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Bombeiros, policiais e integrantes do Samu contam histórias marcantes de resgates que terminaram com final feliz

publicado: 13/12/2021 08h48, última modificação: 13/12/2021 08h48
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A alegria da equipe de salvamento com Marcelo Serapião e o garoto Rafael Uchôa, salvo após um afogamento

por Beatriz de Alcântara*

Batman, Superman, Homem-Aranha, Capitão América, Viúva-Negra, Pantera Negra, Mulher-Maravilha... Nas histórias em quadrinhos não faltam exemplos de super-heróis, com suas capas e superpoderes, carros tecnológicos e armas para combater o mal. Na vida real, os heróis podem não ter poderes mágicos ou grandes armaduras, mas se doam para os outros a partir do trabalho que exercem e salvam tantas vidas quanto os heróis da ficção.

Atuando há cerca de 10 anos no Corpo de Bombeiros Militar da Paraíba (CBMPB), Marcelo Serapião, de 42 anos, é chefe-socorrista nas ambulâncias de resgate do Batalhão de Atendimento Pré-Hospitalar (BAPH), que fica localizado no Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, em João Pessoa. Serapião, como é conhecido, já fez inúmeros salvamentos e prestou uma série de serviços à população, mas, no ano passado enfrentou uma situação de vida ou morte em um atendimento que o emocionou de um jeito diferente.

Era um dia de setembro de 2020 quando a equipe de Serapião foi chamada para uma emergência de afogamento. De imediato sabia-se que se tratava de uma criança e, em casos como esse, o militar se apegava ainda mais a sua fé. “Geralmente quando eu vou para ocorrências que envolvem crianças, vou fazendo minhas orações na ambulância, porque a gente nunca sabe o que a gente vai encontrar. Quando falaram que era de afogamento e a criança tinha sido retirada sem vida, sem respirar, a gente já vai pensando no pior”, lembrou.

Além de todo o impacto da ocorrência, ao chegar no local do acidente, Serapião descobriu que a vítima era filho de um amigo e colega de trabalho também do CBMPB, Lenildo Magno. O bombeiro não sabe precisar, mas o menino Rafael Uchôa devia ter pouco mais de um ano de idade na época e também possui Síndrome de Down, fatores que deixavam a situação ainda mais apreensiva. “Já entrei na ocorrência com aquela situação de saber que se tratava de um sobrinho, do filho de um amigo, de um colega de trabalho de farda, um cara que eu respeito demais”, comentou Marcelo.

A primeira coisa que a equipe verificou foi que a criança estava parada. No local, anterior à chegada do socorro, já haviam feito os procedimentos básicos de salvamento, como sugar a água da criança, e conseguiram pulso por determinado período, mas a vítima não respondia mais e já aparentava estar ficando cianótico, com a pele azulada. O militar deu início ao procedimento de reanimação cardiorrespiratória, chamado de RCP.

“Na terceira insuflação da respiração boca a boca ele devolveu o ar para minha boca e voltou. Nós ficávamos intercalando entre a respiração boca a boca e a reanimação através das massagens, foi com isso que ele retornou”, explicou Serapião. Nesse momento, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou ao local, a criança foi entubada e socorrida para o Hospital de Trauma de João Pessoa, passando cerca de 15 dias em internação. “Hoje ele está saudável, é uma criança feliz e é uma alegria. Alegria para família, para a gente. Essa foi uma das ocorrências que mais me emocionou”, contou o militar.

Esse não foi o único salvamento marcante para Serapião. O bombeiro também compartilhou uma situação em que precisou prestar socorro via telefone na tentativa de salvar a vítima, que também era uma criança, dessa vez com 29 dias de nascido. O bebê se engasgou e não conseguia respirar, ficando em estado de cianose também.

“Eu estava apenas do outro lado da linha. Segundo os pais que estavam com ele, o bebê engasgou, ficou cianótico e parou de respirar. Então, através do telefone, eu os orientei para fazer os procedimentos corretos para o desengasgo e depois orientei a conduzir até a unidade hospitalar. Inclusive tenho contato com eles até hoje”, relembrou Serapião. Atualmente o garoto Pedro Henrique deve ter cerca de dois anos, de acordo com o militar.

Para o bombeiro, durante a ocorrência o único pensamento é o de conseguir obter êxito e dar o melhor para ajudar nessas situações. Contudo, quando termina e se percebe que conseguiu realizar o salvamento, “você fica até sem palavras e não sabe demonstrar o que realmente passa na sua cabeça, mas só gratidão mesmo”. Por outro lado, há casos em que não é possível salvar a vítima. “Então a gente se alegra quando consegue, mas também fica triste quando não consegue, mas tem que ter ciência de que a gente tenta sempre dar o melhor”, afirmou Serapião.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 12 de dezembro de 2021