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Chuvas

Áreas ribeirinhas em estado de alerta

publicado: 13/06/2023 14h50, última modificação: 13/06/2023 14h50
Moradores da São Rafael e do Bairro São José temem que chuvas elevem nível das águas do Rio Jaguaribe
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Com a chegada das chuvas de outono, as populações ribeirinhas como a do Bairro São José e a da comunidade São Rafael temem que o aumento do volume do rio provoque inundações - Foto: Evandro Pereira
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Na comunidade São Rafael, há imóveis “fantasmas” abandonados por terem sido atingidos com as enchentes - Foto: Evandro Pereira
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por Juliana Cavalcanti*

Água invadindo as casas, insetos, dificuldades para sair das residências, perda de veículos e móveis, risco de doenças e acidentes, congestionamentos e sujeiras. Estes são alguns dos problemas enfrentados pelos moradores das comunidades ribeirinhas de João Pessoa, em especial, aquelas às margens do Rio Jaguaribe. Estas situações se tornam ainda mais frequentes durante os períodos chuvosos.

De acordo com a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil da capital, nos bairros São José e Castelo Branco estão algumas das áreas de risco mais antigas monitoradas pelo órgão na cidade, já que os alagamentos nas comunidades ribeirinhas e os acidentes nas regiões de barreiras (desmoronamentos) estão entre as maiores preocupações dos habitantes destes locais no inverno.

Nessas áreas, o medo dos acidentes provocados também pelo aumento do nível das águas após as chuvas é constante. Clélio de Pace mora há aproximadamente 40 anos na comunidade São Rafael, no Castelo Branco, e conta que praticamente todos os anos, alguns moradores perdem móveis e objetos para as águas do rio que invadem as casas. “As chuvas ainda nos causam muito medo porque quem mora na parte mais baixa da comunidade tem a água invadindo as casas. Temos medo de cobra, jacaré, doenças causadas pelo esgoto, são vários medos diferentes. Ainda precisamos de muitas melhorias”, lamentou.

Outra preocupação dos moradores é a precariedade da ponte que liga a São Rafael à comunidade Padre Hildon Bandeira, equipamento cujo desgaste, segundo Clélio de Pace, aumenta os riscos nos dias chuvosos. “Essa ponte precisa ser feita de concreto, pois do jeito que está é muito arriscado”.

Ações comunitárias

Ações preventivas no Jaguaribe, como a dragagem (procedimento para retirar os sedimentos como terra, rochas e lixo do fundo do rios) ajuda a evitar maiores alagamentos na comunidade. Porém, lembra que essas intervenções não são realizadas apenas pelo poder público, mas principalmente pela ação de moradores.

Essa organização entre os vizinhos, aliás, é algo rotineiro nestas áreas, inclusive, procurando resolver os problemas mais urgentes antes de acionar a prefeitura, permitindo o Rio Jaguaribe fluir e, consequentemente, alcançar o Rio Paraíba.

O morador Clélio de Pace ainda destaca a necessidade da própria comunidade evitar os alagamentos jogando objetos e lixo nos rios. Um sofá abandonado, por exemplo, pode fechar a passagem de uma ponte e a fazer a água subir.

“Os próprios moradores precisam ajudar a resolver esse problema também. Alguns jogam sofás velhos (e outros móveis grandes) lixo e pneus no rio. Isso também está errado e só piora a situação. É preciso haver cooperação entre a população e o poder público”, comentou Clélio de Pace.

Casas do São José são invadidas por águas

A Comunidade São José é outra área em que a chuva e os alagamentos provocam medo entre os moradores. Os mais antigos chegaram a ver o rio subir vários metros e até as casas mais altas serem atingidas. “As galerias ficam entupidas porque ainda jogam entulhos de construção e as pessoas veem a água invadindo as casas quando chove. Fica um lado da comunidade todo cheio de água e muitos animais invadem as casas”, conta a moradora Neide Nogueira.

Ela destacou que o São José é uma das áreas mais críticas da cidade porque a sujeira e o capim não deixam a água passar. Sobre isso, a comerciante Ivete Pereira, acrescenta que recentemente as chuvas atrapalharam a passagem de veículos na região.

Ivete morava no São José há 48 anos, mas, devido aos alagamentos, foi morar no Residencial Novo São José, em Manaíra. No entanto, ela ainda mantém vínculos com a comunidade pois tem uma loja de roupas na localidade. “Basta passar três dias de chuva, o rio enche e aparecem os jacarés nas casas. O maior medo dos moradores, além dos animais, é perder os móveis, precisar sair de casa e até mesmo um deslizamento da barreira”.

A comerciante ressalta que, mesmo a sujeira ainda sendo muito grande, a situação está mais fácil na comunidade hoje. “Antigamente, as pessoas se mudavam porque não aguentavam as águas dentro das casas e agora o nível do rio dificilmente atinge a ponte”, comentou. 

Ações preventivas

Segundo a Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil de João Pessoa (Compdec-JP), as comunidades São Rafael, Padre Hildon Bandeira e Tito Silva estão entre as áreas de maior risco, já que as residências foram construídas em um nível mais baixo do que o Rio Jaguaribe. A comunidade Santa Clara é outra que sofre com os efeitos das chuvas na área.

De acordo com o chefe da Divisão de Prevenção de Emergência e Danos da Defesa Civil de João Pessoa, Philipe Vasconcelos, o desassoreamento e as retiradas de sujeira realizadas regularmente têm colaborado para a redução dos alagamentos nas moradias.

“Realizamos o desassoreamento do rio, possibilitando a água fluir normalmente. O nível da água do rio vai aumentar de acordo com a chuva e a maré, mas a limpeza é feita para evitar esse acúmulo de lixo, formando uma espécie de barragem, aumentando ainda mais esse nível das águas”, pontuou.

A Defesa Civil tem atuado no Rio Jaguaribe para diminuir os transtornos nas comunidades. “A limpeza é constante, contudo, existem ações emergenciais para fazer com que essas áreas tenham um fluxo melhor. Nessa região da Beira Rio tivemos um grande acúmulo de material com as chuvas que precisou ser removido para dar maior fluidez às águas”.                

Conforme o representante da Defesa Civil, há registros de alagamentos e transtornos pontuais nas comunidades ribeirinhas nas áreas de baixo do Rio Jaguaribe. Esses problemas não se estenderam às vias no nível mais alto da área. “Os impactos têm sido poucos e a população sofre os impactos. Quando o nível do rio baixa muitos moradores não aceitam ser retirados. Nós vamos nas comunidades durante esse período de chuvas, buscando o abrigamento dessas pessoas para que elas não fiquem nessa situação, mas, por vezes, não aceitam sair do local”, comentou.

As ações da Defesa Civil acontecem de acordo com um cronograma de limpeza, mas algumas demandas vêm da própria população. Os cidadãos podem acionar o órgão pelo  WhatsApp 98831-6885. 

Rio Jaguaribe

A cidade de João Pessoa é banhada pelas águas dos rios Sanhauá, Gramame (o maior em extensão, com 54 quilômetros) e o Jaguaribe, considerado o principal rio urbano da capital.

O Rio Jaguaribe tem 21 quilômetros de extensão, incluídos, os 5,5 quilômetros do trecho do Rio Morto. Ele nasce na região das Três Lagoas e segue até o Rio Paraíba, segunda maior bacia hidrográfica do estado. 

Novas moradias

O Programa João Pessoa Sustentável prevê a construção de três conjuntos habitacionais na Avenida Beira Rio para as famílias das comunidades Tito Silva, São Rafael, Santa Clara, Miramar, Padre Hildon Bandeira, Cafofo Liberdade, Brasília de Palha e Vila Tambauzinho. Serão 747 apartamentos, dos quais, 106 unidades serão destinadas exclusivamente às famílias de áreas de risco.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 13 de junho de 2023.