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A cada três horas, é registrado um acidente de trabalho na PB

publicado: 11/11/2017 10h05, última modificação: 11/11/2017 10h21
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Além do treinamento adequado, o trabalhador da construção civil tem o direito à prevenção e aos equipamentos de proteção individual(EPI) - Foto: Ortilo Antônio

tags: segurança no trabalho , ministério do trabalho , ações de segurança , trabalhador


Lucas Campos
Especial para A União

Nessa semana, um pintor foi eletrocutado no município de Cuité enquanto trabalhava em um hospital local. Ao tocar em cabo elétrico desprotegido, acabou perdendo metade dos dois braços e alguns dedos dos pés. Esse não é um caso inédito, nem na Paraíba e tampouco no Brasil. Somos a terceira nação que mais registra acidentes de trabalho, perdendo para países como China, Índia e Indonésia. Alcançamos a marca de 700 mil acidentes laborais por ano em todo o país, segundo dados do ano passado fornecidos pela Previdência Social e do Ministério do Trabalho.

Um estudo do Observatório Digital de Saúde e Segurança, do Ministério Público do Trabalho e da Organização Internacional do Trabalho divulgado em julho deste ano, revelou que, a cada três horas, é registrado um acidente de trabalho na Paraíba. E, a cada 18 dias, uma pessoa morre em decorrência de acidente de trabalho. A estimativa é de que R$ 22 bilhões tenham sido gastos de 2012 até a metade deste ano com benefícios por acidentes de trabalho no estado (auxílio-doença, aposentadoria por invalidez, pensão por morte e auxílio-acidente-sequelas).

O Ministério da Fazenda, por sua vez, pontua que, apenas entre 2012 e 2016, 3,5 milhões de casos de acidentes de trabalho foram registrados nos 26 estados do país e no Distrito Federal. Dessa forma, foram estimadas 13.363 mortes por acidentes de trabalho entre 2012 e metade do ano passado, gerando R$ 22,171 bilhões em gastos dos cofres públicos com a Previdência Social.

Segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), os acidentes graves acontecem com mais frequência com os trabalhadores de estruturas de alvenaria, trabalhadores da agropecuária em geral, operadores do comércio em lojas e mercados; trabalhadores nos serviços de coleta de resíduos, de limpeza e conservação de áreas públicas; e ajudantes de obras civis. As partes do corpo mais atingidas nos acidentes são as mãos (32,2%), os membros superiores (20,3%), os membros inferiores (20%), os pés (10,6%) e a cabeça (10,5%).

De acordo com Nivaldo Barbosa, presidente do Sindicato dos Técnicos de Segurança do Trabalho no Estado da Paraíba (Sintest/PB), é muito importante trabalhar com a prevenção. "Somos prevencionistas, a gente trabalha para que não ocorra acidente de trabalho ou adoecimento", explica. O presidente também diz que os seguranças do trabalho também atuam seguindo a Consolidação das Leis do Trabalho - especialmente o capítulo 15 - e as 36 normas regulamentadoras. "As NR's são como receitas de bolo, elas vão definir o que deve ser cumprido em cada setor, tanto das empresas, quanto dos trabalhadores, porque a responsabilidade é das duas partes", esclarece.

Alguns trabalhos de gestão também já foram desenvolvidos para maximizar a segurança e bem-estar do trabalhador, como o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), o Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção Civil (PCMAT) e o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO). O técnico do trabalho tem a função de orientar as duas partes para que sigam esses planos, não de forma impositiva, mas apenas orientando a fim de garantir a saúde de todo trabalhador.

Dentro das atribuições dos profissionais de segurança do trabalho, Nivaldo aponta a gestão como a mais importante. "É a questão de saber se o trabalhador está apto a realizar aquela atividade, se está bem de saúde, se recebeu os treinamentos adequados e também disponibilizando o EPI", esclarece o presidente do Sintest/PB. Acrescenta ainda que o EPI (Equipamentos de proteção individual) é a última instância para que o acidente não aconteça ou que os números diminuam. Para além disso, o técnico em segurança e saúde do trabalho atua para preservar não apenas a vida do trabalhador, mas a imagem da empresa. Nivaldo acredita, aliás, que as empresas ainda não se conscientizaram sobre a importância da segurança no trabalho e que precisam melhorar nesse sentido.

'Abril Verde'

Em decorrência dos grandes índices de acidentes e mortes em ambientes de trabalho, diversos órgãos instauraram, junto ao Ministério Público do Trabalho, o 'Abril Verde'. "Esse movimento nasceu aqui na Paraíba, é pioneiro, é uma lei estadual. É um mês que a gente faz campanhas nas escolas, nas empresas, nas ruas, para mostrar a importância da saúde no trabalho", pontua Nivaldo Barbosa. É no dia 7 de abril que se iniciam as atividades do 'Abril Verde', estendendo-se até o último dia do mesmo mês.

Jonas Neto passou um bom tempo trabalhando no setor do comércio. Desanimado com o setor, ele sentiu que precisava estudar e formar-se em algum curso de maneira urgente para ter uma formação. Assim, ingressou na área de segurança e saúde do trabalho, onde segue atuando há seis anos e meio. Desde então, a satisfação de fazer com o que os empregados voltem para casa com o bem-estar assegurado, criou um amor pela profissão.

O exercício profissional de um técnico em segurança e saúde do trabalho, entretanto, não é tão simples. Jonas afirma que encontrou várias dificuldades ao longo dos anos. O primeiro problema é a ânsia que os trabalhadores da construção civil - área na qual Jonas trabalha - têm de ganhar mais dinheiro, acelerando as atividades e se expondo a perigos desnecessários. Ele pontua que é muito comum ouvir a frase “isso não acontece comigo” vinda dos trabalhadores.

Dentre aquilo que já vivenciou, Jonas conta que acompanhou um caso muito marcante em meados de 2016. “Um funcionário em um momento de correria para ir embora, caiu do quarto andar de um dos prédios da obra e não aconteceu nada grave”, relata. O técnico já havia se preparado para o pior, pegando a fita zebrada para isolar o corpo e seguir os procedimentos padrão, mas ao chegar no local encontrou o trabalhador com vida, sentindo apenas uma luxação no pé.

Ao ser questionado sobre os altos índices de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais que acometem o país, ele explica: “Acredito que seja um misto de causas. Primeiramente, a falta de investimentos por parte dos empregadores, que só querem produção, produção, produção. Segundo, a falta de cultura dos empregados em relação a segurança do trabalho, sendo eles os mais prejudicados, quando acontece um acidente ou doença ocupacional”. Ele acrescenta que a falta de investimento dos empregadores é um problema sério, pois deixa o trabalhador vulnerável.

Conselhos

“A prevenção é um fator primordial na segurança do trabalho. Só se faz segurança com prevenção”, explica Jonas. O técnico diz também que é daí que surge a importância dos treinamentos admissionais, dos Diálogos Diários de Segurança (DDS), realização de check-list por setor e a entrega dos EPI’s. É aí que entra o técnico em segurança e saúde do trabalho, pois é ele que observa tudo isso, protegendo vidas e resguardando a empresa.

Como conselho para os trabalhadores, Jonas pede que estes executem suas atividades com mais responsabilidade, porque a segurança deve ser colocada sempre em primeiro lugar. Dessa forma, poderão trabalhar, receber seu dinheiro normalmente e, no fim do dia, voltar para casa com tranquilidade.