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Parque Zoobotânico

Bica é refúgio para animais vítimas de maus-tratos e do tráfico

publicado: 07/05/2025 10h28, última modificação: 07/05/2025 10h28
2025.05.02 Animais Resgatados Bica_Macaco Prego Galego © João Pedrosa (32).JPG

Cinco representantes da espécie vivem, hoje, no parque | Fotos: João Pedrosa

por Samantha Pimentel*

Quem costuma visitar os cerca de 300 animais, de aproximadamente 80 espécies diferentes, que estão no Parque Zoobotânico Arruda Câmara (Bica), em João Pessoa, não imagina a história de cada um. Eles, que são atrações para adultos e crianças, muitas vezes fazem parte das estatísticas do tráfico de animais, foram resgatados de cativeiros ou sofreram acidentes e maus-tratos, por isso não podem retornar à natureza. Outros estão lá por condições como o albinismo, que influem em sua coloração e prejudicam sua sobrevivência em habitat natural. No local, eles recebem cuidados diários, e entre as espécies há aves, macacos, tamanduás, répteis, tartarugas, jacarés, leoas e diversas outras, além de animais de pequeno porte, como aranhas, borboletas e besouros.

Todos os animais recebidos no local foram enviados pela Polícia Ambiental ou pelos Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), ligados ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), como explica um dos médicos veterinários da Bica, Diego Pontes. “Isso é uma coisa que o pessoal acaba confundindo. Muitas vezes, acreditam que a gente pega esses animais da natureza e traz para cá. Ou então acontece que as pessoas tentam trazer esses animais e deixar aqui, e aí a gente não recebe. Todos os animais que vêm para aqui têm uma identificação. Então, se a gente for fiscalizado, todos esses animais têm microchip, têm um número de registro”, afirma.

Pontes ainda destaca que a maioria chega ao local após situações de tráfico de animais e que costumam apresentar mutilações, feridas, cegueira e outros problemas de saúde. “São animais que passam por uma triagem no Cetas, onde eles vão avaliar se esse animal tem condições de ser solto na natureza. E, se assim for, eles serão soltos. Ou, caso não, eles são encaminhados para espaços como o nosso aqui na Bica. Tem Cetas no Brasil todo, e eles podem encaminhar para fora também, para outros estados. A gente já recebeu animais de outros estados aqui também”, explica ele, que reforça que todos os animais que hoje estão na Bica ou chegaram por meio dessas instituições, ou nasceram no local, já em cativeiro.

Quando chegam à Bica, os animais passam por um processo de adaptação: “Muitas vezes, esses animais vieram de uma viagem estressante, e são animais silvestres. Então, por mais que alguns já estejam há um tempo no Cetas, são animais que normalmente não têm contato com humanos e não vai ser benéfico esse contato para ele. Por isso, quando chegam, a gente isola esses animais, eles têm um período de quarentena e ficam em observação. São realizados alguns exames e, posteriormente, são introduzidos nos recintos das espécies”, esclarece o médico veterinário.

Macaco-prego-galego foi redescoberto na Paraíba e em Pernambuco

Entre as espécies, Diego Pontes destaca o macaco-prego-galego, nativo da Mata Atlântica Brasileira, que é raro de ser encontrado na natureza e encontra-se em situação crítica de perigo de extinção. “Até alguns anos atrás ele tinha sido considerado extinto, e aí foi redescoberto aqui na Paraíba e em Pernambuco e, então, a gente ainda tem grupos desses animais aqui. Na Bica, hoje, temos cinco exemplares do macaco-prego-galego, e eles já conseguiram reproduzir”, enfatiza.

Diego explica que, quando os animais nascem em cativeiro, em alguns casos, eles podem ser enviados para projetos de reabilitação, para serem posteriormente soltos na natureza, mas que a grande maioria permanece vivendo em cativeiro.

O espaço do Parque Zoobotânico Arruda Câmara possui aproximadamente 23 hectares, sendo possível receber e abrigar muitos animais no local, a depender das necessidades de cada espécie. “Tudo depende de quais são os animais, de qual era o tamanho do recinto necessário. Porque cada animal tem uma necessidade individual, e aí têm os animais que são nativos aqui do Brasil, que é mais tranquilo a gente conseguir adaptar o recinto, têm animais que são exóticos, tipo a leoa, que são animais do continente africano. A gente tem macaco da Savana, que são animais que têm necessidades diferentes dos animais daqui do Nordeste brasileiro, por exemplo”, explica Pontes, que informa ainda que há uma legislação que determina o tamanho dos recintos, número de animais que podem coexistir em cada um, entre outros aspectos.

Os recintos para cada espécie devem atender às necessidades dos animais, por exemplo, os que normalmente vivem em áreas molhadas, como o guaxinim, devem estar em locais com areia e com uma parte molhada. “A gente vai tentando adaptar o recinto com a necessidade de cada animal”, afirma Diego Pontes.

Quanto à perspectiva de receber novos animais, o veterinário explica que não há como prever isso, porque depende da dinâmica de trabalhos dos órgãos que fazem os resgates, como o Cetas e a Polícia Ambiental, além da necessidade de atender as condições para receber adequadamente uma dada espécie. Porém, quase todos os meses são recebidos pequenos animais, sobretudo aves, muitas vezes de espécies já existentes no local. Diego ainda diz que a equipe da Bica tem a perspectiva de receber, por exemplo, um tamanduá fêmea, já que eles possuem um macho da espécie, mas que isso só pode acontecer caso surja um animal desse tipo, fruto de resgate, e que não tenha condições de ser devolvido a natureza.

Além do tamanduá-bandeira, que chegou recentemente ao local, em janeiro deste ano, outros novos moradores do Parque Arruda Câmara são os emus, aves exóticas originárias da Austrália, e uma anta que veio de Rondônia, sobrevivente de queimadas, e ganhou o nome de Margarida. O animal recebeu cuidados especiais, incluindo a primeira tomografia computadorizada realizada em sua espécie na Paraíba, e uma das primeiras também no Brasil.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 07 de maio de 2025.