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Fonte do Tambiá segue abandonada

publicado: 11/09/2025 08h19, última modificação: 11/09/2025 08h19
Prefeitura, MPF e Grupo Alphaville negociam responsabilidades pela recuperação do monumento tombado pelo Iphan
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Enquanto espera a resolução do impasse judicial, a fonte permanece em ruínas, escorada por madeira para não tombar | Foto: Roberto Guedes

por Bárbara Wanderley*

A Fonte do Tambiá, localizada dentro do Parque Zoobotânico Arruda Câmara, em João Pessoa — referência que acabou rendendo ao zoológico o nome popular de Bica —, segue em estado precário, mantida de pé por escoras de madeira.

Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1941, a fonte está desativada há cerca de 15 anos e uma possível restauração envolve um imbróglio administrativo que as autoridades, agora, tentam solucionar.

No mês de agosto, uma audiência de conciliação foi realizada no Parque Arruda Câmara, com a participação de representantes do Iphan, do Ministério Público Federal (MPF), da Prefeitura de João Pessoa e da Advocacia-Geral da União. O objetivo era revisar um acordo para a restauração do monumento histórico.

Segundo o secretário de Meio Ambiente de João Pessoa, Welison Silveira, a audiência foi fruto de uma ação popular cobrando ações de revitalização da fonte, que foi movida contra o Iphan e contra a Prefeitura de João Pessoa.

O acordo, realizado na reunião, prevê uma série de medidas emergenciais para conter a degradação da fonte. Sob a supervisão do Iphan, a Prefeitura de João Pessoa deverá revisar as medidas de contenção já adotadas, incluindo proteção estrutural, estabilização de áreas com risco de desabamento, controle de infiltrações, remoção da vegetação invasiva e instalação de placas de sinalização.

Outro ponto diz respeito à participação do Grupo Alphaville em nova audiência, que, de acordo com Ministério Público Federal, acontecerá no próximo dia 15, na qual deve ser definido que a corporação deverá restaurar a Fonte do Tambiá, sob supervisão do Iphan, da Secretaria do Meio Ambiente e da Secretaria do Planejamento de João Pessoa. Essa obrigação surgiu após a construção de um condomínio em Bayeux causar danos ao patrimônio histórico tombado. Em 2016, a empresa assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) comprometendo-se com a restauração, que nunca foi cumprida. “Teremos outra audiência envolvendo o grupo Alphaville, a fim de tentar chegar a um acordo entre as partes” disse o secretário Welison Silveira.

O Procurador da República que atua no caso, João Raphael, informou que, nessa reunião, a prefeitura e a empresa definirão o percentual de compartilhamento dos custos.

Em resposta a reportagem de A União, o grupo Alphaville afirmou que a empresa AL Paraíba Empreendimentos Imobiliários Ltda., mencionada no TAC em questão, não integra o Grupo desde o encerramento de sua vinculação societária, ocorrido há mais de dois anos. “Dessa forma, a responsabilidade pelas obrigações assumidas no âmbito do TAC são única e exclusivamente da AL Paraíba Empreendimentos Imobiliários Ltda.”, disse a empresa em nota. Até o encerramento desta matéria, a equipe de reportagem não conseguiu entrar contato com a AL Paraíba.

História

De acordo com o Iphan, foi a Provedoria da Fazenda Real quem mandou edificar a fonte, em 1782, sendo um dos primeiros mananciais de água a abastecer a cidade de João Pessoa.

Em 1831, houve a desapropriação da área no entorno da fonte de água e a fixação dos contornos para a preservação dos resquícios de Mata Atlântica. Alguns anos depois, houve aquisição, pelo Estado, de uma área do antigo Engenho Paú. Sua estrutura chegou a ser reconstruída, em 1889, em pedra calcária, na administração de Gama Rosa, então presidente da Província da Paraíba.

Em 1921, a Prefeitura transformou a Bica do Tambiá em um parque com o nome de Arruda Câmara, em homenagem ao botânico paraibano.

A fonte possui três bicas, tendo ao alto frontão lavrado em volutas — ornamento em espiral — e concha. Abaixo dos ornamentos, há duas placas com as datas da construção e reconstrução.

Uma lenda indígena conta que um olho d’água brotou no bosque depois da morte de um guerreiro da tribo Cariri, chamado Tambiá. Após ser capturado pela tribo inimiga, os Potiguara, o guerreiro recebeu Aipré, filha do Cacique, como “esposa de morte” — um costume da tribo —, sendo assassinado logo após o casamento. Aipré, porém, havia se apaixonado e chorou durante 50 luas, o que teria dado origem à nascente.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 11 de setembro de 2025.