por Sara Gomes*
O Brasil ocupa a 10ª posição na lista dos países que mais desperdiçam alimentos no mundo. Enquanto 14,7 milhões de brasileiros passam fome, o país joga fora cerca de 26,3 milhões de toneladas de alimentos por ano, segundo levantamento do Banco Mundial. No entanto, o desperdício de alimentos está diretamente ligado à falta de planejamento alimentar, mas também à questão cultural.
Na época da universidade, a gerente de banco Marcela Paulino, 38 anos, tinha uma rotina de estudos muito intensa. Ela fazia dois estágios e estudava administração à noite. Isso acabava refletindo na qualidade da sua alimentação. “Eu saia de casa às 7h e voltava às 23h. Eu não tinha qualidade alimentar, comia pouco e ruim”, declarou.
A falta de planejamento alimentar gerava desperdício de comida na geladeira. “A comida sem ser congelada estraga com muita facilidade. Eu comprava sem planejamento porque não tinha orientação nutricional”, afirmou. Em 2012, Marcela estava com 20 quilos acima do peso. Atualmente está com uma aparência bem mais jovem, embora dez anos mais velha.
A mudança de perspectiva veio quando a bancária percebeu que estava negligenciando sua saúde. A virada de chave foi quando passou a ter consciência alimentar. Além da economia de dinheiro, Marcela passou a otimizar o tempo preparando a comida semanalmente.
“Hoje eu tenho um ritmo de trabalho mais puxado, mas a minha saúde se tornou prioridade. Os pilares para a minha alta performance profissional são alimentação saudável, atividade física e terapia”. Hoje, a gerente de banco vive a melhor fase de sua vida, tanto na vida pessoal quanto profissional.
A nutricionista Thamires Soares enfatiza a importância do acompanhamento clínico no processo de reeducação alimentar, orientando o paciente, inclusive, na quantidade ideal para cada refeição.
"Um dos hábitos que procuro combater é o desperdício de frutas e legumes. Uma estratégia é listar os alimentos mais consumidos", disse Thamires Soares
“O profissional da nutrição vai levar em consideração todos os detalhes da rotina do paciente: os alimentos comuns consumidos em sua casa, os costumes pessoais (de preferência ou aversão), os utensílios que ele utiliza no dia-a-dia, desde a geladeira a colher de sopa. Todos esses fatores ajudam no entendimento da rotina alimentar”, afirmou.
Ela revela ainda que o desperdício de alimentos está presente na fala do paciente nos atendimentos nutricionais. “É cada vez mais comum as pessoas trazerem a necessidade de unir o saudável ao prático. Um dos hábitos que procuro combater é o desperdício de frutas e legumes. Uma estratégia é listar os alimentos mais consumidos naquela família”, orientou.
A jornalista Caroline Queiroz, 27 anos, foi criada em uma casa que nunca teve desperdícios. Sua família sempre aproveitava os alimentos e não deixava que se perdessem pela falta de consumo. “Aprendi desde cedo e quando passei a cozinhar na minha própria casa, segui esse exemplo”, contou.
Com a correria da rotina e muitas responsabilidades, precisou ajustar sua organização para ter comida à disposição. Ela começou a desenvolver estratégias para se alimentar melhor e não desperdiçar comida.
“Faço compras semanais no mercado. Compro apenas o que está faltando e o que de fato vou consumir. Congelo em pequenos potes os alimentos que vou comer durante a semana; planejo as refeições; corto frutas, verduras e folhas para facilitar o consumo”, elucidou.
A alimentação planejada colabora muito para um cardápio mais saudável, já que a falta de tempo e indisposição faz com que as pessoas não priorizem comidas caseiras e acabem recorrendo a lanches e alimentos ultraprocessados. “Tiro um dia ou dois na semana para fazer comida. Nos outros dias vou apenas descongelando as porções”, detalhou a jornalista.
Já nutricionista Laís Costa orienta os pacientes a identificarem o que tem no armário/geladeira antes de ir ao supermercado. “Fazer uma lista dos itens que tem em casa, verificando se os alimentos estão dentro da validade e comprar apenas o essencial para a semana”, aconselhou. Outra dica importante é definir quais refeições serão consumidas em casa e quais alimentos irá consumir na rua.
Aproveitamento integral dos alimentos
A falta de informações sobre os princípios nutritivos de cascas, talos, folhas, e sementes, leva a população a jogar estas partes no lixo, afinal, o aproveitamento integral dos alimentos é um assunto que requer conhecimento. A nutricionista Laís Costa sugere aos pacientes a reaproveitarem as cascas de frutas e legumes. “A gente pode higienizar bem a casca de abacaxi ou maçã e fazer um suco, por exemplo. A casca tem ação antioxidante e é rico em fibras. Uma receita de reaproveitamento bem comum é a sopa, que muitas vezes, utiliza o feijão do almoço e legumes”, exemplificou.