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BIBLIOTECA PÚBLICA

Ambiente que favorece os estudos

publicado: 19/08/2024 09h29, última modificação: 19/08/2024 09h31
Estantes empilhadas e silêncio sepulcral dão cada vez mais lugar à produção coletiva de conhecimento
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Situada no Centro Histórico, Biblioteca Augusto dos Anjos é muito procurada por estudantes, sobretudo em época de concursos - Foto: Leonardo Ariel

por Anderson Lima (Especial para A União)*

Até bem pouco tempo atrás, as bibliotecas públicas eram procuradas, principalmente, por seus acervos de livros e empréstimos de exemplares. Hoje, com a popularização da internet e das tecnologias da informação, que permitem acesso a milhares de bibliotecas virtuais, de qualquer parte do mundo, esses equipamentos são mais frequentados por pessoas em busca de um ambiente tranquilo para estudar do que por apreciadores da literatura. Essa foi a constatação da equipe de reportagem do Jornal A União, depois de visitar as três bibliotecas públicas de João Pessoa.

A procura por esses espaços aumenta, sobretudo, em épocas de concursos públicos. É às bibliotecas que a população pessoense, em sua maioria, recorre para focar nos estudos. Uma delas é a Biblioteca Pública Juarez da Gama Batista, localizada no Espaço Cultural, no bairro de Tambauzinho. Com um acervo de quase 200 mil títulos, o lugar, que funciona desde 1982, conta com um vasto acervo de escritores paraibanos, livros em braille e 36 cabines de leitura e pesquisa, entre individuais, duplas e coletivas.

Lá, os usuários podem pegar até 13 livros, por empréstimo, e permanecer com eles por 15 dias; caso queira a renovação, é só fazê-la diretamente na recepção. Para isso, o interessado precisa fazer um cadastro, cuja burocracia exige apenas um documento com foto e um comprovante de residência. Se a data limite para a devolução se expirar, paga-se multa no valor de R$ 1, por cada dia e livro.

De acordo com uma pesquisa do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas, de julho deste ano, existem 208 bibliotecas públicas disponíveis para os paraibanos; desse total, três se localizam na capital. Além da biblioteca do Espaço Cultural, há ainda a Biblioteca Augusto dos Anjos, no Centro de João Pessoa, e a Biblioteca Durmeval Trigueiro Mendes, na Fundação Casa de José Américo (FCJA).

Estudos

Foi pelo ambiente calmo que João Victor Almeida, 29 anos, elegeu a biblioteca do Espaço Cultural como o lugar para focar em seu objetivo, que é passar no concurso público dos seus sonhos. Militar da reserva, João pediu desligamento do Exército e se tornou trabalhador autônomo para se dedicar aos estudos. “Venho aqui porque é um ambiente ideal para estudar, sempre silencioso”, ressalta.

Ele conta que começou a frequentar o lugar a partir do exemplo de amigos seus, pois percebeu que eles se mantinham constantes nos estudos e alcançavam a aprovação desejada — êxito que, para ele, tem muito a ver com o espaço tranquilo da biblioteca. E o concurseiro não se equivoca em sua observação: ele mesmo já conseguiu ser aprovado em três concursos da Polícia Militar (na Paraíba, no Rio Grande do Norte e em Pernambuco). “Eu venho de segunda a sexta-feira, pela manhã; saio para almoçar, volto e fico até o fim da tarde, estudando”, diz.

Eu venho de segunda a sexta-feira, pela manhã; saio para almoçar, volto e fico até o final da tarde, estudando   --   João Victor Almeida

João Victor acredita, também, que é fundamental manter bibliotecas sempre abertas ao público, pela sua própria experiência, se não tivesse vindo constantemente à biblioteca, não tinha conseguido as suas aprovações. “Sei que, sem este ambiente, devido à rotina do dia a dia, eu não teria alcançado esses resultados.”

Empréstimo perdeu o posto de mais procurado, mas ainda atrai leitores

As amigas Nathália Cristina da Silva e Raryane Santos, ambas com 17 anos, vão à Biblioteca Augusto dos Anjos com o mesmo objetivo de João Victor: estudar. Mas, no caso delas, não é para concurso, e sim para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Residentes em Bayeux, as duas optam pela biblioteca para os estudos ao longo da semana, por ser um lugar mais tranquilo e com boa estrutura.

Nathália conta que as duas costumam ir sempre em dupla, para estudar. Para isso, elas se organizam conforme os horários da escola. “Sabemos que temos prova em tal dia, então decidimos vir um ou dois dias antes para revisar e passar o conteúdo a limpo. Mas, mesmo quando não há prova, tentamos vir pelo menos uma ou duas vezes por semana, para estudar”, diz.

Em relação ao acervo disponível na biblioteca, Nathália destaca que não costuma fazer empréstimos para leitura, apesar de saber que o local tem um grande acervo da literatura brasileira. “Eu sei que os autores brasileiros são cobrados no vestibular, mas eu prefiro lê-los em PDF, porque acho mais prático no dia a dia, seja em casa ou no ônibus”, explica.

Concursos

Outro espaço público bastante procurado é a Biblioteca Augusto dos Anjos. A bibliotecária Solange Guedes, auxiliar dessa biblioteca há 11 anos, conta que o maior fluxo de público acontece quando são lançados editais para concurso público, seja para estudar, seja para buscar livros que contem a história da cidade. “Normalmente, cada edital de concurso aborda a história de uma cidade, então, aqui tem um grande acervo para pesquisa”, diz.

Segundo ela, apesar do avanço da tecnologia e das leituras digitais, a biblioteca tem um fluxo considerável de empréstimos de livros. “Ainda vem muita gente procurar, principalmente professores. Percebo que alguns preferem o livro físico ao virtual”, observa. Sobre o uso dos computadores no local, a auxiliar explica que cada usuário tem direito a uma hora — as exceções são para quando a pessoa está estudando e para quando não há ninguém esperando para utilizá-los.

Acervo à beira-mar do Cabo Branco é exclusivo para pesquisa

Quem deseja fazer uma pesquisa mais aprofundada ou buscar livros raros, pode procurar a Biblioteca Durmeval Trigueiro Mendes, na FCJA, à beira-mar do Cabo Branco. O acervo chega a uma média de 50 mil exemplares, sendo composto, em sua maioria, por doações feitas por historiadores, jornalistas e escritores, além dos livros que pertenciam a José Américo de Almeida.

Nadigila Camilo, que há 15 anos é a bibliotecária da unidade, explica que o espaço recebe, rotineiramente, pesquisadores, doutorandos, mestrandos e estudantes que estejam fazendo o seu trabalho de conclusão de curso, com temas específicos.

De acordo com ela, a maioria dos livros, que cobrem todas as áreas do conhecimento — principalmente literatura, história e ciências sociais — é de autores paraibanos. Por ser composta de livros específicos, essa biblioteca não faz empréstimos, a pesquisa é apenas local. “No entanto, quem precisar, pode vir quantas vezes for necessário, até concluir o seu objetivo”, destaca.

Além de livros, FCJA também dispõe de hemeroteca | Foto Leonardo Ariel

Além disso, a FCJA também dispõe de uma hemeroteca, na qual se encontra um extenso acervo dos jornais impressos paraibanos, como o Correio da Paraíba, o Jornal da Paraíba, o Diário da Borborema, O Momento, A União e O Norte. Esse espaço também é apenas para pesquisa; basta solicitar a data, ano e mês, por exemplo, para ter acesso ao jornal a ser pesquisado.

Desafios

Não é a primeira vez que as bibliotecas passam por transformações tecnológicas e sociais. Desde que surgiram, na Antiguidade, até o fim da Idade Média, elas eram voltadas à custódia, à preservação, à reprodução e — no caso de obras profanas — ao controle de manuscritos. Com a invenção da imprensa por Johann Gutenberg, no século 15, vieram a difusão da aprendizagem e a valorização do conhecimento, típicas do Renascimento. Aos poucos, as bibliotecas se transformaram em instituições de caráter público e dedicadas à democratização do acesso à informação, perfil que tem perdurado até hoje.

As bibliotecas se transformaram em centros dinâmicos de informação, em detrimento do modelo do passado, quando a sua imagem estava associada à ideia de um grande depósito de livros, onde os bibliotecários desempenhavam apenas o papel de guardiães. Com novas demandas por parte da sociedade e tecnologias que aumentaram o acesso à informação, as bibliotecas tentam se adaptar e continuar o seu papel como difusora do conhecimento — a exemplo do próprio livro, que já teve sua morte decretada várias vezes, mas segue necessário.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 18 de agosto de 2024.