O restaurador e museólogo português Rodrigo Bettencourt da Câmara esteve, ontem (25), em Campina Grande, no Museu de Arte Popular da Paraíba (Mapp), para vivenciar um novo papel dentro do espaço expositivo: o de artista e expositor. Ele inaugurou sua mostra “A quarta parede”, composta por fotografias em filmes analógicos que registram os bastidores da montagem e desmontagem de obras de arte em museus europeus.
Inspirando-se em um termo do teatro que designa a quebra da barreira imaginária entre artista e público, Rodrigo explica que sempre enxergou no processo — muitas vezes exaustivo e tenso — de montar grandes galerias de arte uma forma de expressão artística em si.
“A ideia surgiu naturalmente, porque sou profissional de museu. Sou conservador, restaurador e trabalho com coleções há mais de 30 anos, com especialidade em arte contemporânea. Estar presente em montagens e instalações faz parte da minha rotina. Ao longo dos anos, percebi uma estética própria nesse processo e senti vontade de compartilhar um pouco da vida das pessoas que estão nos bastidores, que trabalham intensamente e raramente são vistas. Tudo começa com paredes vazias, que pouco a pouco vão sendo preenchidas. Achei interessante registrar e relatar essa vivência de alguma maneira”, contou o expositor.
Para realizar os registros, Bettencourt recorreu a câmeras analógicas e a uma técnica de longa exposição. Segundo ele, esse recurso possibilitou captar tempo e espaço de uma forma impossível de alcançar com equipamentos digitais modernos.
“Algumas fotografias levaram tanto tempo para serem feitas que as pessoas simplesmente desaparecem da imagem. Não há edição posterior: é um efeito natural do processo de formação da fotografia. Usei duas câmeras, uma panorâmica e uma Mamiya, que considero uma máquina extraordinária”, explicou.
Nas imagens, as grandes obras que costumam ocupar o centro das atenções em museus — como as de Piet Mondrian e Andy Warhol — aparecem em segundo plano. Para Rodrigo, o verdadeiro protagonismo está nas pessoas e na intensa movimentação por trás da montagem e desmontagem das exposições em espaços como o Museu de Luxemburgo, em Paris, e o Centro Cultural de Belém (CCB), em Portugal.
Para José Pereira, diretor do Mapp em Campina Grande, a abertura da exposição na cidade é motivo de orgulho para o equipamento cultural, além de incentivar a reflexão de quem visita. “É uma abordagem extremamente interessante. A ideia da quarta parede é profundamente reflexiva para falar dos bastidores e das mostras que ele acompanhou. Podemos dizer que há algumas pequenas semelhanças com o nosso trabalho aqui, trazendo a ideia de que há vida e há história nos bastidores de uma montagem, assim como o que acontece depois que uma exposição é finalizada”, pontuou.
Programação
A exposição “A quarta parede” estará aberta ao público até o dia 24 de outubro, sendo a entrada franca. O Mapp funciona de terça a sexta-feira, das 10h às 19h, e aos sábados e domingos, das 14h às 19h. A mostra faz parte da programação do calendário nacional da Primavera dos Museus — iniciativa realizada pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram).
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 26 de setembro de 2025.