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reparação histórica

UFPB dá título de Doutora Honoris Causa a Luiza Erundina

publicado: 28/07/2025 08h21, última modificação: 28/07/2025 08h21
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Luiza Erundina recebeu, ontem, a mais alta honraria da instituição que a rejeitou há 56 anos | Foto: João Pedrosa

por Marcelo Lima*

Filha de agricultores analfabetos do Sertão da Paraíba, ela atravessou 400 km até a capital na corrida contra a pobreza. Estudou, tornou-se assistente social, mas quando iria assumir o cargo de professora universitária efetiva, a Ditadura Militar a impediu. Com desgosto, foi embora da sua terra. Mas isso não ficou por menos. Na mesma década em que viu uma inimiga ruir (a Ditadura Militar), a baixinha de Uiraúna foi elevada a prefeita de São Paulo, a maior cidade do país pela vontade do povo. 

A Universidade Federal da Paraíba (UFPB) fez questão de escrever uma reviravolta nessa história. Na noite de ontem, a paraibana e também deputada federal Luiza Erundina de Sousa (Psol-SP) recebeu a mais alta honraria da instituição que a rejeitou há 56 anos: o título de Doutora Honoris Causa.

A parlamentar rememorou o episódio amargo em 1969. Depois de uma reunião de enfrentamento com o então reitor da UFPB, Erundina pediu um documento no qual registrasse a recusa em contratá-la. O ofício está guardado até hoje por ela. “Confesso que preferia ter ficado no Nordeste, vivendo e trabalhando onde nasci e iniciei minha atuação profissional, interrompida por perseguição da Ditadura Militar, pelo ‘crime’ de apoiar o movimento em defesa da reforma agrária”, contou.

Em seu discurso, a reitora Terezinha Domiciano destacou que as universidades haviam “se convertido em instrumentos de perseguição”. Assim como a deputada federal, outros 34 professores e professoras foram penalizados pelo Regime Militar em 1969, segundo Domiciano. “Os processos eram sigilosos e sem direito à defesa”, enfatizou a autoridade máxima da federal paraibana. Estudantes também tiveram seu direito à educação negado.

“A Ditadura Militar impediu Luiza Erundina de lecionar na UFPB por considerá-la subversiva. Temos que resgatar essa história e homenagear aqueles que foram impedidos de lecionar e estudar”, reforçou a reitora.

Mas o momento não foi só de retratação histórica. A parlamentar defendeu a reforma agrária e conclamou os participantes da cerimônia a defender a soberania nacional nos dias de hoje. “Juntos e juntas, estamos determinados a ir às últimas consequências em defesa da soberania nacional, construída por sangue, suor e lágrimas do povo brasileiro”, declarou em referência à ameaça de taxação em 50% nos produtos brasileiros vendidos aos Estados Unidos por motivos políticos.    

Trajetória

Natural de Uiraúna (distrito Vila Belém), Erundina é assistente social formada pela UFPB, em 1966. Entre 1968 e 1969, deu aulas como temporária na instituição. Após concluir um mestrado em Ciências Sociais, em São Paulo, ela ingressaria como professora no Departamento de Ciências Sociais da UFPB, em 1969, se não fosse a perseguição do Regime Militar.

Sem emprego por aqui, ela resolveu engrossar as fileiras de migrantes para São Paulo. No maior município brasileiro, foi aprovada em concurso público do então INPS (Instituto Nacional de Previdência Social) e da própria prefeitura, onde atuou como assistente social nas periferias.

Em 1988, Erundina foi a primeira mulher eleita prefeita no município de São Paulo. Sua gestão começou em 1o de janeiro de 1989 e foi encerrada em 31 de dezembro de 1992. A paraibana levou para o Executivo municipal sua experiência como vereadora e deputada estadual.

No Governo Federal, foi  ministra-chefe da Secretaria de Administração Federal no governo Itamar Franco. Hoje, aos 90 anos, está no sétimo mandato consecutivo como parlamentar na Câmara dos Deputados.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 26 de julho de 2025.