Investigado pelo crime de estupro de vulnerável, o médico pediatra Fernando Paredes Cunha Lima negou todas as acusações durante depoimento prestado, ontem, na Delegacia de Repressão aos Crimes contra Infância e Juventude, em João Pessoa. O depoimento, que durou cerca de uma hora, foi conduzido pela delegada Isabel Costa, da Polícia Civil.
“Ele manifestou seu direito à autodefesa e deu sua versão sobre as denúncias, e respondeu tudo o que foi perguntado. Todos os elementos de convicção que foram colhidos são muito fortes e estarão demonstrados através do relatório final”, explicou a delegada.
Segundo ela, a previsão é que a finalização do relatório e o encaminhamento ao Poder Judiciário sejam feitos até a próxima semana, bem antes do prazo, que é de 30 dias. “Como são muitos elementos de informação colhidos, será necessária uma análise mais profunda, mas estamos trabalhando para fazer o mais rápido possível”, complementou.
Na saída da delegacia, Fernando Cunha Lima preferiu não comentar sobre a investigação e nem sobre o que foi falado durante seu depoimento. Já o advogado Aécio Farias, que assumiu o caso recentemente, afirmou que ainda não tem embasamento para falar sobre o assunto, mas que vai se pronunciar assim que analisar todos os documentos do processo. “Ainda vou tomar pé do processo. É um processo em segredo de Justiça, que eu vou ler com calma. E vamos à luta”, destacou.
Em nota emitida na última quinta-feira (8), os advogados Lucas Mendes Ferreira e Igor de Lucena Mascarenhas ressaltaram que as acusações não procedem e que o médico “é pediatra há mais de 50 anos e nunca teve qualquer fato que desabonasse sua conduta, pessoal e profissional”.
Após a primeira denúncia, realizada no dia 25 de julho, Fernando Cunha Lima foi intimado a comparecer à Delegacia da Infância e Juventude, na semana passada, para esclarecer os fatos. Porém, enviou atestado médico e não compareceu. O depoimento foi passado para a última quinta-feira, mas, segundo os advogados de defesa, ele passou mal e foi internado no Hospital Alberto Urquiza Wanderley (Hospital Unimed), em João Pessoa, não comparecendo à delegacia, novamente. Ontem, após ser intimado novamente, prestou seu depoimento na presença dos advogados de defesa. Mais cedo, no início da tarde, a Polícia Civil havia pedido a prisão preventiva do médico. A solicitação ainda deve ser enviada ao Ministério Público da Paraíba (MPPB) e caberá à Justiça acatá-la.
Denúncias formais
Até ontem, seis famílias já haviam formalizado denúncias de abusos contra Fernando Cunha Lima. Entre elas, a mãe da menina de nove anos, que fez a primeira acusação formal, e duas sobrinhas dele. De acordo com o advogado das vítimas, Bruno Girão, há previsão de formalização de mais uma denúncia.
“Cerca de 20 famílias já me procuraram para relatar novos fatos. No entanto, essas denúncias ainda não foram formalizadas. Estamos trabalhando para reunir mais evidências e testemunhos que possam fortalecer o caso contra Fernando Cunha Lima. Por isso, é muito importante que as vítimas prestem queixa, embora saibamos que é um momento muito difícil para todos”, avalia.
Segundo os relatos das vítimas, crianças entre quatro e 13 anos, o médico costumava agir durante o atendimento e a realização de exames, no próprio consultório, “aproveitando-se da confiança que as mães tinham sobre ele como médico pediatra e, em tese, renomado”, detalhou Bruno Girão.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa no dia 11 de agosto de 2024.