Quem já passou por uma situação de afogamento ou chegou perto disso não esquece a aflição do momento. Não sentir os pés no chão, ter a sensação de ser tragado e de que suas forças não dão conta da pressão das águas são algumas das reações comuns a episódios desse tipo, que tendem a aumentar no período da primavera e, especialmente, do verão — quando praias, rios e piscinas tornam-se um alento sob o calor da estação. Assim aconteceu com Cleiton Costa, há cerca de seis anos, quando ele tomava banho junto com sua então namorada, atual esposa, em Baía da Traição, no Litoral Norte da Paraíba.
“Foi em uma região que tem uma coisa chamada ‘ondas de retorno’. É quando uma parte da água em que a onda chega na praia fica voltando, por baixo. Então, você não tem muito controle. É um risco para qualquer pessoa, mas, para quem não sabe nadar, como eu, pior ainda. Eu sempre fico ali, na água perto da praia, só brincando, mas não vou nadando. Aí, nesse trechinho, nessa parte, a água foi me puxando para um pouco mais longe da praia. De repente, eu me senti assim, com os pés fora do chão. Tudo se desestabilizou e foi daí para pior”, recorda Cleiton. A esposa dele ainda tentou ajudá-lo, mas não conseguiu e precisou chamar a atenção de quem estava na praia, até que um dos banhistas pudesse socorrê-lo. Depois, um guarda-vidas chegou ao local e tomou o controle da situação.
Conforme Cleiton as descreve, as “ondas de retorno”, também conhecidas como correntes de retorno, ocorrem quando a água empurrada para a praia, pelas ondas, retorna rapidamente para o mar, criando um forte fluxo em direção ao oceano. Entre as principais características visíveis desse fenômeno estão: águas mais escuras e sem ondas, como um “corredor”; espuma ou resíduos sendo levados pelo mar; e diferença na cor da água em uma área específica. Nadar contra uma corrente de retorno pode ser exaustivo e perigoso e a recomendação para escapar desse fluxo, de acordo com o Corpo de Bombeiros Militar da Paraíba (CBMPB), é mover-se paralelamente à costa.
Mas e quanto às boias? Elas não garantiriam a segurança necessária aos banhistas? Apesar de serem úteis em águas calmas, esses acessórios trazem, na avaliação das autoridades, uma falsa sensação de proteção, sendo mais indicados para piscinas, onde não há correnteza. Mesmo nesse caso, contudo, deve-se optar por boias que sejam homologadas pela Marinha do Brasil e que protejam o tronco e os braços do usuário, impedindo que este seja emborcado e fique sob a água durante o banho. Já, no mar, as boias infláveis podem representar, inclusive, um risco a quem a utiliza, uma vez que são passíveis de serem arrastadas por correntes.
Áreas próximas a rios e pedras também exigem atenção
No litoral paraibano, há alguns trechos que podem ser evitados pelos banhistas, a fim de mitigar possíveis riscos de afogamento. Além dos locais marcados pela ocorrência de correntes de retorno, é preciso ter atenção a áreas com forte presença de ondas maiores e de rochas, além de mudanças abruptas de profundidade e desembocaduras de rios.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, a população deve manter-se atenta, por exemplo, a correntes de retorno na Praia de Coqueirinho, no município de Conde, especialmente em zonas próximas a pedras, dando preferência à baía da região — que oferece uma praia de águas rasas, sem muitas ondas. Também é preciso ter cuidado com as áreas rochosas no maceió de Jacumã, outro local popular da orla de Conde. Já, na cidade de Pitimbu, o foco de atenção redobrada está em Praia Bela: as autoridades recomendam aos banhistas se concentrarem no maceió, longe da desembocadura do rio local, que não apresenta correntes de retorno, e manterem-se igualmente distantes do mar aberto.
No estado, a sinalização das praias é organizada por meio de placas e de bandeiras, utilizadas para indicar os níveis de segurança das diferentes regiões, assim como seus riscos específicos. As bandeiras vermelhas, por exemplo, indicam perigo extremo à população e recomendação de não entrar na água. Além disso, os guarda-vidas são distribuídos de acordo com o movimento das praias e com os períodos de maior fluxo de banhistas, como fins de semana e feriados, sendo que há reforço em pontos mais movimentados e perigosos durante os meses de alta temporada — incluindo o verão e as férias escolares.
Atualmente, durante os fins de semana, funcionam pontos fixos de guarda-vidas em praias como Cabo Branco, em João Pessoa; Coqueirinho e Tambaba, em Conde; e Praia Bela, em Pitimbu. No entanto, as equipes de segurança podem se deslocar, conforme as condições das praias e as demandas do dia. Em seu cotidiano, esses profissionais dispõem de embarcações, jet-skis, botes infláveis, quadriciclos, UTVs e automóveis com tração 4x4, para maximizar sua área de atuação.
Normas de segurança regulam tráfego de embarcações
Além dos perigos oferecidos pela maré, muitos banhistas acabam por se assustar ou se sentir inseguros quando algum tipo de veículo aquático passa por perto de onde estão — em especial, os motorizados, como lanchas e jet-skis, conhecidos por suas velocidade e mobilidade.
De acordo com legislação estabelecida pela Marinha do Brasil, embarcações movidas a motor precisam trafegar a uma distância de 200 m da costa, justamente por gerarem risco maior aos banhistas — devido, inclusive, às suas próprias hélices. A única exceção ocorre quando o veículo estiver retornando à costa, devendo, para isso, dirigir-se em velocidade reduzida e em linha reta, perpendicular à faixa costeira, com atenção aos banhistas. Por sua vez, embarcações sem tração a motor, seja a vela ou tração humana (como é o caso dos caiaques e da prática de kitesurf) devem ficar, segundo a Marinha, a 100 m da costa.
Caso essas regras não sejam cumpridas, o CBMPB pode intervir com advertência ao infrator e até encaminhar o caso para a Marinha, a fim de que o dono da embarcação se apresente à Capitania dos Portos. Se os bombeiros identificarem alguma situação de insegurança em relação a banhistas ou ao próprio condutor, ainda podem atuar como polícia, dando voz de prisão ou apreendendo o veículo envolvido.
Evitar bebida e mergulhar acompanhado são dicas importantes
Entre as principais orientações de segurança para quem quer apreciar um bom banho de mar com tranquilidade, o Corpo de Bombeiros destaca o respeito à sinalização, ou seja, a atenção a placas e bandeiras instaladas pelo órgão que indiquem possíveis áreas de perigo na praia. Além disso, não se deve entrar na água após consumir bebida alcoólica — este é, afinal, o principal fator de risco de afogamentos, já que o álcool reduz os reflexos do corpo e o banhista pode, dessa forma, não conseguir identificar uma situação de ameaça iminente a que esteja se submetendo.
Outra dica é que as pessoas evitem nadar sozinhas. De acordo com o CBMPB, estar acompanhado pode ser crucial durante emergências, como quando alguém passa mal, em meio às ondas, e necessita de companhia para ajudá-lo ou para pedir socorro.
Também é fundamental manter atenção às crianças. Elas compõem um dos grupos de risco de afogamentos, assim como jovens de 18 a 24 anos e pessoas com comorbidades — os três perfis mais frequentemente envolvidos em ocorrências desse tipo. Os menores de idade devem estar sempre próximos a um adulto (no máximo, à distância de um braço), mesmo em águas rasas.
Há, ainda, dicas específicas para aqueles que se dedicam ao nado em alto mar, como utilizar toucas reluzentes, para sinalizar sua presença a condutores de embarcações que transitarem por áreas próximas. Outra recomendação é usar uma boia rescue inflável ou de borracha, para assegurar flutuação caso o nadador passe mal, tenha uma cãibra ou esteja, por algum motivo, temporariamente impossibilitado de deixar o local.
Para qualquer situação de emergência identificada, deve-se acionar imediatamente o Corpo de Bombeiros pelo 192.
Saiba Mais
Confira algumas dicas de cuidados para banhos em outros locais:
- Piscinas: assegure-se de que a piscina tenha sinalização da profundidade e grade de proteção para crianças. Mesmo que a criança saiba nadar, é necessário o acompanhamento de um adulto. Também se deve ter cuidado com a sucção dos ralos do local;
- Lagos: embora não haja correntes como no mar, lagos podem apresentar águas turvas, quedas abruptas em profundidade e vegetação submersa, que pode prender pernas e braços;
- Evite saltos e movimentos bruscos, principalmente em águas desconhecidas, onde pode haver risco de lesões.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 03 de novembro de 2024.