Notícias

ENTREVISTA

Cineasta Aly Muritiba fala sobre o sucesso da série "Cangaço Novo" no Giro Nordeste

publicado: 13/09/2023 10h30, última modificação: 13/09/2023 10h30

por Carol Cassoli*

O Giro Nordeste de ontem propôs uma conversa com o cineasta Aly Muritiba, diretor da série “Cangaço Novo”, sucesso nacional e internacional produzido pela Prime Video. Muritiba, que é baiano, falou sobre as principais temáticas abordadas pela série, mas também sobre a espetacularização da violência no cinema e em outros espaços e sobre os bastidores da produção audiovisual brasileira.

Ao qualificar parte das temáticas de “Cangaço Novo” como “complexas”, Muritiba afirmou que, para falar sobre o fenômeno do novo cangaço (termo utilizado para se referir a assaltos a bancos espetacularizados e violentos), muita pesquisa foi necessária. “Estamos falando de um fenômeno social surgido no Ceará, no final dos anos 1990, início dos anos 2000, que, depois, se propagou pelo Nordeste todo e, hoje em dia, chega ao Sul e ao Sudeste. Este fenômeno engloba grupos armados que sitiam cidades e que, de certo modo, sequestram autoridades para fazer assaltos a banco, com ações muito espetaculares e muito bem planejadas”, explicou o cineasta ao dizer que a própria Polícia Federal batizou este processo como “novo cangaço”, embora, hoje, já chame a técnica de “domínio de cidades” para evitar a romantização do termo, ao associá-lo ao cangaço tradicional.

Segundo Aly, a série, que rapidamente se tornou fenômeno, se propõe a ir além de uma narrativa que retrate o domínio de cidades no Brasil; a ideia era falar, também, sobre as lutas sociais e as estruturas de poder que se formam no sistema capitalista. O diretor acredita que este é o motivo pelo qual a série, lançada em 18 de agosto, tem feito tanto sucesso em outros países, principalmente naqueles pertencentes ao chamado sul global. Aly conta que, devido a isso, a produção tem atingido público em países do continente africano, por exemplo.

Pensando na dinâmica de reprodução da ultra violência vivenciada no Brasil pelo audiovisual, Muritiba afirma que “Cangaço Novo” mostra o estado das coisas, um estado em que a estrutura social é insustentável. “Um sistema onde um banco opera para confiscar terras de pequenos lavradores e de miseráveis é insustentável. Haverá um momento em que esse pequeno lavrador vai se revoltar. Ele já se revoltou no passado”, analisou o cineasta ao correlacionar seu exemplo a eventos históricos como o Cangaceirismo, a Sabinada, a Balaiada e a Revolta de Canudos.

 “O audiovisual pode ser tanto uma antena parabólica para seu tempo, ou seja, estruturas que captam e retratam aquilo que acontece, quanto podem ser proposições de futuro, de solução. Acredito que existem filmes que são diagnóstico e filmes que são profilaxia. São filmes que constatam que o paciente está doente e filmes que dizem ‘já que o paciente está doente, este é o remédio’”, constatou.

Semanalmente o Giro Nordeste entrevista personalidades de destaque nos cenários regional e nacional e conta com a participação de jornalistas das emissoras públicas de rádio e TV do Nordeste. Exibido ao vivo pela Rádio Tabajara, o programa também fica disponível no canal oficial da TVE Bahia no YouTube.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 13 de setembro de 2023.