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Coletânea de críticas de Linduarte Noronha é lançada na capital

publicado: 14/03/2025 13h48, última modificação: 14/03/2025 13h48
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Evento reuniu pesquisadores e cinéfilos na Livraria A União | Foto: Carlos Rodrigo

por João Pedro Ramalho*

Preservar a memória e celebrar o legado de um dos artistas e críticos mais prolíficos da Paraíba: esse é o objetivo do livro “Luz, Cinefilia... Crítica! Arqueologia e Memória do Crítico Linduarte Noronha — Jornal A União, Anos 1950–1960”. A obra, organizada por Lúcio Vilar e publicada pela Editora A União, reúne 64 críticas de Linduarte, entre as mais de 900 publicadas no Jornal A União, além de comentários de sete docentes, jornalistas e produtores de cinema sobre essas produções. Já o lançamento aconteceu na noite de ontem, em um evento que reuniu pesquisadores e cinéfilos na Livraria A União, localizada no Espaço Cultural José Lins do Rêgo, em João Pessoa.

O organizador da coletânea, documentarista e diretor do Fest Aruanda, Lúcio Vilar, passou anos em pesquisa no arquivo do Jornal A União, como parte do projeto junto à Universidade Federal da Paraíba (UFPB), onde leciona. Ele descreve o processo de seleção das críticas como “hercúleo”, mas vê, de forma positiva, a redescoberta de um acervo variado, que se reflete na divisão da obra. “A gente ia se surpreendendo com a qualidade e a atualidade dos textos, apesar de terem sido escritos há tanto tempo. Depois de tudo lido, começamos a categorizar. O primeiro tópico traz colunas sobre João Pessoa, a Paraíba, o Nordeste e o Brasil. Já o segundo traz uma janela para o estrangeiro: as escolas cinematográficas, vertentes, estéticas, diretores, controvérsias. Por fim, nós encontramos oito textos que ele escreveu sobre [seu documentário] ‘Aruanda’ (1959), em que conta todo o processo de gravações, em detalhes”, explica.

O lançamento da obra contou com a participação do escritor Hildeberto João Pessoa, que ressaltou a lição, aprendida com a leitura do material, de que a crítica cinematográfica não pode ser resumida a apenas um comentário. Na verdade, é preciso se envolver com essa arte e reforçar a bagagem de conhecimentos a respeito dela. “Desse livro, ficam-me quatro coisas: o amor de Linduarte pelo cinema; seu pensamento crítico, com relação às grandes questões da América Latina; sua honestidade, coragem e independência intelectual; e, finalmente, seu humanismo diante da cultura, da política e da economia — algo que está nos faltando, porque nossos intelectuais se transformaram em técnicos, esvaziados de qualquer sentido humano”, completou.

Já o poeta Sérgio de Castro Pinto destacou como a leitura das críticas o permitiu revisar a imagem que possuía de Noronha, a quem considerava, anteriormente, um mero “improvisador”. “Agora, tendo à mão esse livro, pude constatar o quanto Linduarte, embasado na boa teoria do Cinema, frequentador assíduo das salas de projeção, articulou um discurso acessível, simples — sem ser simplório —, palatável e didático, inclusive àqueles que se iniciavam nos caminhos da sétima arte. E pelo ensaísta bem equipado teoricamente, pode-se mensurar o cineasta cônscio do seu ofício, responsável pelo embrião do Cinema Novo no Brasil”, afirmou.

Quem também participou da mesa de lançamento foi o crítico de cinema João Batista de Brito, que assina um dos textos que compõem o apêndice do livro. Em um relato que mesclou análise e memórias pessoais, ele comentou como as impressões deixadas pela obra de Linduarte contrastam com a pessoa com a qual o próprio João Batista conviveu. “Lendo o livro, me ocorreu como Linduarte seria um crítico aguerrido, politizado, nada confortável com o sistema de produção de cinema no Brasil, e como ele denunciava o imperialismo cinematográfico dos americanos. E essas posições fortes nos levam a imaginar um crítico ferrenho, o que não correspondeu à pessoa que eu conheci nos anos 1990, um homem tão doce e com um lado até engraçado”, relembrou.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 14 de março de 2025.