Num espetáculo de contrastes, o tarimbado Chico César dividiu o palco do Teatro Pedra do Reino, em João Pessoa, com quase 300 crianças e adolescentes da Orquestra do Programa de Inclusão Através da Música e das Artes (Prima). Com plateia praticamente lotada, a alquimia de repaginar músicas populares com instrumentos eruditos ocorreu diante dos olhos de um público participativo e entregue à magia da noite.
“Feliz em estar aqui, fazendo parte dessa revolução popular, que é o Prima”, disse César nos primeiros minutos de apresentação. Junto de um coral de 60 vozes, a orquestra de 220 estudantes e seus próprios músicos, Chico César apresentou um repertório sinfônico com canções como “Estado de Poesia”, “Mama África” e “Deus me Proteja”.
A vendedora paulista Marina Monteiro, de 28 anos, mora em João Pessoa desde maio deste ano. Ontem, ela estreou como espectadora do músico catoleense. “Foi um show incrível, quanto mais se passava, melhor ficava! Decidi vir por ser um grande artista, por ser uma orquestra de estudantes que estão se formando e por ser de graça”, declarou a jovem que ouviu uma composição de Chico César, pela primeira vez, na voz da paraibana Juliette, vencedora de uma edição do programa de televisão Big Brother Brasil.
Responsável por alinhar as centenas de músicos, o regente Rainere Travassos afirmou que soube da notícia da participação de Chico César no concerto de encerramento do ano, na metade de 2025. Mas para ninguém desafinar no momento mais importante do ano, o trabalho começa muito antes.
“Vínhamos ensaiando individualmente em cada polo desde março. Nessa visita, a gente trabalha o repertório, as orientações artísticas e pedagógicas do programa. Ao fim de cada semestre, a gente junta todos os polos e faz um ensaio geral”, explicou o maestro do programa, que possui 16 polos distribuídos em 13 municípios paraibanos.
O governador João Azevêdo e o vice Lucas Ribeiro assistiram ao espetáculo musical na primeira fila.
Jornadas primorosas
A revolução a que Chico César referiu-se está em curso há 13 anos. O Prima oferece a oportunidade de estudantes de escolas públicas darem o próprio tom de suas vidas. Foi o que aconteceu com o violinista Arthur Silva Fernandes, de 17 anos. A jornada do conterrâneo de Chico começou aos oito anos de idade, quando conseguiu uma vaga em Catolé do Rocha. De início, ele escolheu o trompete, mas ainda não tinha fôlego suficiente para dar vida ao gigante de metal. A alternativa foi o violino.
“Não sei explicar o porquê. O som do violino me atraiu muito. Ele faz uma melodia diferente, não desmerecendo os outros instrumentos”, explicou. E parece que a escolha rendeu. Quase uma década depois, Arthur foi o primeiro violinista na apresentação da noite de ontem.
No próximo ano, ele planeja entrar no curso de Música da UFPB e sonha em trabalhar fora do Brasil. “As orquestras da Europa são muito atraentes. Então, é sempre um sonho querer chegar lá, principalmente a Filarmônica de Berlim”, projetou.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 23 de dezembro de 2025.