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Alta de casos com objetos estranhos

publicado: 15/08/2023 09h31, última modificação: 15/08/2023 09h32
Hospital de Trauma registrou um aumento de 1.022 casos, ou seja, 26% a mais nos primeiros sete meses de 2023
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Atendimentos para estes tipos de casos são feitos diariamente durante 24h no Hospital de Trauma de JP - Foto: Evandro Pereira

por Alexsandra Tavares*

O número de atendimento para retirada de corpos estranhos no Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, em João Pessoa, saiu de 3.922 casos nos sete primeiros meses do ano passado para 4.944 no mesmo período desse ano. A alta foi de 1.022 atendimentos, o que representa 26%. Os dados são do Hospital de Trauma. 

Quando se faz o recorte por faixa etária, percebe-se que nos pacientes entre zero e 12 anos a alta foi de 17,5%; entre 13 e 18 anos de 31,4%; entre 19 e 59 anos foi de 27,2% e entre 60 a 99 anos foi de 36,7%. Segundo o diretor-geral do Hospital de Trauma de João Pessoa, Laecio Bragante, não há uma explicação específica para o maior número de casos, mas pode ser que esteja relacionado ao retorno total das pessoas à rotina, após a pandemia. “Não temos uma explicação muito clara, talvez a volta da normalidade, em todos os sentidos, tenha a ver. Por exemplo, a volta do uso dos ambientes de diversão, a maior movimentação nas casas, os encontros familiares, o retorno ao trabalho, mas não há um dado concreto sobre o que tenha provocado o aumento de casos”, contou Laecio Bragante.

São considerados corpos estranhos qualquer objeto não comestível ou alimento que fique preso no corpo do indivíduo e venha causar danos à saúde, como caroço de feijão, osso de galinha, peças pequenas de brinquedos, botões, agulhas, pedras, moedas. A entrada do corpo estranho pode ocorrer pela boca, olho, nariz, ouvido, e até anal. Nas estatísticas também estão incluídas situações de engasgo com alimentos, comum, sobretudo, nos idosos. 

"Os profissionais autônomos se descuidam dos EPIs, então, esses fragmentos de pedras, corpos metálicos atingem os olhos antes de se fechar a pálpebra" Laecio Bragante - Foto: Ortilo Antônio

"Os profissionais autônomos se descuidam dos EPIs, então, esses fragmentos de pedras, corpos metálicos atingem os olhos antes de se fechar a pálpebra"

“A maior incidência em crianças são objetos pequenos como peças de brinquedos ou caroço de feijão, colocados no nariz ou ouvido. Muitas vezes, as mães ou responsável só percebem quando começa a apresentar uma secreção de odor forte. O pior de tudo é quando ela coloca na boca, com a  possibilidade de deglutição, levando o objeto ao esôfago, ou quando migra para a via aérea”, ressaltou. 

Os números enviados pelo Hospital de Emergência e Trauma de João Pessoa mostram que, do total de atendimentos realizados esse ano, a maioria (3.261), ou seja, cerca de 66%, foram referentes à faixa etária entre 19 e 59 anos.

De acordo com o diretor geral do Trauma, a presença de corpo estranho, nesse caso, está relacionada aos acidentes de trabalho, e as ocorrências mais frequentes são nos olhos. Ele frisou que essa realidade tem a ver com a falta do uso dos equipamentos de proteção individual (EPI). “Especialmente, os profissionais autônomos se descuidam dos EPIs. Então, são fragmentos de pedras, partes de corpos metálicos, como esmeril, e agulhas atingem o olho numa velocidade em que não é possível proteger com o fechamento da pálpebra”, explicou.

Riscos de morte

Uma das grandes preocupações da classe médica é quando o paciente, adulto ou criança, ingere um corpo estranho que pode interromper o fluxo de ar. Nesse caso, o socorro deve ser o mais rápido possível, porque pode levar à morte em pouco tempo. 

O diretor-geral do Hospital de Trauma, Laecio Bragante, contou que em todos os casos o médico deve ser procurado, mas em situações em que o paciente demonstre que está sufocado, uma pessoa em casa pode tentar desobstruir a passagem de ar, enquanto chega o socorro profissional.  

Segundo ele, uma das práticas usadas nesse caso é a Manobra de Heimlich, em que o socorrista realiza manobras que ajudam o paciente a expelir o corpo estranho. “A manobra é muito simples e pode ser encontrada na internet. No caso da criança, deve-se debruçar a criança, com as costas virada para o socorrista, inclinando o corpo dela para frente. Depois, fazer uma pressão súbita e vigorosa na parte superior do abdômen, fazendo uma pressão na base do pulmão. Isso forma um fluxo de ar forte, ajudando a expelir o corpo estranho que esteja encravado na laringe”, explicou. 

Há outros tipos de manobras que variam conforme o tamanho da vítima. De acordo com Laecio, o médico deve ser procurado rapidamente. “O Hospital de Trauma funciona todos os dias, 24 horas, e tem profissionais preparados para receber esses casos”, disse.

Crianças devem estar sempre sob a supervisão de adulto, orienta médico

A professora Luzimeire Meireles Malaquias, moradora do bairro João Paulo II, em João Pessoa, já enfrentou duas ocorrências envolvendo corpo estranho com as filhas. Segundo ela, foram momentos de tensão, que levaram a família ao hospital. Mas, segundo especialistas, o ideal é que as crianças fiquem sempre sob a supervisão de um adulto, para evitar esses acidentes. 

A primeira experiência de Luzimeire foi com a filha Larissa, que atualmente tem 18 anos, mas na época do incidente tinha quatro anos de idade. Ela estava brincando com uma moeda de 10 centavos e, de repente, engoliu. “Como ela já era grandinha e bem esperta e, inclusive, não tinha essa mania de colocar brinquedos na boca, achei que seria seguro e deixei ela brincar com a moeda. De repente, comecei a vê-la tossindo muito e colocando a mão na garganta. Associei, imediatamente, à moeda e perguntei se ela tinha engolido. Ela confirmou. Fiquei desesperada”, declarou a professora.

Ela contou que, mesmo com o susto, percebeu que a filha conseguia respirar. A professora e o marido tentaram tirar a moda, mas sem sucesso, então foram ao Hospital de Emergência e Trauma de João Pessoa. “Foi feito um raio-x e a moeda tinha ficado presa na traqueia. Larissa passou a noite em jejum, e apenas no outro dia, pela manhã, foi feito o procedimento de retirada”, contou Luzimeire. 

Um fato semelhante ocorreu esse ano, com a filha Laura, de  três anos. A menina colocou uma bolinha de plástico no nariz. “Tentamos retirar em casa, mas não conseguimos. Mais uma vez tivemos que levar para o Hospital de Trauma, e lá foi feito o procedimento de retirada. Após essas experiências, confesso que fiquei bastante preocupada e atenta com tudo que pudesse ser perigoso. Passei a ver perigo em tudo, e redobrei a atenção em todos os objetos pequenos que pudessem estar ao alcance delas”, declarou a professora.

O diretor-geral do Hospital de Trauma de João Pessoa, Laecio Bragante, enfocou que os pais ou responsáveis não devem deixar a criança brincando com objetos pequenos, ou que possam ser desmontados em pequenas peças. “É importante também que a criança fique sob a vigília de um adulto para evitar esse tipo de ocorrência, porque ela tem o hábito de colocar pequenos objetos na boca”.

Saiba Mais

No Hospital de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes, em Campina Grande, foram registrados 166 atendimentos relacionados a corpo estranho nos primeiros sete meses de 2022 e 123 no mesmo período deste ano. Os dados foram repassados pelo Hospital de Trauma.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 15 de agosto de 2023.