por Ítalo Arruda*
A Paraíba possui 20 cavernas que estão distribuídas entre municípios que vão do Litoral ao Sertão. A maioria delas está localizada no Agreste, Seridó e Curimataú do estado, sendo essas regiões um grande potencial espeleológico (relativo ao estudo e exploração das cavernas). No entanto, é em João Pessoa e Santa Rita onde encontram-se as duas maiores cavernas paraibanas já descobertas e registradas, de acordo com dados do Cadastro Nacional de Cavernas do Brasil (CNC).
Com mais de 300 metros de extensão, a ‘Caverna da Onça’ fica dentro de uma propriedade privada nas imediações do Bairro das Indústrias, na capital paraibana, e é aberta para visitação de turistas, pesquisadores, universitários e demais interessados em conhecer o local. Para chegar até a caverna é preciso percorrer a pé uma trilha de aproximadamente dois quilômetros.
A cavidade é de composição arenítica (constituída por rochas sedimentares), e não é muito profunda. De acordo com pesquisadores, o desnível é de pouco mais de três metros com relação ao nível do solo. Além da vegetação de mata nativa, possui uma fauna diversificada, servindo de abrigo para morcegos, aranhas caranguejeiras, cobras e outras espécies animais.
Outra caverna paraibana bastante conhecida entre os praticantes do espeleoturismo (exploração turística de cavernas) é a Caverna do Índio, situada às margens do Rio Mumbaba, no município de Santa Rita. A caverna é a segunda maior do estado, com cerca de 180 metros de extensão e mais de quatro metros de profundidade.
Ela não possui grandes salões, mas no seu interior existem pequenos dutos, como se fossem túneis, que exigem que o visitante se abaixe para se locomover até outros espaços de difícil acesso. As características são bem parecidas com as da Caverna da Onça, sendo sua formação também composta por rochas areníticas e paisagem vegetal nativa da Mata Atlântica.
Ainda não se tem uma certeza com relação ao tempo de existência das cavernas espalhadas pelo estado, mas o geólogo Magno Erasto de Araujo afirma que há estudos científicos que comprovam que muitas serviram de abrigo às civilizações indígenas que viveram no território paraibano nos séculos passados. Ele também destaca que as cavidades naturais são “verdadeiros laboratórios” para os estudantes e pesquisadores da área.
Segundo o professor do Departamento de Geociência da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Saulo Roberto de Oliveira Vital, “conhecer de perto tais ambientes possibilita uma melhor compreensão sobre o funcionamento da flora e da fauna, os processos de formação, a existência ou não de rios subterrâneos, além das possibilidades de novas descobertas científicas”, ressaltando também a importância de preservar estes espaços.
A definição
Conforme o Decreto nº 6.640, de 7 de novembro de 2008, pode ser considerado caverna “todo e qualquer espaço subterrâneo acessível pelo ser humano, com ou sem abertura identificada, incluindo seu ambiente, conteúdo mineral e hídrico, a fauna e a flora ali encontrados e o corpo rochoso onde os mesmos se inserem, desde que tenham sido formados por processos naturais, independentemente de suas dimensões ou tipo de rocha encaixante”.
Atualmente, o Brasil possui 21.505 cavernas conhecidas, abrangendo os diversos tipos e tamanhos, como grutas, furnas, locas, fossos, abismos e outros. No Nordeste, estão catalogadas mais de três mil. Os dados constam no Anuário Estatístico do Patrimônio Espeleológico Brasileiro - 2020, divulgado este ano pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (Cecav) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Segundo o professor Saulo Roberto, o processo de formação de uma cavidade natural está associado a vários fatores, sendo o principal deles a dissolução de rochas como calcário, arenito, aragonita, entre outras.
“As rochas solúveis são a base de uma caverna. A dissolução, provocada por reações químicas entre ácidos presentes na água e elementos que estão na rocha matriz, causa fissuras, fraturas, falhas e dobras que se expandem e dão forma às cavidades”, explicou. Em alguns casos, o geógrafo ressalta que a erosão do solo pode resultar na modificação e evolução da caverna, alterando suas formas, cores e umidade em determinados períodos.
Histórias e descobertas
Com uma área de aproximadamente 160 hectares, o Parque Estadual Pedra da Boca (PEPB), localizado no município de Araruna, no Agreste, possui pelo menos quatro cavernas abertas à visitação, são elas: Caverna Cama do Caçador, Caverna Olho D’Água, Caverna da Zamboca e Caverna da Aventura.
Algumas carregam histórias curiosas, como a Caverna Cama do Caçador, que possui este nome porque foi encontrado, no interior da gruta, um bloco de pedra que se assemelha a uma cama. De acordo com o guia de turismo do PEPB, Maciel Santos, a cama teria pertencido a um nativo “que caçava na região e utilizava o local para descansar nos intervalos entre uma viagem e outra”.
Todas as cavernas no PEPB são de fácil acesso, com exceção da Caverna da Aventura, que, além da profundidade, também abriga morcegos, cobras e uma vegetação que dificulta a visitação dos turistas. Mesmo assim, o local é aberto ao público, desde que haja o acompanhamento de um guia autorizado.
Caminhos das Ararunas
Além do Parque Estadual Pedra da Boca, a trilha Caminho das Ararunas é outro atrativo turístico para quem busca por aventuras e exploração dos abrigos cavernícolas. Com mais de 110 quilômetros, a trilha atravessa montanhas, vales, sítios arqueológicos e complexos rochosos, nos quais pode-se perceber dezenas de cavernas, furnas e grutas ainda não registradas, como a Furna da Pedra Olho D’água dos Índios e Furna Pedra do Nariz, por exemplo.
De acordo com o presidente do Fórum de Turismo do Curimataú e Seridó Paraibano e coordenador da trilha, Ricardo Henrique, as duas cavernas foram descobertas recentemente, e, por isso, ainda não estão catalogadas na base de dados do CNC nem estão abertas ao público geral.
Caverna do Retiro
Em julho deste ano, pesquisadores do Grupo Paraíba de Espeleologia (GPE) e trilheiros da Associação União Caatinga descobriram a Caverna do Retiro, localizada no limite territorial entre os municípios de Pedra Lavrada (PB) e Parelhas (RN). Trata-se de uma cavidade em rocha cristalina, com cerca de 150 metros de extensão e sete metros de profundidade.
Ela é composta por blocos soltos de rocha, que foram se desprendendo naturalmente dos grandes matacões e dando forma à caverna, que foi descoberta com a ajuda de um morador da comunidade rural do Retiro e vem sendo estudada pelo GPE, sob a supervisão do espeleólogo e arqueólogo Juvandi Sousa Santos.
No teto escuro da Caverna do Retiro foram encontrados misteriosos pontos reluzentes, que podem ser fungos ou algas. Também foram encontrados pequenos lagos com água cristalina e algumas espécies de peixes, aranhas, morcegos e sapos. O local está aberto ao turismo.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 12 de dezembro de 2021