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Câncer de pulmão afeta paraibanos

publicado: 07/05/2025 10h17, última modificação: 07/05/2025 10h17
Doença, que muitas vezes não apresenta sintomas, pode ser curada se descoberta ainda em sua fase inicial
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Os números de pessoas com câncer de pulmão são altos, o que torna ainda mais necessário o acompanhamento, sobretudo entre os tabagistas | Ilustração: Bruno Chiossi

por Samantha Pimental*

Dados apontam que a incidência de câncer no trato respiratório inferior (traquéia, brônquios e pulmão) é a terceira maior na Paraíba e acomete mais homens do que mulheres. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), para o triênio 2023 –2025, são estimados 32.560 novos casos da doença no Brasil (18.020 em homens e 14.540 em mulheres), sendo 520 na Paraíba (260 em homens, e 260 em mulheres). 

De acordo com a taxa bruta de incidência por câncer, acontecem 13,21 casos a cada 100 mil homens e 12,43 a cada 100 mil mulheres. Quanto aos óbitos, o dado mais recente é do Atlas da Mortalidade por Câncer do Inca e corresponde ao ano de 2023. Segundo o documento, 544 pessoas morreram, na Paraíba, em decorrência da doença (278 homens e 266 mulheres). Em todo o país, foram registradas 31.239 mortes (16.758 homens, e 14.479 mulheres).

Acompanhamento

O médico pneumologista Thiago Fagundes, que integra o Comitê de Câncer da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) e é também supervisor da residência em Pneumologia da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), destaca que os índices alertam para a importância da prevenção e do diagnóstico precoce, que podem ajudar a reduzir o número de incidências. O especialista informa que a doença pode ser silenciosa e, muitas vezes, os sintomas só aparecem em um estágio avançado; portanto, não se deve esperar para procurar um médico. “A recomendação é que os pacientes que já foram, ou são fumantes, procurem um pneumologista para fazer uma avaliação, com o objetivo de saber se estão num perfil do que a gente chama de rastreamento para câncer de pulmão”, explica.

Segundo a SBPT e a Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (SBCT), a  recomendação é que o rastreamento seja feito em indivíduos que tenham fumado nos últimos 15 anos, apresentem idade de 50 a 80 anos e possuam uma carga tabágica (quanto uma pessoa consumiu cigarro ao longo da vida), acima de 20 anos-maço (calcula-se em média um maço — 20 cigarros — e se uma pessoa consumiu um maço a cada dia, por 20 anos, a carga tabágica calculada será de 1x20 = 20 anos-maço).

“Os pacientes, dentro desses critérios, deveriam procurar o atendimento, mesmo sem sintomas, para poder fazer uma busca ativa, um rastreamento para câncer de pulmão”, reforça o pneumologista, esclarecendo que o tabagismo é o principal fator de risco para a doença. “E qualquer forma de tabagismo, seja cigarro [convencional], cigarro eletrônico, narguilé, cachimbo, também aquilo que a gente chama de queima de biomassa, aquelas pessoas que tiveram uma exposição prolongada a fogão a lenha, que trabalham com forneria e que estão diretamente nessa exposição, elas também seriam um grupo de risco”, afirma.

Além desses grupos, o médico identifica, ainda, como grupos de risco para o câncer de pulmão, os profissionais que atuam em indústrias de minério, marmoraria e pessoas que lidam com uma fibra chamada de asbesto. Outras condições, como a exposição à radiação, doenças crônicas ou genéticas e algumas infecções de repetição podem influenciar nas ocorrências.

Diagnóstico precoce

O médico informa que a sobrevida de uma pessoa com câncer de pulmão pode ser curta quando a doença é diagnosticada em um estágio avançado, ou seja, na sua fase metástica. Contudo, ressalta a importante do diagnóstico precoce e o quanto ele salva vidas, porque permite o tratamento cirúrgico, que, segundo ele, é o único tratamento curativo da doença.

Mesmo nos casos mais avançados é possível fazer o tratamento por meio de medicamentos, radioterapia e cessação de tabagismo, o que prolonga a vida do paciente. O pneumologista explica que, atualmente, existem pacientes com câncer de pulmão, em metástase, vivendo por 10 anos com a doença de forma controlada. “O tratamento, hoje em dia, para o câncer de pulmão é bem personalizado, de acordo com o tipo de câncer, de acordo com as localizações e com os subtipos que esse câncer tem. Então é possível fazer um tratamento bem desenhado, com drogas que a gente chama de ‘drogas alvo’, e isso melhora bastante a sobrevida”, reforça.

O profissional ainda lamenta que grande parte dos pacientes já chegam com diagnóstico atrasado, o que reduz as chances de cura, possível com o descobrimento precoce da enfermidade. “Quanto antes for o diagnóstico da doença, mais instrumental, mais recursos, iremos ter para poder tentar vencê-la”, enfatiza.

Thiago Fagundes toma o exemplo do Sistema Único de Saúde (SUS), informando que é necessário melhorar o seu processo de rastreamento e encaminhamento para pneumologistas e cirurgiões torácicos, potencializando as políticas públicas de combate ao câncer de pulmão. “Infelizmente, se esperarmos os sintomas para ter o diagnóstico, o que vai acontecer é o que já temos hoje, a descoberta de doenças avançadas, com baixa possibilidade de cura”, conclui o pneumologista, destacando que a adoção de hábitos mais saudáveis, sobretudo o de não fumar, são essenciais na prevenção da doença.

Sintomas

  • Tosse persistente;
  • Escarro com sangue;
  • Dor no peito;
  • Rouquidão;
  • Falta de ar;
  • Perda de peso e de apetite;
  • Pneumonia recorrente ou bronquite;
  • Sensação de cansaço ou fraqueza.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 07 de maio de 2025.