José Alves
O principal e o mais antigo cemitério público de João Pessoa, o Senhor da Boa Sentença, situado no bairro do Varadouro, sofre com depredação, roubo de peças e sujeira, além do mato que dificulta o acesso dos visitantes aos túmulos. O pior é que as pessoas que desejam visitar os jazigos dos entes queridos e querem dar um passeio pelo local, saem horrorizadas porque encontram ossadas expostas e túmulos quebrados. Com 271 anos de existência, e mesmo tendo parte de sua área tombada pelo Patrimônio Histórico da Paraíba, o Boa Sentença também sofre com a ação de vândalos, que entram e roubam constantemente peças feitas em bronze, a exemplo de crucifixos, argolas e placas dos túmulos.
A reportagem tentou contato com a administração do cemitério no local, mas o responsável informou que não poderia dar entrevistas. Para a visitante Gerusa dos Santos, os roubos que acontecem no Boa Sentença mostram a falta de respeito do governo municipal com as famílias que enterram seus entes queridos no local. Ela revelou ainda que esses absurdos também acontecem nos outros cemitérios públicos da cidade.
Segundo uma das zeladoras do Boa Sentença que não quis se identificar para não sofrer retaliações da administração, o cemitério está realmente abandonado. “Sou zeladora há anos e sou testemunha de que vários túmulos daqui já foram violados e roubados. O pior é que as famílias dos mortos muitas vezes têm que arcar com todas as despesas para ajeitar os túmulos que inclusive são violados por pessoas que trabalham aqui”, revelou.
Ela relatou também que quando uma pessoa chega lá e encontra o túmulo da família violado e pede ajuda a alguma outra pessoa que se diz zelador para fazer o conserto, o falso zelador acerta o serviço e ao invés de comprar peças novas, rouba o produto de outros túmulos e vende peças roubadas para quem o contratou como se fossem novas. A zeladora que não quis se identificar garantiu que esse tipo de golpe acontece muito no local. “Na verdade, aqui existe uma máfia que utiliza muito esse tipo de golpe”, disse ela, complementando que a principal reclamação dos visitantes é sobre a falta de limpeza.
Cemitério será preparado para Dia das Mães
Segundo o chefe da Divisão de Cemitérios da Secretaria do Desenvolvimento Urbano do Município (Sedurb), Willames Viana, as famílias que procuram a administração do cemitério em casos de roubo de peças dos túmulos geralmente são ressarcidas. “Acredito que os roubos que acontecem no Boa Sentença sejam de algumas pessoas que residem na comunidade Bela Vista, que fica por trás do cemitério. A administração já fechou uma entrada que existia no muro de trás, mas eles (os moradores) já arrombaram o muro, abrindo uma nova passagem”, revelou Viana.
O chefe da Divisão de Cemitérios informou que a segurança naquele campo santo é feita por cinco homens, mas os vândalos agem geralmente no período da noite e entram pela passagem que eles abriram nos fundos do cemitério, local onde os seguranças não costumam ir no período noturno.
No que diz respeito ao muro que caiu deixando algumas catacumbas abertas na parte esquerda de quem entra no Boa Sentença, deixando expostas diversas ossadas, os próprios zeladores do local afirmaram que elas estão à mostra há cerca de seis meses. Mas, por outro lado, o chefe da Divisão de Cemitérios da Sedurb disse que o muro que cobria as catacumbas caiu recentemente após as últimas chuvas e que em breve o conserto será feito.
Viana informou também que o trabalho de capinação e remoção de lixo vai começar a ser feito na próxima semana para preparar o cemitério para a visitação do Dia das Mães. “O lixo aliás, já começou a ser retirado do local”, concluiu.
Meio Ambiente
Para o promotor de Justiça do Meio Ambiente e do Patrimônio Social de João Pessoa, João Geraldo Barbosa, o Boa Sentença é um dos locais que concentra grande acervo do patrimônio histórico, cultural, arquitetônico e artístico de João Pessoa. “Lá repousam os restos mortais de inúmeros paraibanos ilustres e outros que contribuíram para a história do Estado, além da própria estrutura de alguns túmulos ser a prova viva de detalhes arquitetônicos e artísticos de épocas passadas”, disse o promotor, ressaltando que o local merece mais respeito e cuidado.