porque nada pode ficar de fora: a vida humana, a vida das plantas, a vida dos animais das aves, dos peixes, da água, e tudo precisa ser preservado. Toda forma de vida é um dom de Deus. Quando a gente perde uma espécie animal, o nosso planeta está se empobrecendo”, explicou o arcebispo de João Pessoa, Manoel Delson.
Segundo ele, a Igreja particular da Paraíba vai realizar atividades em parceria com associações de profissionais de reciclagem. “A gente pensa em caminhar com essas associações de catadores de materiais recicláveis, mas é um gesto pequeno que a gente faz. Esta é a formação que todos nós devemos ter no seu nível individual, familiar e comunitário. É importante trabalhar para cuidar melhor da nossa terra”, declarou, chamando os fieis à responsabilidade de cuidar do meio ambiente.
As campanhas da fraternidade têm frequentemente destacado temas ligados ao meio ambiente e à sustentabilidade. Neste ano, a realização da Conferência das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (COP30) no Brasil e o aniversário de 800 anos do Cântico das Criaturas de São Francisco foram um dos motivos para reforçar a causa. “Quando Deus criou todas as coisas, viu que tudo era bom. E, se Deus criou, foi para que permanecesse e que o homem tivesse uma relação de harmonia com todas as coisas”, finalizou Delson.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 06 de março de 2025.