“Um excelente contador de histórias, imerso numa realidade pouco panfletária, mas cheia de conflitos”. As palavras são da professora e doutora em Letras, Francielly Alves, e resumem bem a relevância do paraibano José Lins do Rego, autor de “Menino de Engenho”, “Moleque Ricardo”, “Riacho Doce”, entre outros títulos. Com mediação do jornalista e gerente executivo da Editora A União, Alexandre Macêdo, Francielly abordou o assunto durante a palestra “A importância da Obra de Zé Lins”, realizada ontem no rol do museu José Lins do Rego, no Espaço Cultural, dentro da programação da 42a Semana Cultural Zé Lins. Neste ano, o evento celebra o 123o aniversário de nascimento do escritor.
Além de analisar o contexto histórico em que as obras são escritas, Francielly destacou a forma como José Lins detalhou os personagens, especialmente as mulheres. “Mesmo em um espaço patriarcal, ele traz essas mulheres para a obra. Dentro do silenciamento delas, elas têm funções importantes de regulação do homem, da família e, até, dos engenhos”, ressaltou.
Para ela, conhecer José Lins do Rego é sair do lugar comum e mergulhar em um universo pouco explorado. “Esse espaço de debate já é um reflexo de que sua obra é inquietante e abre espaço para muitos questionamentos”, analisou, antes de ser complementada por Alexandre Macêdo. “A questão dele é justamente esta: como é que eu consigo captar essas luzes, como é que eu vou iluminar uma realidade não confortável, inclusive. Tem vários sujeitos que estão ali em uma espécie de desconexão e que ganham espaço em suas obras como protagonistas”.
Após a palestra, a docente do curso de História da UFPB, Regina Rocha, aproveitou a ocasião para pontuar um outro aspecto das obras de José Lins: a memória afetiva e histórica. “Nas suas obras, a gente consegue acompanhar o ritmo de transição de toda a estrutura social dos senhores de engenho do Nordeste. É a história rica, que nos traz para uma realidade importante, por meio dos personagens e da forma como tudo é narrado e detalhado”, pontuou.
José Lins do Rego Cavalcanti nasceu no dia 3 de junho de 1901, no Engenho Corredor, no município de Pilar, na Paraíba, e faleceu em 12 de setembro de 1957 no Rio de Janeiro. O escritor se consagrou como romancista da decadência dos senhores de engenho e como mestre do regionalismo. Em 1953, publicou seu último romance: Cangaceiros. Tornou-se membro da Academia Brasileira de Letras em 1956, mesmo ano em que publicou “Meus Verdes Anos” (livro de memórias). Morreu aos 56 anos, vítima de um problema hepático.
Semana Cultural
A Semana Cultural Zé Lins foi iniciada na última segunda-feira (3), com a abertura da exposição “Fotos, Cartas e Livros de Zé Lins”. O acervo ficará disponível para visitação até domingo (9). A programação inclui, ainda, o relançamento do livro “Dois Estudos”, do escritor, professor e subprocurador-geral no Ministério Público Federal (MPF), Eitel Santiago, no rol do museu. Mestre em Direito Constitucional, Eitel ocupa a cadeira número 32 da Academia Paraibana de Letras.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 05 de junho de 2024.