De acordo com a última Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) relativa ao tabagismo e divulgada pelo IBGE em 2020, a Paraíba tem o maior percentual do Nordeste de fumantes diários de cigarro. Além disso, 11,1% dos paraibanos com mais de 18 anos tinham o hábito de fumar tabaco diariamente. Essa porcentagem equivale a mais de 300 mil pessoas. Estudos realizados pelo Ministério da Saúde indicam que o uso de tabaco ocupa o segundo lugar no ranking de drogas mais experimentadas no país e que a iniciação se dá, em média, aos 16 anos de idade.
A entrada no vício durante a adolescência está associada a diversas razões, incluindo, a imitação do comportamento do grupo, amigos e pais tabagistas. Um outro fator que contribui para esse quadro é o fácil acesso, apontado como um dos principais motivos de iniciação e indução ao consumo. Para o médico Rodolfo Bacelar, pneumologista e especialista em sono, o acesso facilitado faz com que as pessoas consumam mais.
“Aumentar o preço do cigarros pode sensibilizar para que realmente as pessoas deixem de fumar pela questão econômica, mas se esse cigarro fica mais barato, o consumo aumenta, e de fato, o Programa Nacional de Controle do Tabagismo inclui a política de preços mínimos para o cigarro entre as estratégias de prevenção”, afirmou o especialista.
Não é o que pensa Manuela Soares, atendente de loja, que começou a fumar aos 15 anos, ao entrar no Ensino Médio. “Não foi o preço do cigarro que me fez começar a fumar, mas a facilidade no acesso. É muito fácil comprar, até pra pedir para um colega é tranquilo”, afirma Manuela, que completa. “Se a marca que eu uso ficar mais cara, eu troco por uma mais em conta”.
Entrada no vício do cigarro pode estar associada a imitação do comportamento de grupo, amigos e pais tabagistas
Larissa Mangueira, que começou a fumar aos 19 anos por curiosidade, concorda que o preço do cigarro não tenha relação com o aumento no número de novos fumantes. “Eu vejo que o que traz mesmo jovem para o cigarro são as questões de socialização. Quando tinha aumento de preço ninguém diminuía o consumo. Eu via as pessoas cortando outras coisas para poder continuar comprando seu cigarro”, disse Larissa.
Apesar da negativa dos fumantes, a correlação entre o preço do cigarro e o aumento no consumo, possui respaldo científico. Um estudo produzido pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), em parceria com a Universidade de Illinois, em Chicago, nos Estados Unidos e divulgada na última segunda-feira demonstra que o preço baixo pode sim, estimular o vício. Desde 2017, os cigarros fabricados no Brasil não sofrem reajuste nos preços e um dos efeitos negativos é a tendência de aumento no número de fumantes entre os adolescentes brasileiros.
Preço dos produtos está congelado há anos
Desde 2017 que não há aumento significativo no preço dos cigarros fabricados no Brasil e essa situação contraria a recomendação de especialistas em tabagismo. O médico Rodolfo Bacelar concorda. “O aumento dos preços é uma das formas mais eficazes de reduzir o consumo de cigarros”, enfatiza o especialista.
Sem um controle de preços e com os cigarros mais baratos, o percentual de fumantes no Brasil parou de cair, e com um agravante: o número de adolescentes que entram no vício, cresceu. A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), realizada em 2015, apontou que 6,6% dos adolescentes com idades entre 13 e 17 anos eram fumantes. Em 2019, esse percentual chegou a 6,8%.
Uma outra pesquisa, realizada pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, indicava que o percentual de fumantes no Brasil caiu de 13,4% em 2011, para 10,2% em 2016, justamente o período em que vigorou a política de preços para cigarros. Sem a política, a queda no número de fumantes no Brasil foi de 0,7% entre 2017 e 2021, passando de 9,8% para 9,1%.
“O Brasil tem sido líder mundial no combate à epidemia do tabaco. Apesar disso, os últimos resultados não são animadores. Esse estudo pode apoiar as discussões atuais da reforma tributária no sentido de reforçar a necessidade de o país ter um imposto seletivo para os produtos derivados do tabaco”, destaca o pesquisador do Inca, André Szklo, autor da pesquisa. Como se consome um cigarro muito barato no Brasil, Szklo salienta que isso leva a pessoa a não parar de fumar e que adolescentes e jovens acabem sendo motivados e conduzidos a começar a fumar, estimulados pelo preço muito baixos.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 31 de agosto de 2023.