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Mobilidade urbana

A rotina do trânsito lento na capital

publicado: 03/10/2023 08h50, última modificação: 03/10/2023 08h50
Motoristas reclamam de demora nos deslocamentos não só entre os bairros de JP, mas na Região Metropolitana
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Segundo os motoristas, os engarrafamentos também estão entre os fatores que mais interferem nesse tempo no trânsito - Foto: Roberto Guedes

por Juliana Cavalcanti*

“O número de pessoas com veículos pela cidade de João Pessoa aumentou muito, mas a infraestrutura das ruas ainda não evoluiu o suficiente para comportar tantos veículos. Ou seja, são mais carros e motos no município, mas a estrutura das vias não evoluiu o suficiente para acompanhar essa mudança. Com isso, o trânsito tornou-se muito mais lento”. A crítica é do vendedor Felipe Dantas que faz atividades fora da empresa, enfrentando o trânsito em diferentes bairros da capital. Para ele, a atual demora para chegar em qualquer destino no município pode ser justificada pelo aumento do número de veículos nas vias, fazendo com que cada vez mais condutores percam tempo, especialmente em horários de pico.

Em João Pessoa, a demora para chegar aos locais fazem parte da rotina dos moradores de diferentes bairros, especialmente os da Zona Sul, como Bancários, Valentina de Figueiredo e Mangabeira, mas também incluem áreas como a Ilha do Bispo, Alto do Mateus, Bessa e alcançam a Região Metropolitana.

Os engarrafamentos também estão entre os fatores que mais interferem nesse tempo no trânsito, conforme explica Alberto Marinho, proprietário de uma oficina mecânica no centro da capital e morador de Santa Rita, na Região Metropolitana. “Quando o trânsito está fluindo, o normal seria um trajeto de até 25 minutos e raramente 30 minutos, mas já gastei mais de uma hora devido a problemas na rodovia, como congestionamento ou estrada interditada”, conta.

Ao se deslocar pelos bairros de João Pessoa percebe-se que esse maior tempo no veículo é prejudicial para o trabalho. Segundo Alberto, o trânsito na cidade está piorando, pois o fluxo de veículos nas ruas está aumentando, tornando essa situação ainda mais complicada. Por essa razão, foi preciso elaborar estratégias para “fugir” da lentidão. “A gente procura ruas alternativas para tentar chegar mais rápido. Às vezes tem alguma rua com menos trânsito e procura usar essa via na tentativa de perder menos tempo no trânsito”, descreveu.

Já Victor Hugo mora no Funcionários II e afirma que em horários de maior movimentação, realiza trajetos de 30 minutos para os bairros da Zona Sul ou para o centro. Esse tempo reduz para 20 minutos se ele sair mais cedo de casa. “Tudo depende do horário”, comentou.

"As principais razões que definem os tempos de deslocamento são de ordem técnica" Nilton Pereira

A velocidade nas vias, os tempos dos semáforos, a quantidade de cruzamentos no trajeto, a intensidade do tráfego nas vias e o tipo e condições do pavimento (asfalto, paralelepípedo ou terra) estão entre os principais motivos para a perda de tempo no trânsito.

Dados coletados para o Plano Diretor de Mobilidade Urbana de João Pessoa apontam que os tempos médios de deslocamento para cada modo são: 19,2 minutos para transporte individual motorizado (carro e moto); 44,5 minutos para transporte público; 2,6 minutos para bicicleta e 20,4 minutos a pé.

De acordo com o especialista em mobilidade urbana, Nilton Pereira, definir uma média de tempo que uma pessoa perde por dia no trânsito depende do meio de transporte que ela usa. Outro aspecto destacado é que é possível quantificar o tempo que se “gasta” no deslocamento casa-trabalho ou casa-escola, mas esse tempo gasto é necessário para se poder realizar essas atividades.

Estacionamento também é um problema

Para o vendedor Felipe Dantas, além dos congestionamentos, João Pessoa hoje enfrenta uma grande dificuldade com relação aos estacionamentos porque os condutores geralmente não encontram vagas para deixar seus veículos, mesmo pagando taxas para isso.

“No Centro de João Pessoa, por exemplo, é muito difícil conseguir estacionamento. Passamos um bom tempo dando voltas pelas ruas e demoramos bastante até encontrar, mas geralmente não encontramos. Por isso, a gente acaba estacionando no local errado, apenas resolver algum problema rapidamente e ir embora”, relatou.

Possíveis soluções

Segundo o trabalhador autônomo, Gilberto Silva, as cidades de uma forma geral, enfrentam problemas de mobilidade urbana e em João Pessoa, os problemas são quase semelhantes aos de cidades maiores. “A estrada entre João Pessoa e Recife, por exemplo, é utilizada por quem vai para o Bairro das Indústrias, Funcionários, Cruz das Armas, mas além dos riscos de acidente, há uma enorme lentidão. Nos bairros o problema é parecido”, comenta.

Gilberto mora no Alto do Mateus e demora cerca de 40 minutos para chegar ao Centro devido ao grande fluxo de veículos. Caso o fluxo fosse melhor, gastaria cerca de 15 minutos. Ele acredita que é preciso que os órgãos responsáveis estudem melhorias como reformas nas estradas, construção de viadutos ou pontes onde for possível para que o tráfego possa se tornar melhor. “ Trajetos que não são distantes, acabam se tornando porque a mobilidade está muito difícil. É preciso pensar em alternativas para enfrentar esses problemas”, sugeriu.
De acordo com o especialista em mobilidade urbana, Nilton Pereira, as estratégias para reduzir os tempos nos deslocamentos variam de acordo com o veículo ou mesmo se a pessoa está a pé. No caso dos pedestres, as possíveis soluções incluem calçadas com pavimento uniforme, com travessias seguras, bem iluminadas e desobstruídas para que a caminhada possa ser contínua.

Segundo especialista, não há como modificar a cidade para receber o número diário crescente de carros e motos

Para os ciclistas, por sua vez, pode-se amenizar problemas relacionados ao tempo no trânsito através da implantação de ciclovias e ciclofaixas onde for possível essa instalação, mas estas devem ter pavimento uniforme, com travessias seguras, bem iluminadas e desobstruídas para que a pedalada possa ser contínua. Onde não for possível implantar ciclovias ou ciclofaixas, que a velocidade dos veículos seja reduzida para diminuir os conflitos e gravidade dos acidentes.

No caso do transporte público, as estratégias incluem faixas ou vias exclusivas para os ônibus, semáforos com acionamento prioritários para os ônibus, estações com espaços amplos para manobras, layout interno dos veículos para que a operação de embarque seja a mais rápida possível, ampliação do uso da bilhetagem eletrônica, dentre outras formas. “Para o automóvel: em princípio, pode-se pensar que o aumento da largura das vias poderia diminuir os tempos de deslocamento dos carros. O fato é que a taxa de crescimento da frota de carro e motos é muito maior do que a capacidade de se adequar o sistema viário para atendê-los”, esclareceu o especialista.

Conforme o profissional, não há como modificar a cidade para receber o número diário crescente de carros e motos. No entanto, é possível atenuar o congestionamento em um determinado ponto ou via, mas quanto mais facilidades são oferecidas a esse modo de transporte, mais se estimula seu uso, mais atrativo ele fica, mais pessoas passam a utilizá-lo e maior fica a frota, o que acaba por aumentar os congestionamentos. “Resumindo: de uma forma geral, não há como reduzir as perdas de tempo com esse modo de transporte”, observa.
Para ele, a principal coisa a ser feita é o poder público estimular a população a utilizar os meios de transportes que são mais sustentáveis.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 03 de outubro de 2023.