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Cachaça da Paraíba se destaca no país

publicado: 13/09/2023 09h08, última modificação: 13/09/2023 09h08
Hoje é celebrado o dia nacional do produto. Estado produziu no ano-safra 2022 cerca de 25 milhões de litros do destilado
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Variedade da bebida e da forma de apresentação com uso de garrafas diferenciadas tem gerado valor do produto paraibano no cenário nacional e internacional - Foto: Marcos Russo
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A Paraíba tem registrado no Ministério da Agricultura mais de 80 marcas da aguardente e 50 engenhos produtores - Foto: Marcos Russo
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Foto: Marcos Russo
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por Lucilene Meireles*

A Paraíba, conhecida pela qualidade de suas cachaças, produziu, no ano-safra 2022, aproximadamente, 25 milhões de litros da bebida. O estado, que tem o maior produtor individual de cachaça de alambique, só perde, em volume de produção e em quantidade de produtores, para Minas Gerais, de acordo com dados da Associação Paraibana dos Engenhos de Cachaça de Alambique (Aspeca). Para comemorar o sucesso da cachaça paraibana e o Dia Nacional da Cachaça, celebrado hoje, o Sindbebidas/Fiep promove um coquetel hoje, na Casa Fiep, bairro do Cabo Branco, a partir das 18h, com apoio da Aspeca e da Associação dos Produtores de Cachaça de Areia (APCA).

Marise Barreto Rocha, diretora-executiva da Aspeca, ressalta que, além da forte geração de emprego, duas ou três cachaças paraibanas estão entre os 100 maiores ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) do estado. “É um impacto considerável na economia paraibana”, constata.

Entre produtores formais e informais, há pelo menos 100. Em relação aos cadastrados, com registro no Ministério da Agricultura e Receita Federal, são mais de 80 marcas e cerca de 50 engenhos que produzem e engarrafam.

Em termos de vocação, conforme analisa a diretora, a Paraíba produz cachaça do Litoral ao Sertão. Assim, a maioria das cidades tem potencial, tradição e cultura de produzir a bebida. Por outro lado, no que se refere à quantidade de engenhos em uma única cidade, Areia ocupa o primeiro lugar, sendo a capital paraibana da cachaça. Por lá, Marise Barreto estima que existem em torno de 20 engenhos. Alguns produzem e engarrafam; outros, produzem e vendem a granel, mas não engarrafam; e tem engenho que está parado, ou seja, de “fogo morto”.
Para produzir sua cachaça, a Paraíba praticamente não importa nada porque todos os insumos são encontrados no Brasil. No entanto, alguns produtores estão importando garrafas exclusivas e diferenciadas pela falta de oferta no mercado; algumas barricas de carvalho também, já que não são produzidas no país. “Já temos, porém, muita cachaça na Paraíba envelhecendo em madeiras brasileiras como jequitibá rosa, amendoim, jaqueira”, conta.

A cachaça paraibana também tem sido exportada para o exterior. Conforme a diretora-executiva da Aspeca, há um engenho no estado que exporta continuamente. Outros fazem exportações esporádicas, quando recebem pedidos.

Qualidade é o diferencial

O diferencial maior da Paraíba é a produção da cachaça branca, conhecida como cristal. A tradição do estado é produzir esse tipo de cachaça que é descansada em barris de freijó do Pará, uma madeira que não dá cor e nem sabor à bebida. “Isso sem contar com a qualidade, o cuidado com as cachaças que os nossos produtores têm. Não colocam uma cachaça de baixa qualidade no mercado, que nós conquistamos pela qualidade e pelo diferencial de ser cristal”, ressalta Marise Barreto.

Exatamente por ser de excelência, a cachaça paraibana é exportada com frequência para os Estados Unidos e esporadicamente para a Europa, incluindo países como Portugal, França e Itália.

Qualidade do destilado gera reconhecimento

A cachaça paraibana é reconhecida pela sua qualidade e isso faz com que os produtores se sintam muito reconhecidos. A bebida, inclusive, é premiada nacional e internacionalmente como, por exemplo, na Revista Playboy, que tinha um ranking das cachaças brasileiras, e até em concursos internacionais, como o de Bruxelas, na Bélgica.

A cada dois anos acontece a Cúpula da Cachaça que reúne jornalistas da área, pesquisadores e especialistas na elaboração de um ranking nacional dividido por categoria da bebida e, em todas as edições, diversas cachaças da Paraíba figuram no ranking.

Marise conta que, antes, ao chegar em São Paulo, que é o maior comércio do país, não se conhecia as cachaças da Paraíba, especialmente pela proximidade com Minas Gerais que é o maior produtor do destilado. Hoje, através do trabalho da Aspeca, junto com o Governo do Estado, Sebrae, Federação das Indústrias, os produtores passaram a participar de feiras, workshops, seminários, divulgando a cachaça paraibana em feiras não só em São Paulo, mas em estados como Rio de Janeiro e Minas Gerais, usando a marca Cachaças da Paraíba.
“As cachaças da Paraíba são sempre procuradas em eventos de cachaça no Brasil, mas mesmo com todo o reconhecimento, não podemos relaxar. Temos que manter o trabalho para continuar firmando nossas cachaças”, ressalta Marise Barreto.

História

“Velha de 500 anos, a bebida nacional brasileira, a cachaça, foi mantida por baixo do pano, ignorada pelo governo e suas elites sociais e culturais até mais de meio século atrás, a partir de quando passou a ser prestigiada por publicações promocionais e com o registro de um expoente da pesquisa e dos estudos da cultura popular, o mestre Luís da Câmara Cascudo (...)”, diz um trecho da Carta das Cachaças da Paraíba, produzida pela Aspeca há cinco anos, com texto escrito pelo jornalista Gonzaga Rodrigues. Nela, é contada um pouco da história da cachaça no Brasil e a história da bebida na Paraíba.

E segue: “Mas, vem do gênio nordestino de Câmara Cascudo um basta na onda de preconceito da elite de historiadores, que sempre desconsiderou um tema de importância não somente sociológica como, igualmente, econômica, presente na vida do Brasil desde as primeiras sagas da sua construção. Utilizada como moeda de troca no tráfico negreiro, na perseguição e no uso do braço decisivo à fundação das lavouras de sustentação econômica, malgrado seu emprego como bebida euforizante do trabalho forçado”.

Já temos muita cachaça na Paraíba envelhecendo em madeiras brasileiras como jetiquibá rosa, amendoim e jaqueira 

“Tinha a sua sedução, seus bons efeitos e terminou bebida do povo, letra de samba, solfejo animado extravasado da senzala, do trabalho sofrido, da roedeira, para a música mais expansiva e aberta do Carnaval”, diz outro trecho, citando músicas conhecidas da Festa de Momo, que fazem alusão à cachaça. “Mas, no mundo de sobrevivência forçada pela agricultura da cana, como no Brejo paraibano, as condições da maioria não davam para saçaricar, para rebolar no ritmo dos carnavais”.

“É inegável, portanto, a importância da Paraíba até mesmo antes da conquista, selada em 1585. Em 1516, data atribuída ao primeiro engenho e motivadora de manchete na Folha (de São Paulo), já preexistia uma convivência dos nativos potiguara e tabajara com os moradores vizinhos, sem dúvida associada à economia primitiva e, quem sabe, à própria cana- de-açúcar (...)”.

Confraria Paraibana

A Confraria Paraibana de Cachaça (Conparça) realiza, até o sábado, uma ação de incentivo à doação de sangue. A iniciativa visa chamar a atenção da população para o reforço contínuo dos estoques de sangue nos hemocentros.

Formada por médicos, professores, jornalistas, atores, engenheiros, profissionais liberais e produtores de cachaça, dentre outros, a Conparça trabalha pelo consumo consciente e responsável da cachaça, além da valorização da “branquinha”, que é um dos destilados mais completos e mais complexos do mundo. Quem deseja aderir à ação social da Conparça, deve apresentar o código da campanha ao chegar ao Hemocentro da Paraíba. Código: 771.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 13 de setembro de 2023.