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Casamento coletivo une 18 casais

publicado: 04/09/2025 08h23, última modificação: 04/09/2025 08h23
Evento, que teve apoio de vários órgãos públicos, aconteceu ontem, no Centro Cultural São Francisco, em João Pessoa
2025.09.03 Casamento coletivo sistema penitenciário © Leonardo Ariel (13).JPG

Cerimônia religiosa foi celebrada pelo arcebispo metropolitano da Paraíba, Dom Manoel Delson | Foto: Leonardo Ariel

por Carolina Oliveira*

“Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença”. Estas palavras foram repetidas por 18 casais, na tarde de ontem, quando, no Centro Cultural São Francisco, noivas e os noivos, pessoas em privação de liberdade, participaram do casamento religioso com efeito cível, em uma cerimônia presidida pelo arcebispo metropolitano da Paraíba, Dom Manoel Delson Pedreira.

De acordo com o secretário de Estado da Administração Penitenciária, João Alves de Albuquerque, o evento angariou a presença e apoio de diversos órgão públicos. “Estão mobilizados, Judiciário, Ministério Público, Polícia Penal, funcionários da Secretaria de Administração Penitenciária, Conselho da Comunidade, Associação de Notários do Estado da Paraíba e outros órgãos que contribuíram”, disse.

O chefe da Secretaria de Administração Penitenciária contou que, para que os casamentos ocorressem, além de todos os preparativos realizados com os noivos, que envolveram o preparo de certidões, e participação em sacramentos católicos que precedem o matrimônio, foram necessárias autorização do Judiciário para a saída dos reeducandos da unidade prisional, e acompanhamento para o retorno em segurança. “Essa é uma iniciativa do Conselho da Comunidade, com a juíza da execução penal, Andréa Arcoverde, envolveu toda a Secretaria da Administração Penitenciária, diretores de presídio, policiais penais, e teve envolvimento, ainda, de cartórios para a confecção de certidões. Os casais são formados por homens que são reeducandos, e mulheres que estão livres”, conta o secretário.

Rosemary Nascimento foi uma das mulheres que trocou alianças e fez os votos matrimoniais ontem. Ela e o companheiro, agora marido, guardam uma história juntos, Rosemary conta que conheceu o noivo através daquele que se tornaria seu cunhado, e depois de começarem o relacionamento, estiveram separados por 10 anos, já que, no período, ela estava fora do sistema prisional, e ele, privado de liberdade.

A noiva, diante das novas perspectivas para o futuro, fala com empolgação sobre retomar o convívio e recomeçar a vida familiar, com o marido e os filhos que ambos tiveram em outros relacionamentos. Para Rosemary, a data é uma ocasião marcante na trajetória do relacionamento, que, conforme ela relembra, passou por “altos e baixos”  mas conseguiu superar as dificuldades. “Eu me sinto muito feliz e emocionada, é a realização de um sonho e um grande dia para a gente”, afirmou.

A secretária de Estado das Mulheres e da Diversidade Humana (SEMDH-PB), Lídia Moura, destacou a importância da mobilização, que dá caráter de cidadania às pessoas que estão privadas de liberdade. “Não deixam de ser cidadãs, nem seres humanos, são pessoas que amam, que têm as suas relações, e que, muitas vezes, mantêm as suas famílias ou podem iniciá-las”.

Ela também pontuou que iniciativas como esta, contribuem para o processo de ressocialização. “Porque vai chegar o momento que essas pessoas estarão de volta à sociedade e é melhor que elas estejam preparadas, e tratadas de uma forma humanizada, para que possam exercer a sua cidadania e a sua vida normalmente. Apoiamos os casamentos que o sistema penitenciário organiza com o Tribunal de Justiça, por meio da Vara de Execuções e outros órgãos. Atuamos também junto à administração penitenciária com programas, que possibilitam que essas pessoas participem do processo do reingresso na sociedade”, ressalta.

Para a secretária, o momento humanizado é também oportunidade de atuação do Estado, no sentido de promover a inclusão, desta parcela da população. “Demonstrar que essas pessoas são importantes para nós. A gente precisa ganhar a confiança delas, trazê-las para o lado da democracia, da cidadania e não excluí--las, para que não continuem disponíveis, por exemplo, para incorrer nos erros e nos crimes que cometeram anteriormente”, aponta Lídia Moura.

O arcebispo da Paraíba, Dom Manoel Delson, destaca o trabalho realizado junto aos apenados pela Pastoral Carcerária. “Já celebramos o batismo, a primeira eucaristia, a crisma, e agora, o matrimônio. A pastoral, com os nossos seminaristas, realizou a formação com apoio da direção do presídio. Certamente, eles estão se sentindo muito apoiados pela sociedade, pela comunidade e também pela igreja. É um sinal de esperança, de que estão recebendo essa bênção de Deus para viverem a sua união matrimonial, na esperança de cumprirem a sua pena e voltarem para a sociedade felizes e abençoados”.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 4 de setembro de 2025.