O cronista e ensaísta Francisco das Chagas Gil Messias tomou posse da cadeira 24 da Academia Paraibana de Letras (APL). A cerimônia de imortalização do procurador federal ocorreu na noite de ontem, na área externa da casa de Augusto dos Anjos, no Centro de João Pessoa.
Em discurso de mais de uma hora, Messias caracterizou-se como um ser na “faixa da mediania” sem, contudo, ser medíocre. Ele incluiu a discrição e equilíbrio como atributos pessoais que leva à academia para potencializar a diversidade da instituição. “A riqueza de uma casa como esta advém exatamente da multiplicidade dos talentos e formações de seus membros. Não somos um rebanho, nem temos dono. Mas que o sagrado exercício da variedade se dê sempre num ambiente de polido respeito à alteridade e à ética”, disse.
Entre muitas memórias, o novo imortal da APL lembrou que seus pais não tinham tempo para a leitura de ficção. Eles liam apenas jornais. “Os desafios da realidade lhes bastavam”, concluiu. Mesmo assim, ele e a irmã encontraram a literatura. “Tenho sido há mais de 50 anos um simples leitor e um leitor simples. Não um crítico, um erudito que busca nos livros mais a decifração do que o prazer. Não tenho lido como quem estuda, pois isso compete aos professores”, afirmou.
Autor de “O Redator de Obituários” (2022), Messias publicou também “A Medida do Possível — e outros poemas da aldeia” (2001), citado no seu discurso. Além disso, publica suas produções em jornais e blogs.
O escritor foi recepcionado pelo acadêmico Hildeberto Barbosa Filho. Os dois se conhecem desde a década de 1970. “Quando fomos alunos do curso de Ciências Jurídicas e Sociais da UFPB [Universidade Federal da Paraíba]. Estudantes, vivemos tempos tensos e intensos, pois a história nos reservou um período sombrio, um regime duro e discricionário”, ressaltou Barbosa sobre o contexto da época. Ele lembrou também que outros integrantes da mesma turma são membros da instituição.
A cadeira 24 ficou vaga com a morte do escritor e político Evaldo Gonçalves de Queiroz, vítima de insuficiência respiratória em 18 de janeiro deste ano. Na eleição para sucedê-lo, Messias foi candidato único e obteve 34 votos dos membros da instituição. O patrono do assento é Pedro Américo; o fundador, Horácio de Almeida. Bacharel em Direito pela UFPB, o novo imortal trabalhou na instituição que o formou profissional, como procurador federal, por mais de 20 anos.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 3 de setembro de 2025.