por Lucilene Meireles*
Mesmo com todo o tratamento oferecido pela rede pública de saúde, a tuberculose é uma doença que ainda acomete muitos pacientes. A Secretaria de Estado da Saúde (SES-PB) informou que os registros nos meses de janeiro e fevereiro de 2022 representam 20% dos casos diagnosticados no ano passado. E a doença também mata. Este ano, foram oito óbito sem decorrência da tuberculose. Nos últimos cinco anos, houve o registro de mais de seis mil casos e 328 vítimas fatais.
“Uma preocupação grande é que a Covid-19 contribui para reduzir a imunidade e nós sabemos que podemos ter tuberculose em algumas situações. Com isso, a tendência é que a doença tenha um espectro pior”, observou a pneumologista Maria Alenita Oliveira. Ela afirmou que alguns estudos devem ser desenvolvidos em torno do tema, e destacou que o uso da máscara pode contribuir para evitar a contaminação.
Conforme a médica, alguns pacientes imunocompetentes têm uma doença que exige o uso de imunobiológico, principalmente na área de reumatologia. Eles também têm queda na imunidade e, habitualmente, é feita uma avaliação para ver se não tem infecção latente por tuberculose. Se positivo, é preciso fazer uma profilaxia para não ativar a tuberculose e agravar ainda mais o quadro.
A pneumologista explicou que a tuberculose clássica é causada pela bactéria Mycobactériumtuberculosis. Trata-se de uma doença infecciosa e transmissível, que afeta principalmente os pulmões, mas pode acometer outros órgãos. A transmissão é por via respiratória, assim como a Covid-19, através de tosse, fala ou espirro de uma pessoa contaminada e sem tratamento, e a inalação por uma pessoa susceptível. A forma extrapulmonar, que é a especialidade do atendimento no Ambulatório do Clementino Fraga, é pouco conhecida pelo público geral, por isso faz-se necessário o alerta. O bacilo da tuberculose pode afetar outras partes do corpo, assim como mamas, útero, coluna etc.
A Semana Contra a Tuberculose, realizada no Hospital Clementino Fraga, chama a atenção para a patologia, que pode ser letal se não tratada. Segundo a OMS, a pandemia da Covid-19 trouxe prejuízos ao tratamento da tuberculose em nível mundial, pois houve a interrupção dos serviços de saúde em um primeiro momento. Outros fatores são a falta de procura pelo serviço e o maior risco de transmissão entre populações vulneráveis.
Sintomas
Os principais sintomas são a perda de peso, tosse, secreção. A doença também causa febre, normalmente durante a noite. “O Ministério da Saúde diz que quem tem tosse há mais de três semanas precisa avaliar se tem tuberculose, já que é uma doença endêmica, que sempre está ali”, enfatizou a pneumologista Maria Alenita Oliveira, lembrando que essa campanha será reforçada hoje, no Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW).
A médica explicou que a doença tem cura, se tratada adequadamente, embora existam casos com resistência. Dependendo do quadro do paciente, o tratamento dura de seis a nove meses. Ela ressaltou que é um tratamento prolongado e necessita da adesão. A medicação é disponibilizada pela Secretaria de Saúde, que tem o controle sobre o tratamento de cada paciente.
“É importante seguir o tratamento pelo tempo necessário. Quem para no meio do caminho, pode ter recaídas. E a doença continua sendo uma das principais causas de mortalidade”, alertou. O diagnóstico é feito através do critério clínico, que é a presença de sintomas; o radiológico, que é uma imagem sugestiva e, por último, o bacteriológico, que é a identificação do microorganismo através da análise do escarro.
Pacientes em tratamento
Atualmente, na Paraíba, 1.024 pacientes estão em tratamento, mas conforme a Secretaria de Estado da Saúde (SES-PB), muitos têm desistido de seguir até o final. O percentual de desistência é de 8,4%. A SES lembra que diante da gravidade da doença e a observação do crescimento dos casos, a direção do Complexo Hospitalar Doutor Clementino Fraga (CHCF) convidou profissionais de saúde representantes de municípios paraibanos para um treinamento sobre a importância da atenção básica no combate à tuberculose.
A SES ressalta que, para o sucesso do tratamento, é fundamental que o profissional de saúde acolha e acompanhe o usuário no serviço de saúde desde o diagnóstico até a alta, garantindo a cura. O esquema de tratamento é padronizado pelo Ministério da Saúde e é gratuito.
O esquema básico para adultos e adolescentes é composto por quatro fármacos na fase intensiva (utilizados nos dois meses iniciais) e dois na fase de manutenção (utilizados nos quatro meses restantes). Já o esquema básico para crianças maiores de 10 anos é composto por três fármacos na fase intensiva e dois na fase de manutenção.
Todas as Unidades Básicas de Saúde estão aptas para diagnosticar e tratar. O usuário deve buscar atendimento na UBS mais próxima de sua residência. O atendimento nos serviços de referência secundária (Cajazeiras (UFJB), Sousa, Patos (Centro de Saúde Frei Damião) e Campina Grande (Centro de Referência Municipal) e terciária (CHCF) deve ser realizado através de encaminhamento médico em caso de complicações da doença ou reação adversa ao tratamento.
Dentro da programação alusiva ao Dia Mundial da Tuberculose, celebrado em 24 de março, o Hospital Clementino Fraga realizou uma série de atividades. Hoje, acontece a ação Clementino Itinerante, das 8h30 às 12h30, no Pavilhão do Chá – Centro de João Pessoa, com orientação para sintomas e exames de tuberculose e testagem para Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). A data foi criada em 1982, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em homenagem aos 100 anos do descobrimento, pelo médico Robert Koch, do bacilo causador da tuberculose.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 24 de março de 2022