Os casos de picadas de escorpião tem crescido nos últimos anos. A constatação vem dos números registrados pelo Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), que monitora as ocorrências atendidas pelo Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), em João Pessoa. Em 2024, de janeiro a maio, foram registrados 1.117 casos. Neste ano, no mesmo período, o número subiu para 1.209 — um aumento de 92 ocorrências.
Segundo o coordenador do Ciatox, Hemerson Magalhães, nas últimas duas décadas o número de casos saltou de cerca de 500 por ano para mais de 200 por mês. Isso significa que, os ataques do animal peçonhento saíram de menos de dois casos por dia para mais de seis, o que significa, em percentagem, um crescimento de mais de 200%.
Durante os períodos com maior incidência de chuvas, é preciso atenção redobrada. Isso porque os escorpiões tendem a buscar abrigo em locais secos, sendo encontrados com mais frequência em prédios e residências.
Um dos fatores que podem explicar o aumento é o avanço da ocupação urbana, que reduz os ambientes naturais desses animais, fazendo com que busquem abrigo em áreas habitadas. Além disso, os escorpiões possuem alta resistência e adaptabilidade, o que favorece sua permanência no ambiente urbano. “Com essa grande adaptação às Zonas Urbanas, o problema se torna uma questão de Saúde Pública. Antes eram cerca de 500 casos por ano, número que hoje é atingido em apenas dois meses”, destaca Hemerson.
Mais presentes
Sobre as espécies encontradas na Paraíba, o escorpião mais comum é o Tityus stigmurus, conhecido como escorpião amarelo. Também é frequente o Bothriurus, que possui veneno com menor potencial tóxico. De acordo Hemerson, o ciclo reprodutivo desses animais — que normalmente ocorre de agosto a setembro — tem pouca influência na quantidade de acidentes. No ambiente urbano, com abrigo, alimento e ausência de predadores, a reprodução torna-se mais constante.
“Levando em consideração os casos que acompanhamos, não há variação tão grande de um mês para outro. Com as condições ideais, a reprodução acontece continuamente. Algumas espécies, como o escorpião amarelo, podem se reproduzir por partenogênese — ou seja, as fêmeas não precisam dos machos, gerando clones de si mesmas”, explica. Esses animais podem ter de duas a três ninhadas por ano, reproduzindo de 11 a 20 filhotes cada.
Hemerson também observa que os períodos mais frios e chuvosos favorecem o aumento de acidentes, pois os escorpiões saem em busca de abrigo, entrando em contato com humanos. Ele alerta para medidas de prevenção, como evitar o descarte irregular de lixo, manter jardins e quintais limpos e controlar a presença de baratas, que são fonte de alimento para os escorpiões. “Terrenos baldios, casas e prédios desocupados servem de abrigo para esses animais. Em condomínios, é fundamental realizar dedetizações periódicas e limpar caixas de esgoto. Onde há alimento, eles permanecem”, explica o coordenador.
Em casa, recomenda-se tampar ralos de pias e banheiros, usar protetores nas portas, bater roupas e sapatos antes de usá-los ou lavá-los, além de observar espaços entre móveis e paredes. “Eles têm hábitos noturnos. Então, no fim do dia, costumam sair em busca de alimento. Ao se levantar à noite, é importante acender as luzes e prestar atenção onde pisa. Evite deixar lixo ou entulhos acumulados, camas e berços encostados na parede ou colchas arrastando no chão, que facilitam o acesso do animal”, orienta.
Recomendações médicas
Em casos de picada de escorpião, é fundamental buscar atendimento médico, mesmo que os sintomas não sejam graves, inicialmente. “Em até seis horas pode haver evolução no quadro”, alerta Hemerson.
Nos casos leves, as picadas podem causar dor intensa por até 24 horas, além de parestesia (dormência) no local, que pode durar de cinco a sete dias. Em quadros moderados, podem ocorrer dores abdominais, vômitos e mal-estar.
“Já os casos graves, que são menos comuns na região, podem causar alterações cardiorrespiratórias, como arritmias, que podem levar à parada cardíaca. Esses quadros mais severos representam menos de 10% das ocorrências”, ressalta Hemerson.
A maioria dos atendimentos no HULW são casos leves, tratados com analgesia para alívio da dor. Em situações moderadas ou graves, o uso de soro é indicado. Pessoas com comorbidades, como problemas cardíacos ou diabetes, além de crianças e idosos, devem ter atenção redobrada, pois estão mais vulneráveis a complicações.
Onde buscar atendimento
Em João Pessoa, a unidade de referência para atendimento de casos com animais peçonhentos é o Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), localizado na Rua Tabelião Stanislau Eloy, nº 585, bairro Castelo Branco.
Em Campina Grande, o atendimento é realizado no Hospital de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes, na Av. Mal. Floriano Peixoto, nº 4700, bairro das Malvinas.
Além dessas, há outras Unidades de Saúde no estado habilitadas para esse tipo de atendimento.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 07 de agosto de 2025.