Pela primeira vez, João Pessoa sedia o Congresso Brasileiro de Academias Estaduais de Letras. Com a inteligência artificial como protagonista, a abertura do evento ocorreu na noite de ontem, no Centro Cultural São Francisco, região central da capital paraibana.
Com a intenção de reunir as academias estaduais para discutir projetos comuns e seus rumos, o congresso segue até o próximo domingo (26). Na conferência de abertura, “AcademIA”, o membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) Joaquim Falcão levou a inteligência artificial para o centro da quadricentenária Igreja de São Francisco.
Na visão dele, essa tecnologia simuladora da cognição humana redirecionou a sociedade para um estágio em que as perguntas são mais importantes que as respostas. E as academias devem se apropriar desse leque de possibilidades ao intensificar o trabalho em rede. “Estamos vivendo a era do Sócrates. Para responder, ele perguntava. Essa era da incerteza é muito rica para nós, porque podemos imaginar. E aí, abrimos caminho para as nossas academias”, propôs.
Depois de sua exposição, Falcão foi agraciado por um quadro do artista plástico paraibano Flávio Tavares, inspirado num engenho de José Américo de Almeida. “Sem inteligência artificial”, exclamou Tavares sobre o processo de produção da obra. A cantora lírica paraibana Adriana Cabral também foi uma das atrações artísticas da cerimônia.
O presidente do Fórum Brasileiro de Academias Estaduais de Letras (FaleBR), Henrique de Medeiros, defendeu mais integração entre as entidades do fórum e que suas ações tenham repercussão na sociedade. “A gente poder fazer com que a palavra, que é a primeira coisa que a gente precisa pensar em relação ao relacionamento humano e ao pensamento, possa se desenvolver e ter força”, disse.
Na abertura, o titular da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), Pedro Santos, representou o governador João Azevêdo. Ele reforçou o incentivo da gestão estadual a eventos que dão à capital o papel de vitrine do estado. “A gente tem um momento muito relevante do ponto de vista da produção cultural. Isso não está desassociado do bom momento que a Paraíba tem vivido. Aqui em João Pessoa, a gente tem apoio de várias experiências de apoio do Governo do Estado para eventos que buscam atrair a atenção do Brasil e do mundo”, comentou. Representantes das academias de vários estados brasileiros estão na capital para o congresso.
De acordo com o presidente da Academia Paraibana de Letras (APL), Severino Ramalho Leite, a candidatura de João Pessoa para sediar o evento nacional ocorreu na terceira edição do congresso, realizada em Belém do Pará, em agosto de 2024. Para a ocasião, a Academia Paraibana de Letras havia programado a concessão do título de sócio-honorário ao governador da Paraíba, João Azevêdo. A entrega, porém, foi adiada em razão de licença do chefe do Executivo estadual.
Show dá início à Festa Literária do Extremo Oriental
Sob a luz do Congresso Nacional de Academias Estaduais de Letras, a Festa Literária do Extremo Oriental (Flor) abriu-se ao som de música paraibana para centenas de pessoas que estavam no adro da Igreja de São Francisco na noite de ontem.
Com os acordes dos metais da Banda 5 Agosto, Renata Arruda e Juzé levaram um repertório com identidade estadual para o palco da festa, que também deve atrair fãs de cinema e obviamente literatura até o próximo domingo (26).
A educadora física Ruth Cordeiro fez questão de marcar presença na abertura da Flor por ser fã de Renata Arruda. “Acompanho a carreira de Renata, mas nunca tinha visto o cenário com orquestra e Renata cantando. Me deu curiosidade. Tô adorando. Acho esse espaço belíssimo. Deveria ser mais explorado com outros eventos culturais para outras pessoas conhecerem”, falou.
O diretor-executivo da Fundação de Cultura de João Pessoa, Marcos Alves, disse que a Flor é o resultado de um trabalho cumulativo de um grupo de artistas com atenção e apoio dos poderes públicos. “A Flor é uma feira desejada e sonhada há muitos anos pelo grupo Sol das Letras. Talvez seja o grupo com maior presença e intensidade nesse ambiente literário há quase 15 anos. Localizo a Flor nesse contexto geral que a cidade de João Pessoa e a Paraíba vivem”, comentou.
O secretário de Cultura, Pedro Santos, ressaltou que a gestão estadual acompanha esse crescente movimento literário em todas as regiões. “Estamos aqui nesse jovem festival, mas também a gente está no festival mais antigo da Paraíba, a Flibo, Feira Literária de Boqueirão. A gente também está na Flic, a Feira Literária Internacional de Campina Grande, na Fliba, a Feira Literária da Barra de Mamanguape. Estamos na Flipb, que são as feiras literárias integradas da Paraíba. A Secretaria de Cultura está atenta a esse movimento e tem contribuído para que isso tome proporção e cada vez mais paraibanos se interessem por esse universo”, declarou.
Homenagem
Na manhã de domingo, a diretora-presidente da Empresa Paraibana de Comunicação (EPC), Naná Garcez, será homenageada. “Esse espaço que me tem sido dado, de estar na presidência da EPC, a convite do governador, se engaja no momento em que a presença feminina está mais efetiva nos cargos de direção, na cultura, na política. Quando a mulher se movimenta em uma direção, ela vai puxando não só outras mulheres, como também mudanças econômicas, sociais e comportamentais”, afirmou.
A homenagem será logo após o lançamento do livro “Nossas Mulheres na Academia Paraibana de Letras (APL)”. A produção tem o texto de apresentação de Garcez. “Tive o privilégio de escrever a apresentação do livro ‘Nossas Mulheres’. É um livro bem especial, porque são mulheres escrevendo sobre outras mulheres representativas em várias épocas”, explicou.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 24 de Outubro de 2025.