Onze comunidades quilombolas participaram, ontem, do Aquilomba Paraíba, projeto de sustentabilidade e inovação social do Tribunal Regional do Trabalho da 13a Região. O objetivo é fortalecer essas populações da Paraíba, por meio da criação de espaços e inovação social com foco no desenvolvimento de novas tecnologias sociais, mostrando as vivências daquela região, enfatizando toda a potencialidade do quilombo. Os dois primeiros colocados de cada categoria ganharam um notebook.
De acordo com a coordenadora da Assessoria de Projetos Sociais e Projeto dos Direitos Humanos do TRT13 (Aspros), Izabelle Aline Donato Braz, 81,81% das participantes foram mulheres, o que corresponde a 27 pessoas, dos 33 selecionados.
O Aquilomba foi dividido em três etapas: maratona de perguntas objetivas, redação e produção de um vídeo de até cinco minutos. Para que isso fosse possível, a coordenadora Izabelle Aline Donato, explica que houve um letramento digital diretamente com as comunidades. “Nós realizamos essas formações dentro de alguns quilombos e, em alguns casos, levamos os participantes para o Instituto Federal da Paraíba (IFPB) mais próximo. Porém, a maioria das atividades aconteceu dentro das próprias comunidades. Entramos nesses territórios com muito respeito e cuidado”.
Izabelle ressalta, ainda, que os moradores desenvolvam soluções para suas próprias comunidades. Além disso, segundo ela, os grupos sofreram por muito tempo com preconceito, enfrentando um racismo estrutural e ambiental. “Nas apresentações, estamos vendo exatamente isso: o quanto os órgãos públicos ainda não se fazem presentes dentro das comunidades quilombolas. Algumas enfrentam problemas com lixo e água, isso é importante para dar visibilidade e denunciar a falta de ação dos órgãos públicos”.
Quilombo Paratibe
Localizada na área rural do bairro Valentina de Figueiredo, a Comunidade Quilombola Paratibe, esteve presente no evento. Para Joseane Pereira da Silva, representante do seu povo, o projeto desenvolvido pelo TRT teve ganhos consideráveis para a região. “Muitos jovens puderam aprender e experimentar novos conhecimentos para lidar com as etapas das perguntas, redação e vídeo”.
A comunidade apresentou o projeto “Reconecta Rio Paratibe”, que luta para a limpeza do rio, que antes era usado pelos moradores, mas devido à poluição e ao avanço da urbanização, está poluído. “Éramos uma comunidade rural, mas que hoje está se tornando urbana, pelo crescimento da população e das construções. Isso traz impactos para nós, e seguimos sendo resistência de tudo o que nos foi deixado pelos nossos ancestrais e vamos lutar para passar para os filhos e netos”.
Quem foi Gertrudes Maria?
Relacionado à homenageada Gertrudes Maria, que leva o nome do troféu, foi uma mulher escravizada, que passou por um processo difícil para comprar sua liberdade. Mesmo após consegui-lá, ela foi de forma precarizada devido às condições da época, ela continuou trabalhando para seus antigos senhores e não conseguiu viver plenamente sua liberdade.
Gertrudes entrou na Justiça contra seus opressores, mas o processo não teve andamento, e a própria história acabou sendo um pouco apagada. Ela era paraibana e conhecida, na época, pois vendia frutas e hortaliças onde atualmente é o Centro de João Pessoa. Sua história é símbolo da luta pela liberdade e dos esforços para preservar a cultura e a dignidade das comunidades quilombolas.
Segundo a coordenadora da Aspros, Izabelle Aline Donato Braz, a escolha de Maria, é por ela representar uma mulher forte, que simboliza o empoderamento feminino, a resistência, identidade negra e quilombola.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 1° de agosto de 2024.