Animais de hábitos noturnos, os escorpiões costumam se esconder em quintais, canteiros ou atrás de móveis, saindo à noite em busca de alimento. A proximidade com ambientes urbanos favorece o contato com humanos e, consequentemente, os acidentes.
Em 2025, a Paraíba contabiliza, até o momento, 2.535 atendimentos por picadas de escorpião, número superior ao mesmo período de 2024, quando foram 2.476 ocorrências — um aumento de 59 casos. Os dados foram registrados em duas unidades de referência do estado: o Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), em João Pessoa, e o Hospital de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes, em Campina Grande.
Na capital, o Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) da Univerrsidade Federal da Paraíba (UFPB), responsável pelo monitoramento dos casos no HULW, contabilizou 1.209 ocorrências de janeiro a maio de 2025. O número representa aumento de 92 casos em relação ao mesmo período de 2024, quando houve 1.117 registros. Segundo o coordenador do espaço, Hemerson Magalhães, o índice passou de, aproximadamente, 500 casos por ano para mais de 200 por mês, nas últimas duas décadas.
Em Campina Grande, o Hospital de Emergência e Trauma registrou 1.326 atendimentos de janeiro até 4 de setembro de 2025. A maioria dos pacientes foi do sexo feminino (801), enquanto 525 eram homens. No mesmo período de 2024, até o fim de setembro, foram contabilizados 1.359 casos (814 mulheres e 545 homens).
Perigos
Nos períodos de maior incidência de chuvas, a atenção deve ser redobrada, já que os escorpiões buscam abrigo em locais secos, o que aumenta a chance de encontrá-los dentro de casas e prédios. No ambiente urbano, a ausência de predadores e a maior facilidade de reprodução contribuem para o crescimento dos acidentes. O processo de urbanização também reduz os hábitats naturais, empurrando os animais para áreas habitadas.
De acordo com o professor Rodrigo Galvão, responsável pelo Laboratório de Análise de Animais Peçonhentos e Toxinas da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), os escorpiões preferem locais quentes, úmidos e escuros, mas não alagados. Por isso, durante as chuvas, migram para espaços mais secos, geralmente residências.
Na Paraíba, a espécie mais comum é a Tityus stigmurus, conhecida como escorpião-amarelo-do-nordeste, considerada a mais perigosa no ambiente urbano. Também são encontrados o Bothriurus e o Jaguajir rochae (escorpião-amarelo-da-caatinga), mais presentes na Zona Rural e com veneno de menor toxicidade.
“O veneno do Tityus stigmurus pode causar danos graves à saúde e levar a óbito, a depender da gravidade do acidente. O risco é ainda maior em crianças, idosos ou pessoas com comorbidades”, alerta Galvão.
O Tityus stigmurus tem coloração amarelada, com uma mancha preta triangular na cabeça e outras manchas escuras ao longo do tronco. Alimenta-se principalmente de baratas e adapta-se facilmente a bueiros, ralos, frestas e até sapatos.
Essa espécie tem a particularidade de se reproduzir por partenogênese, ou seja, a fêmea consegue gerar filhotes sem a presença do macho. Em ambiente urbano, onde praticamente só há fêmeas, cada uma pode ter ninhadas de cerca de 20 filhotes após oito meses de gestação — todas também fêmeas. O resultado é um crescimento populacional exponencial.
Outro comportamento característico é a tanatose, um estado em que o escorpião “desliga” seu metabolismo, permanecendo imóvel e duro, simulando estar morto. “Depois de um tempo, ele desperta e pode iniciar novamente o processo de reprodução”, explica o professor.
Galvão ressalta ainda que as dedetizações não são eficazes, já que o extermínio só funciona caso o agente exterminador tenha contato direto com o animal. O efeito residual dos venenos, que elimina baratas, por exemplo, não atinge os escorpiões.
Recomendações
Em caso de picada de escorpião, busque atendimento médico imediato. Mantenha a calma e lave o local com água e sabão. Não é recomendado colocar gelo, pois contribui para concentrar o veneno e aumentar a dor; compressas devem ser feitas com água quente.
Os sintomas variam conforme a gravidade: leves — dor intensa por até 24 horas e dormência; moderados — taquicardia, sudorese, vômitos e mal-estar; e graves — edema pulmonar ou infarto, podendo levar ao óbito. Nesses casos, não ingerir líquidos nem tomar soro por via oral. O ideal é ser atendido em até duas horas. O tratamento vai de analgesia (casos leves) ao uso de soro (moderados e graves).
A prevenção inclui vedar frestas de portas, janelas e ralos; manter móveis afastados da parede; evitar que lençóis toquem o chão; sacudir roupas e sapatos antes de usar; e não deixar restos de comida à noite nos ambientes, que atraem baratas, alimento dos escorpiões. Segundo o professor Rodrigo Galvão, essas medidas simples reduzem o risco de acidentes.
Onde ir
Em João Pessoa, a unidade de referência para atendimento de casos de picada de animais peçonhentos é o Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), localizado na Rua Tabelião Stanislau Eloy, nº 585, no bairro Castelo Branco. Em Campina Grande, o atendimento é realizado no Hospital de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes, situado na Avenida Marechal Floriano Peixoto, nº 4700, no bairro das Malvinas, a unidade dispõe de soro antiescorpiônico. Além dessas, outras unidades de saúde, em diferentes regiões do estado, também estão referenciadas para prestar assistência nesses casos.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 11 de setembro de 2025.