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Brechós são a moda do futuro

publicado: 29/05/2023 13h52, última modificação: 29/05/2023 13h52
Clientes e empreendedores reconfiguram as relações de consumo através da sustentabilidade e rentabilidade
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Repasse de peças usadas e seu consumo por outras pessoas reduzem os impactos ambientais na produção de novos itens - Foto: Roberto Guedes
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Além de uma imersão semelhante às lojas de departamento ou de grandes marcas em centros comerciais, os brechós também podem ser mais intimistas, ofertando experiências diversas - Foto: Roberto Guedes
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Foto: Roberto Guedes
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"O mercado tomou uma nova configuração porque a temática da sustentabilidade está cada vez mais presente" Adriana Nóbrega - Foto: Roberto Guedes
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"Todos estamos vivendo o momento de virada de um negócio milenar. É a hora de olhar para o guarda-roupa!" Tatá Timóteo - Foto: Roberto Guedes
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por Taty Valéria*

Consciência social, preocupação com o meio ambiente e uma mentalidade livre de preconceitos. Assim é o novo perfil das consumidoras e consumidores de brechós que, muito além de um preço mais em conta, procuram uma nova forma de se enxergar e de enxergar o mundo. Diene Toscano, proprietária do brechó Soul Consciente, com três lojas em João Pessoa e expandindo para outras cidades e estados com filiais, se surpreende com essa mudança. “É impressionante essa transformação de pensamento. Acho que a conscientização vem acontecendo ao longo dos anos, um degrau de cada vez, mas que está fluindo surpreendentemente bem”, diz Diene.

A fala de Diene é refletida em dados quantitativos: enquanto o mercado de brechós cresceu cerca de 30% em 2022, o comércio varejista praticamente estagnou. Os dados são da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e podem significar que os consumidores da moda estão buscando, além de roupas e calçados novos, um produto que reflita, também, sua visão de sociedade. É o caso da psicóloga Angélica Dias, que virou consumidora de brechó há dois anos.

“Eu era uma pessoa muito consumista, mas fui revendo esses conceitos e enxergando que a compra consciente se adequava mais aos meus próprios valores de vida, ao que eu procurava, ao que eu penso sobre bens materiais. Então esse conceito de brechó casou muito com meu estilo de vida, procurar gastar menos e reaproveitar mais”, afirmou. Quem imagina um brechó naquela configuração de uma pequena sala ou garagem, com uma ou duas araras de roupas velhas e mal cheirosas, é bom rever seus conceitos.

As novas lojas de brechós possuem uma apresentação diferenciada, com boa curadoria, roupas bem passadas, num ambiente que não deixa nada a desejar às lojas de shoppings. Adriana Nóbrega, dona do brechó Jardim das Margaridas, localizado em Manaíra e um dos mais antigos de João Pessoa, afirma que, no início, as pessoas tinham receio. “As pessoas chegavam com aquele pé atrás, sem saber ainda o que iam encontrar, porque tinha aquela percepção de que brechó tem roupa velha, fedorenta. Com o passar do tempo, as pessoas começaram a perceber que o brechó é uma loja como qualquer outra, só que diferenciadas”, ressaltou.

Experiência de proximidade e de cuidado com o planeta

Diene Toscano montou a Soul consciente com o intuito de trazer uma prática diferente do que se conhecia como brechó tradicional. “Quis proporcionar uma experiência diferente, confortável, onde o cliente se surpreenda com a qualidade das peças, com a disposição, da loja. Tudo é pensando com esses objetivos”, falou. Tatá Timóteo, proprietário do brechó Replay, entende que o principal diferencial dos brechós em relação às lojas convencionais, é justamente um atendimento mais próximo ao cliente.

“Aqui todos se sentem em casa. Me preocupo muito com o bem-estar de meus clientes. O atendimento é bem humanizado, com música, espaço para trabalho remoto, cafezinho, literatura, boas conversas, trocas de experiências. E, lógico, peças exclusivas a partir de um bom garimpo e com preço justo. Seja como empreendedor, ou como consumidor, uma coisa é certa: todos estamos vivendo o momento de virada de um negócio milenar. É a hora de olhar para o guarda-roupa!”, falou.

Olhar para o próprio guarda-roupa é a primeira dica que Diene Toscano aponta para quem pretende se tornar consumidora de brechós. “A experiência do brechó começa em casa. Abra o guarda-roupa, veja peças que você não usa mais, que estão ali só ocupando espaço. Se você não usa aquela peça ou nem lembrava que ele ainda existia, significa que ela pode ser vendida ou trocada”. Tanto na Soul quanto no Jardim das Margaridas, as clientes podem levar roupas em bom estado, que serão avaliadas e poderão ser trocadas por créditos nas próprias lojas.

Tripé de sustentabilidade

O impacto econômico, ambiental e social, chamado de tripé da sustentabilidade, representa o conceito e a essência do brechó. Roupas com preços acessíveis, com zero impacto no meio ambiente e consequentemente, com benefícios para toda a sociedade.

O Brasil, terceiro maior produtor mundial e quarto maior consumidor de jeans, consome 5,2 mil litros de água na produção de uma única calça jeans, desde o plantio da fibra de algodão até o pós-consumo. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), uma pessoa precisa de 100 litros por dia para atender suas necessidades básicas, resultando em três mil litros por mês.

“Hoje ressignificamos o que é consumir em brechó e o que é consumir objetos que não precisam ser produzidos. Esse mercado tomou uma nova configuração porque essa temática de sustentabilidade está cada vez mais presente na mídia em virtude da necessidade do mundo ter uma nova conscientização em relação ao meio ambiente, ao aquecimento global e ao impacto que essa indústria da moda pode representar no mundo”, finalizou Adriana Nóbrega.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 28 de maio de 2023.