Faltavam ainda cerca de uma hora e meia para a inauguração da nova Praça de Iemanjá, no Cabo Branco, quando a umbandista Mãe Graça, do terreiro de Oxum Beira--mar, no bairro João Paulo II, chegou. Uma das primeiras a estar ali, ela trazia rosas brancas e colocou uma guia azul por entre as brechas dos vidros que agora circundam a imagem. “Iemanjá, para minha vida, é um tudo. Sem ela, sou um barco sem correnteza. Eu espero que o povo respeite muito essa estátua porque foi muito difícil para a gente, sofremos porque ela não estava aqui. Tenho 70 anos de idade e me considero iluminada pela minha mãe Iemanjá”.
Ela e mais vários outros praticantes de religiões de matriz africana, ao lado de autoridades, como o prefeito Cícero Lucena, secretários de estado e do município, além de vereadores, estiveram presentes, ontem, na inauguração da Praça de Iemanjá, localizada no Cabo Branco, próximo à descida do Altiplano pela beiramar. Vandalizada em 2013 e 2016, quando teve a cabeça e as mãos decepadas, voltando a ser revitalizada por um morador local, a imagem agora se encontra posta sobre uma base com redoma de vidro, além de contar com um novo espaço ao redor: local iluminado e com espaço para visitação e realização de cultos de religiões de matriz africana. Cerca de R$ 663 mil foram investidos na obra.
O prefeito Cícero Lucena refletiu sobre a união de governo nas mais diversas instâncias, junto à população de terreiro para pensar a execução do que seria o novo espaço, e ressaltou o respeito ao espaço não apenas no sentido turístico, mas especialmente religioso. Além disso, apresentou novidades. “Queira Deus, queira Iemanjá que essa paz [entre religiões] possa ser respeitada. Eu ouvi o pedido da questão de segurança. Nós lançamos na sexta-feira o João Pessoa SmartCity, com três mil câmeras pela cidade. Vou programar para colocar câmera com reconhecimento facial [aqui] para proteger o espaço e poder permitir a segurança para vocês não só na preservação, mas também na prática dos cultos”, discursou Lucena.
O intuito foi preservar a historicidade da cidade, conforme colocou a coordenadora de Promoção da Igualdade Racial, Carla Uedler, que esteve presente na comissão sobre o projeto. “É um momento sublime, muito importante para nós, povos de terreiro, umbanda, candomblé. Que todos nós possamos entender o significado dessa praça e dessa imagem. Iemanjá está no coração de todos nós”, ressaltou.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 4 de setembro de 2025.