A Paraíba perdeu, na tarde de ontem, um dos principais artistas do forró do estado. O cantor e compositor Biliu de Campina, nascido Severino Xavier de Souza, faleceu aos 75 anos em sua terra natal, Campina Grande. Ele estava internado, desde 24 de junho, no Hospital de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes, devido a uma queda da própria altura. O velório iniciou-se na noite de ontem, no Teatro Municipal Severino Cabral, enquanto o sepultamento está marcado para as 16h de hoje, no Cemitério do Monte Santo.
Biliu de Campina iniciou a carreira artística em 1978. Desde então, lançou obras como os discos “Tributo a Jackson e Rosil”, “Forró um ano inteiro” e “Forró mesmo”; os CDs “Do jeito que o diabo quer”, “Forrobodologia”, “Se toque... no forró” e “Forrólogia”; e o DVD “Antes que o mundo se acabe”. O nome de seu primeiro disco, aliás, indica a influência de outra lenda da música paraibana em sua arte, como relatou o jornalista e crítico musical Zé Teles. “Biliu é dos últimos seguidores do estilo de Jackson do Pandeiro. E merecia mais destaque fora do universo do forró, o de vera”, afirmou em postagem publicada na rede social, na semana passada.
O cantor estava escalado para se apresentar no São João de Campina Grande, no dia 22 de junho, mas teve sua participação cancelada por questões de saúde. Sua última participação no evento, assim, aconteceu no ano passado, quando participou da abertura. A relação com os festejos juninos, contudo, vem de longa data. De acordo com Noaldo Ribeiro, no livro “Traquinagens liberadas de Biliu de Campina”, as festas de junho serviram como uma catapulta para sua visibilidade. “[Biliu] passou a chamar a atenção de jornalistas dos vários quadrantes do país. Seus shows passaram a ser requisitados em outras plagas. Mais que isto, tornou-se o queridinho de nativos e, principalmente, de turistas que para cá se dirigiam – ávidos para conhecerem O Maior São João do Mundo e assistir àquilo que simplesmente não existia em suas terras de origem”, conta Ribeiro.
A vida desse artista, autointitulado “O maior carrego do Brasil”, foi marcada por muita irreverência. Em seu livro, Ribeiro também rememora alguns “causos” contados a respeito do compositor, como a história por trás do primeiro sucesso internacional, a música “Pobres e Ricos”. Segundo Ribeiro, a canção teria nascido da tentativa de elaboração de um habeas corpus por Biliu, que também era advogado. O objetivo era defender um motorista que, supostamente, dirigiu embriagado e atropelou outra pessoa. A veia artística, porém, falou mais alto. O habeas corpus não vingou, mas a música lhe rendeu apresentações nos Estados Unidos e na Europa.
Repercussão
O falecimento de Biliu de Campina repercutiu entre representantes políticos do estado. O governador João Azevêdo, em sua rede social, prestou solidariedade a todos que, de algum modo, tinham relação com o artista. “Perdemos um dos grandes nomes da nossa música e da cultura popular. Figura marcante do nosso forró, Biliu, que carregava Campina no nome, ajudou a transformar a Rainha da Borborema na terra d’O Maior São João do Mundo e ficará marcado pra sempre na nossa história. Descanse em paz, mestre Biliu. Meus mais sinceros sentimentos aos familiares, amigos e fãs nesse momento”, postou.
Também por meio das redes sociais, a senadora Daniella Ribeiro (PSD) manifestou seu luto. “Perdemos Biliu de Campina. Um grande artista que dedicou a vida à nossa cultura através da música. Composições que jamais serão esquecidas pela originalidade, humor e tradição. Fez história, construiu um rico legado. A Paraíba chora a sua partida. Valeu por tudo, Biliu”, escreveu a parlamentar.
Já o prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima, decretou luto oficial de três dias na cidade e fez um convite a honrar o legado do cantor. “Que possamos, nestes dias de luto, refletir sobre a importância de preservar e valorizar nossa cultura, assim como Biliu sempre fez”, instou o gestor municipal.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 09 de julho de 2024.