Buscar soluções, para as cidades, que aliem elementos da natureza a técnicas de engenharia convencionais é a premissa da infraestrutura verde- -cinza. Essa estratégia, útil para lidar com as alterações no clima, é o foco do Ateliê Interdisciplinar sobre Mudanças Climáticas, projeto de ensino da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), desenvolvido em parceria com a organização não governamental Conservação Internacional (CI-Brasil). As atividades seguem até a próxima sexta-feira (6) e são voltadas para estudantes dos cursos de Arquitetura e Urbanismo, Engenharia Civil e Engenharia Ambiental, os quais visitaram, na tarde de ontem, a comunidade São Rafael, em João Pessoa, para conhecer os desafios enfrentados pelos moradores.
De acordo com a arquiteta Alice Piva, que atua como coordenadora da Comunidade de Prática em Infraestrutura Verde- -Cinza da CI-Brasil, o ateliê tem a proposta de estimular os estudantes a desenvolver projetos baseados em uma temática específica — neste ano, as mudanças no clima. “A gente tem o objetivo de popularizar boas formas de fazer adaptação climática. E a melhor maneira é preparar a próxima geração de pessoas que vão construir as cidades, que são os arquitetos, urbanistas e engenheiros, para lidar com esses problemas”, explica.
A formação dos estudantes, portanto, é a principal finalidade. Para a professora de Arquitetura e Urbanismo da UFPB, Carolina Oukawa, isso é fundamental no cenário atual dos cursos de graduação da UFPB, que não incluem, em sua grade curricular, o tema das mudanças climáticas. “A estrutura da universidade não permite que a gente se integre: cada professor fica com a sua disciplina, cada estudante fica no seu período. Então, o ateliê vem como uma oportunidade de experimentação nesse sentido. Aqui, a gente está pensando outras possibilidades de prática pedagógica e é importante ter essa abertura e reconhecer que a gente não sabe tudo”, afirma.
O coordenador de projetos do Instituto Voz Popular, Daniel dos Santos, é residente de São Rafael e apresentou aos estudantes as iniciativas sustentáveis desenvolvidas na região e os principais dilemas enfrentados pela comunidade. Entre esses problemas, destaca-se o processo de remoção dos moradores cujas casas são inundadas com as enchentes do Rio Jaguaribe. A remoção dessa parcela é apoiada pela população local, mas, ao mesmo tempo, deve afetar residências mais distantes do curso d’água. “A nossa briga, hoje, é para garantir que as casas que nunca alagaram nem tiveram processo de deslizamento permaneçam na comunidade e tenham melhorias de infraestrutura. E o ateliê foi muito bacana ao pegar esses estudantes, trazer para cá e dizer: ‘É importante o que vocês estão aprendendo na universidade, mas, a partir de uma ação prática que está acontecendo na cidade de João Pessoa, vocês, como futuros profissionais, trabalharão em projetos como esse e não vão fazer a mesma coisa’”, defende.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 04 de junho de 2025.