Notícias

Imprensa de luto

Morre o jornalista Wellington Farias

publicado: 17/10/2023 08h54, última modificação: 17/10/2023 09h03
Repórter deixa legado na comunicação paraibana; enterro será, hoje, às 14h30, no cemitério Parque das Acácias
memórias_a_união-wellington_farias-foto-edson_matos  (44).jpg

Wellington Farias, querido entre seus companheiros, é citado como ético, profissional e bem humorado - Foto: Edson Matos

por Iluska Cavalcante*

O jornalista Wellington Farias morreu ontem, em João Pessoa, no Hospital Napoleão Laureano, vítima de um câncer avançado, aos 67 anos. O comunicador descobriu a doença em 2019, que teve início na bexiga e se alastrou pelo corpo. Atualmente, ele estava em cuidados paliativos. O velório teve início ainda na noite de ontem, às 22h, no Parque das Acácias, em João Pessoa. Já o sepultamento está marcado para às 14h30 de hoje, no mesmo local.

O repórter, que começou sua carreira na Rádio Tabajara, era, por unanimidade, querido entre seus companheiros de profissão. Ética, profissionalismo, competência e muito bom-humor foram algumas das características citadas por aqueles que conviveram com o comunicador.

Sua esposa, a jornalista Eloise Elane, com quem conviveu por 32 anos, contou sobre os bons momentos que viveu ao lado do marido. Os dois compartilharam a mesma profissão e viveram situações inusitadas, como a competição por furos jornalísticos enquanto trabalhavam em veículos diferentes, além da alegria de criar três filhos. “Foram 32 anos de convivência, filhos, e uma vida muito rica, com todos os problemas que casais têm, mas muito rica de conhecimento entre a gente. Tínhamos o hábito de leitura, o costume de pegar um livro e a família toda ler um livro só, no mesmo momento. Memórias que formamos maravilhosas em nossas vidas como jornalistas. Tínhamos os nossos embates também, ele no Correio e eu no Norte e a gente cobrindo política e disputando os furos”, comentou Eloise.

Rubens Nóbrega, definido como amigo-irmão de Wellington Farias, comentou que além de ser um grande jornalista ele também era um grande músico, chegando a abrir uma escola de música em Serraria, sua cidade natal, para ensinar a pessoas vulneráveis do campo. “Ele formou, pelo menos, 300 violonistas. E depois aprendeu trompete, um instrumento de sopro, para poder ensinar. Isso porque um aluno disse que tinha o sonho de aprender um instrumento de sopro. Para se ter uma ideia do espírito, era um cara que se doava muito às pessoas”.

"Wellington veio do analógico, fazia matéria na máquina de escrever. A despeito disso, ele não era nada jurássico porque, ao longo do tempo, ele foi um dos primeiros a ter um blog" -  Adriana Bezerra

A jornalista Cleane Costa lembrou do incentivo que recebeu de Wellington no começo da sua carreira. “Muito triste, mas devo testemunhar que Wellington Farias foi uma das pessoas que me deu o maior apoio quando entrei como estagiária n’O Norte, quando todos olhavam atravessado para os estudantes de Comunicação, pois pertencia à primeira turma e os jornalistas ditos ‘do batente’ nos rejeitavam, mas ele sempre demonstrou muito carinho e receptividade”, disse.

Já o jornalista Luiz Carlos lembrou que seu relacionamento com Wellington começou ainda na adolescência, quando estudavam música juntos. “Íamos assistir aula a pé, cruzando as ruas de Jaguaribe. Wellington Farias foi quem me incentivou a entrar para o jornalismo, contando suas histórias, dando seus exemplos. Foi um repórter singular com uma obcecação: ver o fato que nenhum colega enxergara. Contou isso em detalhes no depoimento que deu para o Memórias A União”.

Além disso, foi em "A União” que Wellington concedeu a sua grande última entrevista, em julho deste ano, para o projeto Memórias A União. Durante a conversa, o jornalista lembrou seus momentos durante a sua trajetória no jornal, local responsável pelos seus primeiros passos na profissão.

“É o seguinte, eu tinha uma característica: não gostava da mesmice. Gostava sempre de fazer uma coisa diferente e foi o que compensou a minha deficiência cultural: o faro de repórter. Procurava alguma coisa diferente, por exemplo, eu gostava de fazer entrevistas boas e eu me lembro que a primeira entrevista de Elizabeth Teixeira, que ninguém sabia nem quem era, fui eu que fiz por indicação de João Manoel de Carvalho para quem eu ligava de vez em quando pedindo uma sugestão de uma entrevista”, lembrou Wellington Farias, em entrevista ao Memórias A União, à época.

A jornalista Adriana Bezerra contou que após trabalhar ao lado de Wellington, se tornou uma de suas amigas mais próximas. Apesar dele ter iniciado a sua carreira ainda nos primórdios do jornalismo na Paraíba, sempre se atualizou e foi uma das primeiras pessoas a terem um blog no estado.

“Wellington veio lá do analógico, fazia matéria na máquina de escrever. A despeito disso, ele não era nada jurássico porque, ao longo do tempo, ele foi um dos primeiros a ter, por exemplo, um blog. Ele foi um dos primeiros jornalistas a lidar com a internet aqui na Paraíba”, contou Adriana.

Além da parceria profissional, ela contou que desenvolveu uma amizade com Wellington, de quem testemunhou generosidade mesmo em meio à doença. “Como pessoa ele era único. Um coração muito bom. Ano passado eu estava em Brasília, aí ele ficou tão animado porque eu fui fazer campanha lá que disse: ‘estou rezando todas as noites para que você fique aí’. [...] Ele fazia isso, dizia que ia rezar por mim, mesmo com essa doença toda”.

Wellington descobriu a doença em 2019. Inicialmente era um câncer na bexiga que acabou atingindo outros órgãos. Após várias cirurgias, ele perdeu os dois rins e precisava fazer hemodiálise semanalmente. Atualmente, a doença tinha chegado a metástase e ele fazia apenas tratamentos paliativos, para tratar das dores. Segundo a sua esposa, ele deu entrada no Hospital Laureano na madrugada de ontem, após sentir fortes dores. Por volta das 17h ele não resistiu e veio a óbito.

Sobre Ele

Segundo informações publicadas pela Associação Paraibana de Imprensa (API), Wellington Farias foi um dos mais respeitados e combativos profissionais da imprensa paraibana, com uma carreira de mais de 40 anos dedicada ao jornalismo. Ele trabalhou nos jornais O Norte e Correio da Paraíba, onde se destacou pela sua capacidade de apuração, análise e crítica dos fatos políticos e sociais do estado. Ele também fez parte do maior programa de audiência do rádio paraibano, o Correio Debate, transmitido pela 98 FM. Neste programa, ele recebeu o apelido que foi abraçado pelo público, o “Língua de Tesoura”, por suas críticas contundentes e bem-humoradas sobre a política da Paraíba.

Além disso, o jornalista Jorge Rezende relatou que Wellington marcou a imprensa paraibana no início dos anos de 1990, quando foi o único jornalista do Estado a cobrir a ECO-92. No período em que passou no Rio de Janeiro, aproveitou a oportunidade e realizou uma série de reportagens exclusivas (pingue-pongue), editadas por João Costa no Caderno Fim de Semana, com personalidades brasileiras, a exemplo de Oscar Niemeyer, Moreira da Silva entre outros.

Ele era casado com a jornalista Eloíse Elane e era pai de três filhos, avô de uma neta. Seu maior orgulho era ser natural de Serraria, cidade do Brejo paraibano, em que ele fazia questão de dizer ao vivo no rádio ou em qualquer roda de conversa que Serraria era o centro do universo. Ele também amava música, tocava violão com excelência e saxofone.

Completou 67 anos de idade no início do mês passado. Além de jornalista, Wellington era um amante de música e se dedicava a vários instrumentos, como violão clássico, saxofone e trompete. Chegou a fundar uma escola em Serraria para ensinar música gratuitamente a alunos da cidade.

Notas

A Associação Paraibana de Imprensa (API) emitiu uma nota de pesar lamentando a morte do jornalista. “A API se solidariza com a família, aos amigos e aos colegas de profissão de Wellington Farias, e reconhece a importância e o legado que ele deixou para o jornalismo paraibano. Ele deixará saudades e um exemplo de profissionalismo, ética e compromisso com a verdade”, diz nota.

Presidente da Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB), Adriano Galdino, em nome de todos os deputados e servidores da Casa, publicou uma nota de pesar pela morte do jornalista. “Neste momento de dor, quero me solidarizar com todos os familiares e amigos pela sua perda e que Deus possa acalentar o coração de todos neste momento tão difícil”, destacou Adriano Galdino.

A Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP) também lamentou a morte do jornalista em uma nota de pesar. “Em vida, Farias se transformou em sinônimo de bom jornalismo. Comprometido com a informação de qualidade, virou referência para toda uma geração de comunicadores paraibanos. Era dono de raciocínio rápido e de opiniões bem embasadas”.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 17 de outubro de 2023.