O dia 5 de dezembro é a data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) para celebrar o Dia Internacional do Voluntário, que tem por objetivo conscientizar e incentivar a participação de mais pessoas e promover diversas ações voluntárias ao redor do mundo. Mas o que é ser voluntário? Segundo o dicionário Aurélio, voluntário é aquele que se compromete com um trabalho, ou assume a responsabilidade de uma tarefa, sem ter a obrigação de o fazer.
Para Fabrício Oliveira, psicólogo e Mestre em Gerontologia, voluntário é toda pessoa que se compromete com uma causa ou pessoa, dedicando regularmente algumas horas do dia, seja diariamente, semanalmente ou mensalmente, para um bem comum. Além disso, é importante que a pessoa goste do que está fazendo nessa condição.
Esse gesto me torna uma pessoa diferente, mais amável. Isso muda o nosso jeito de ser - Fabrício Oliveira
“Qualquer pessoa pode ser voluntário, o trabalho voluntário é um comprometimento que você tem com alguém que você escolheu para fazer, com um grupo ou uma ONG, por exemplo. Além disso, é importante destacar que você tem que se identificar com aquilo que está fazendo, fazer por amor”.
O psicólogo explica também que há uma diferença entre ser voluntário e solidário. “Ser voluntário é se comprometer com o outro. Solidário faz esporadicamente, vai fazer agora no natal, doa roupa, comida, isso é solidário”. Ele conta que durante a pandemia do Covid-19, muitas pessoas se sentiram tocadas a ajudar outras pessoas, especialmente, os idosos, pessoas que tinham comorbidades e não podiam sair às ruas, e isso despertou nelas o desejo de manterem prestando serviços de assistência voluntária.
“Eles sentiram o quanto faz bem para eles fazer o bem para o outro. Acabou a pandemia e eles continuaram, então é aquela coisa, o mal que foi para o bem, o lado positivo da pandemia foi esse, que as pessoas se solidarizaram um com o outro. Foi uma rede de apoio que se formou tão grande que até hoje eles continuam fazendo isso”.
Na pandemia, cresce rede de assistência nas cidades
De acordo com a Pesquisa Voluntariado, realizada pelo Instituto DataFolha em 2021, apesar do isolamento social, durante a pandemia, 47% das pessoas passaram a fazer mais atividades voluntárias, sendo a mais comum a distribuição de recursos, como: financeiros, alimentos, roupas, medicamento, cestas básicas, livros. Durante este período, 21% das atividades foram feitas on-line, principalmente nas áreas de educação e apoio psicológico.
Além da pandemia, a crise econômica também favoreceu os públicos beneficiados pela ação voluntária, com destaque para o forte crescimento (em 2021) de famílias e comunidade (+23%) e pessoas em situação de rua (+20%).
Mulheres são mais engajadas
A Pesquisa Voluntariado revelou ainda que nos últimos 10 anos, houve um aumento significativo do número de pessoas que realizam trabalho voluntário no país, subindo de 6,5 milhões, segundo dados do IBGE, para 57 milhões. E o tempo médio mensal entre todos os voluntários foi de 12 bilhões de horas por ano. As mulheres se envolvem mais do que os homens em trabalho voluntariado e a idade média é de 43 anos para mulheres e 39 anos para os homens.
Lei regulamenta voluntariado
No Brasil, desde 1998, existe uma Lei que dispõe sobre o serviço voluntariado. Apesar de qualquer pessoa poder ser voluntária, a Lei 9.608 surgiu como uma forma de respaldar legalmente o voluntário, bem como, empresas e ONGs, que se abrem ao serviço. Ela tem apenas três artigos e considera como trabalho voluntário qualquer atividade não remunerada prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza ou a instituição privada de fins não lucrativos que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência à pessoa.
Dessa forma, não gera vínculo empregatício e nenhuma obrigação de natureza trabalhista ou previdenciária. A lei assegura ainda que todo exercício voluntário deve ser exercido mediante a celebração de termo de adesão entre a entidade público ou privada com o prestador de serviço, onde deve estar descrito as condições do trabalho voluntário que ele vai prestar e as horas.
“Trabalho voluntário é trabalho voluntário, se a pessoa deixar o outro fazer ela de escrava é complicado, ela tem que saber o limite dela, até onde ela pode ajudar, porque é uma ajuda sem ganho. Por isso, é importante conhecer a lei, saber tudo direitinho. É um trabalho sério, não é porque é voluntário que não tem regra, a instituição precisa definir as políticas pelas quais ela trabalha”, ressalta Fabrício Oliveira.
Grupo quer expandir serviço em comunidade
De acordo com o psicólogo Fabrício Oliveira, não existe um perfil de voluntário. Ele ressalta que o que diferencia é o gosto e amor por aquele serviço que vai prestar. “O que existe é o amor pelo que ela vai fazer. O perfil é da pessoa, mas voluntário é um só, é o que ela gosta de fazer e o que vai fazer daqui para frente. Isso é que é legal”.
Fabrício conta que realiza várias atividades como voluntário, que isso lhe causa uma sensação maravilhosa de fazer o bem e ajudar outras pessoas e revela que quando se aposentar vai dedicar grande parte do seu tempo ao voluntariado. “Me torna uma pessoa diferente, mais amável. Isso muda o nosso jeito de ser”.
Fabiana Ferreira é servidora pública e disse que por ser da igreja sempre gostou de “servir”. Há quatro anos ela criou, com um grupo de amigas, o projeto Dia do Bem Fazer, que realiza trabalho voluntário com crianças e mulheres em comunidades vulneráveis na cidade do Conde. Duas vezes ao mês elas distribuem sopa para as crianças, e todos os anos comemoram o dia das crianças e o Natal. Os eventos são realizados com ajuda de voluntários. “O Conde sofre muito com questões de estrutura, tem muitas comunidades de difícil acesso, é uma forma de levar um pouquinho de alegria para eles”, enfatiza.
Já com as mulheres, ela conta que o grupo promove o “chá da tarde”, que começou como uma atividade de encerramento do Outubro Rosa. “Queríamos proporcionar um momento de lazer para elas, mas agora temos o desejo de levar algo mais, é por isso que a partir do próximo ano vamos fazer um acompanhamento mensal com elas.”
Fabiana revela que ela e as amigas estão trabalhando na ideia de viabilizar o ensino de corte e costura para essas mulheres, para que elas possam aprender um novo ofício, que possibilite que elas tenham uma fonte de renda. “Estamos tentando montar um espaço de corte e costura. Já temos duas professoras voluntárias e conseguimos de uma empresa a doação de tecido”.
Saiba mais
Para quem deseja ser voluntário de alguma forma, existe hoje no Brasil duas plataformas que realizam cadastro de voluntários. Qualquer pessoa pode se inscrever e ofertar os seus serviços. São elas:
- Atados (atados.com.br) - Possui mais de 200 mil voluntários e quatro mil ONGs cadastradas
- Voluntários (voluntarios.com.br) - Possui mais de 95 voluntários e mais de quatro mil entidades cadastradas
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 05 de dezembro de 2023.