Aos 50 anos, Luzinete Nunes, moradora do município de Bayeux, na Região Metropolitana de João Pessoa, não ia a uma consulta médica há pelo menos 15 anos. Os cuidados com o marido, netos, parentes e o emprego como diarista foram sempre priorizados, em detrimento da sua própria saúde. Assim como ela, várias mulheres não encaixam em suas rotinas consultas e exames que podem garantir maior qualidade de vida. Com o tema “Quem cuida ama”, a campanha Outubro Rosa deste ano, que começa hoje, alerta para o diagnóstico precoce do câncer de mama e importância do autocuidado.
A prevenção é a melhor forma de descobrir um possível câncer de mama em fase inicial e iniciar o tratamento precocemente. Luzinete organizou os horários e, incentivada pela esposa do sobrinho, Valdine da Silva, foi até o Centro Especializado de Diagnóstico do Câncer (CEDC) para realizar a sua primeira mamografia. “Eu cuido do mundo inteiro e esqueço de mim. Decidi cuidar da minha saúde”, garante.
No mesmo local, Irenilda Felipe, de 40 anos, também aguardava para realizar a primeira mamografia. Ela viajou do município de Queimadas para fazer o exame em João Pessoa e afirma que prevenir é o melhor caminho para prolongar a vida e ter maiores chances de cura em caso de diagnóstico de câncer. “Muitas mulheres morrem porque simplesmente sentem vergonha”, alerta.
A mastologista Ana Thereza Uchoa explica que as mulheres precisam fazer anualmente a mamografia, a partir dos 40 anos, ultrassonografia e ressonância a depender da avaliação clínica do mastologista. Ela esclarece que somente através da mamografia é possível detectar precocemente o câncer de mama, no estágio em que ele é passível de cura. A médica pontua ainda que o autoexame das mamas é recomendado como forma de autoconhecimento da mama, mas não substitui a avaliação médica e a mamografia.
Durante a campanha ‘Outubro Rosa’ serão realizadas 100 mamografias diariamente no Centro Especializado de Diagnóstico do Câncer (CEDC), localizado na Avenida Epitácio Pessoa, em João Pessoa. Além disso, no local serão ofertadas consultas com a mastologistas, para os casos em que houver alteração na mamografia, biópsias de lesões nodulares quando houver suspeita de câncer de mama.
A diretora-geral do CEDC, Roseane Machado, afirma que o Centro busca promover leveza ao evento, com rodas de conversa com mulheres dando seus depoimentos de experiência com câncer, música com artistas da terra, humoristas, sorteio de brindes, corte de cabelo, maquiagem e manicure na tenda da beleza. “Para que a mulher enxergue que mesmo com câncer ele não pode perder a beleza interior. A gente tem que desmistificar o câncer e mostrar que quando ele é detectado inicialmente apresenta índice de mais de 90% de cura”, afirma Roseane.
Dados do CEDC mostram que este ano 150 mulheres foram diagnosticadas com câncer de mama, enquanto no ano passado o número chegou a 240 diagnósticos. A doença foi apontada como causa da morte de 330 mulheres na Paraíba, no entanto, o número é subnotificado.
Durante o mês de outubro a movimentação aumenta no local, já que muitas mulheres acreditam que somente no ‘Outubro Rosa’ a mamografia é realizada. No entanto, Roseane esclarece que a mulher pode procurar diretamente o CEDC, sem necessidade de regulação pela Unidade Básica de Saúde.
“Diariamente a mulher pode fazer o seu exame, de forma confortável, sem muita espera, sem demora na liberação do laudo. Os exames são realizados ao longo de todo o ano, de segunda a sexta-feira, a partir das 8h e até as 16h, sem pausa para o horário de almoço”, explica.
O Jornal A União conta histórias inspiradoras de mulheres que apostaram na prevenção e venceram a batalha contra o câncer.
“A sensação maior é de gratidão, a vitória me foi presenteada”
Aparecida Medeiros de Lucena, de 59 anos, viu sua vida mudar no dia 5 de julho de 2019, quando leu o laudo da biópsia: carcinoma invasivo grau três na mama esquerda. Ela estava com câncer. Foi iniciada uma maratona de consultas com mastologista e oncologista e seis meses de quimioterapia. Em fevereiro de 2020 ela foi submetida a uma mastectomia com remoção total da mama esquerda e em seguida passou por sessões de radioterapia.
“Não resta dúvida que o câncer é uma grande doença, de imediato aderi ao tratamento e a todos os protocolos inerentes, foi uma jornada longa e lenta, exigia de mim muita calma, paciência e serenidade, mais do que nunca precisava cuidar imensamente do meu corpo e alma. Meu cabelo começou a cair depois de 15 dias da primeira químio. Eu chorei imensamente. Uma sensação difícil de explicar. Minha filha, Carmina, pacientemente foi retirando aquelas madeixas caídas e por fim passou a máquina”, lembra.
Ela guarda cada data e detalhe da batalha que travou contra a doença. Cada dia representa uma vitória, superação e fé. Com todos os protocolos concluídos, um ano e um mês após o diagnóstico, ela venceu o câncer. “A sensação maior é de gratidão, venci o câncer, a vitória me foi presenteada. Posso dizer que aprendi mais que sofri com minha enfermidade. Toda essa experiência vivida com o processo do câncer de mama me fez ver o quanto devemos nos cuidar. Aderi a um estilo de vida mais saudável, como uma boa alimentação e exercícios físicos”, conclui.
Histórias de medo, fé, superação e de valorização da vida
"O conselho que eu dou é que procurem o mastologista, façam exames. Quanto mais cedo o diagnóstico, mais cedo tem a cura" Luciene da Silva
Medo. Esse foi o sentimento de Luciene da Silva, 47 anos, ao ser diagnosticada com câncer de mama durante um exame de rotina. A doença e a perspectiva de tratamentos assustaram a vendedora, que tinha 45 anos na época. Foram quatro sessões de quimioterapia do tipo vermelha e outras 12 brancas.
A alegria veio ao concluir o ciclo de quimioterapia, no dia 30 de setembro de 2020, e tocar o sino instalado no hospital, simbolizando a vitória da primeira batalha. Em seguida ela precisou realizar a mastectomia total da mama e logo após passou por sessões de radioterapia.
“Tive bastante medo, mas Deus foi tão maravilhoso que me deu forças. Mudou minha vida. Hoje a gente vê as pessoas com outros olhos. A gente vê a vida mais bela. Tive uma chance e lembro com carinho de todo apoio que recebi dos familiares e amigos”, conta.
Muita fé
Foi o marido da dona de casa Adriana Ramos que percebeu um nódulo estranho em sua mama. De imediato ela não se preocupou, mas fez uma ultrassonografia que constatou um nódulo de 2,5 centímetros na mama. Em seguida ela fez uma mamografia, que não mostrou qualquer alteração. Moradora do município de Esperança, ela foi encaminhada para uma ONG em Campina Grande, onde passou por consulta com mastologista e fez uma punção no nódulo para realização de biópsia.
No dia 2 de fevereiro ela teve o diagnóstico de câncer de mama. Casada e mãe de três filhos, ela conta que ficou desesperada. Adriana passou seis meses fazendo quimioterapia, processo que foi concluído no mês de setembro. Em outubro ela fez a cirurgia de mastectomia radical e posteriormente radioterapia. “Deus é muito maravilhoso. Hoje estou aqui para contar a história. E vamos para a próxima etapa (reconstrução da mama). Seja feita a vontade de Deus. Durante o tratamento aprendi a dar mais valor à vida. Acreditar que Deus está à frente de tudo. O câncer me ensinou a não ter medo”, diz.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 01 de outubro de 2023.