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CUIDADOS COM A SAÚDE

Automedicação tem riscos ocultos

publicado: 13/06/2024 09h07, última modificação: 13/06/2024 09h07
Interações com outros remédios, intoxicações e dependência são os principais problemas que podem ocorrer
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Segundo a farmacêutica Leniete Cabral, a ingestão recorrente de remédios sem receita ajuda a mascara outras doenças | Foto: Roberto Guedes
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por Samantha Pimentel*

Ao sentir uma dor de cabeça, um incômodo na coluna ou mesmo uma dor estomacal, é comum que muitas pessoas se dirijam até a farmácia mais próxima em busca de um medicamento que possa aliviar esses sintomas. Porém, o uso desses remédios sem orientação e prescrição médica é um risco à saúde, pois pode encobrir doenças e levar ao desenvolvimento de problemas mais graves, como doenças renais, úlceras, hipertensão e até dependência química.

Segundo a farmacêutica Leniete Maria Cabral, que trabalha em uma farmácia de João Pessoa, alguns dos medicamentos mais comuns que são procurados sem receita são os analgésicos, anti-inflamatórios e corticoides, e que o uso contínuo dessas substâncias pode trazer sérios riscos. “Os anti-inflamatórios podem causar gastrite, diminuição das plaquetas e problemas de estômago, entre outros problemas. Os corticoides são ainda piores; além de gastrite, podem causar problemas renais e hipertensão, além de serem contraindicados para diabéticos e hipertensos. Mesmo assim, o pessoal utiliza, porque eles são vendidos sem receita”, disse.

Ela também disse que o uso indiscriminado de analgésicos, embora traga danos menores, não está isento de riscos. “Para quem tem problema de estômago, é muito ofensivo, pois irrita a mucosa, o que pode levar a gastrites e úlceras”, acrescentou. A automedicação também pode causar reações alérgicas: “Em pessoas mais sensíveis a determinados medicamentos, pode provocar urticária ou dor estomacal”, destacou.

Leniete acrescenta que a ingestão recorrente de remédios, sem orientação médica, ajuda a mascarar doenças que podem evoluir para quadros mais graves e difíceis de tratar. Ela cita o exemplo do medicamento Omeprazol, usado contra gastrite: utilizado em excesso, ele pode levar a uma úlcera. “Uma doença que poderia ter sido evitada. O ideal seria utilizar o medicamento por 30 dias, no máximo, mas muitas pessoas passam anos tomando, sem buscar um médico”, contou.

Médica faz alerta

Muitas vezes, esse ato pode ter consequências, como o agravamento de uma doença   --   Annelise Meneguesso

Conforme a médica endocrinologista Annelise Meneguesso, conselheira federal de Medicina, a automedicação pode ser definida como todo ato de tomar remédio por conta própria, sem orientação ou supervisão médica. “Muitas vezes, esse ato é visto como uma solução para o alívio imediato de alguns sintomas, mas que pode ter consequências, como o agravamento de uma doença que está escondida”, disse.

De acordo com Annelise, quando o corpo apresenta alguma anormalidade, como uma dor ou tontura, isso significa que algo não vai bem. “A causa desses sintomas deve ser investigada, e não mascarada pelo uso de medicamentos”, alertou. No caso de antibióticos, a atenção deve ser redobrada, quanto aos riscos da automedicação. “O uso contínuo pode afetar a resistência do organismo a essas substâncias, o que compromete a eficácia de tratamentos futuros”, observou.

Outro grande risco da automedicação é a interação de medicamentos diferentes, que pode causar reações adversas. “A pessoa toma o remédio para dor de cabeça, outro para cólica, outro para náusea e mais um para queimação no estômago. Um medicamento pode anular o outro ou, pior ainda, potencializar o efeito do outro, causando um risco ainda maior de acontecer algum dano à saúde”, enfatizou. 

O uso de medicamentos sem orientação também pode causar reações alérgicas ou mesmo dependência, como no caso de remédios para dormir. Por isso, a médica reforça que quaisquer medicações, até mesmo as vitaminas, podem trazer riscos e efeitos colaterais. “Por mais inofensiva que uma medicação possa parecer, existe a chance da pessoa ser acometida por efeitos colaterais, por eventos adversos”, afirmou.

Annelise Meneguesso enfatiza que o uso de medicações só deve ser feito com orientação médica, cumprindo também os horários e dosagens indicados pelo profissional. “A orientação do médico é que vai fazer com que você seja tratado de forma segura e combater o seu  problema de saúde de forma eficaz, em vez de aumentar o seu risco de adquirir outro problema”, finalizou.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 13 de junho de 2024.