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Igrejas e casario construídos ao longo dos 436 anos de história da cidade revelam estilos de diferentes épocas

Centro Histórico: a rica variedade arquitetônica de JP

publicado: 18/04/2022 09h19, última modificação: 18/04/2022 09h19
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Fotos: Marcos Russo

por Beatriz de Alcântara*

O ano era 1585 quando, às margens do Rio Sanhauá, uma nova cidade se delineava. A quarta mais antiga do país, construída depois de Salvador, São Paulo e do Rio de Janeiro. Ali, junto ao rio, se constituía uma capital que só receberia o nome de João Pessoa muitos anos depois. O local de seu berço hoje é conhecido – e reconhecido – como Centro Histórico, o ponto de partida para o desenrolar de 436 anos de história. A identidade arquitetônica do lugar é marcada por referências tradicionais do período colonial, como o barroco, o rococó, o neoclassicismo e a art-nouveau.

De acordo com Eudes Raony, arquiteto e professor do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), a arquitetura da cidade de João Pessoa em seu início de formação, quando ainda se chamava Filipeia de Nossa Senhora das Neves, tem uma característica típica das cidades portuguesas.

“A lógica urbana da cidade colonial é a lógica de uma típica cidade portuguesa ou de uma típica colônia portuguesa, que é composta por uma área de ribeira – com a parte baixa, onde aconteciam as atividades comerciais, e a cidade alta onde estavam as questões administrativas e agrupava a sociedade (elite), as pessoas mais ricas do governo, as ordens religiosas, entre outros”, pontuou.

Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), são 502 edificações tombadas em uma área de 370 mil m², abrangendo 25 ruas e seis praças, desde o Varadouro, nas proximidades do rio Sanhauá, até as imediações da Duque de Caxias. No momento do tombamento, o Centro Histórico de João Pessoa foi inscrito nos livros Histórico e Arqueológico, bem como Etnográfico e Paisagístico. A iniciativa pretendia conservar a história do local e também suas referências artísticas, visto que possui uma diversidade de estilos e épocas arquitetônicas.

Arquitetura e arte andam juntas

A classificação das sete artes surgiu na Grécia, durante o século 17, e ficou conhecida também como o conceito de belas artes. Nessa época, definiu-se que o termo seria utilizado para pintura, escultura, música, literatura, dança e arquitetura. Por fim, ao incluir o cinema em meados do século 20, o conjunto ficou completo.

Ou seja, a arquitetura, sempre se enquadrou como uma manifestação artística e, por conta disso, por muito tempo seus estilos e seus períodos andaram lado a lado com as referências da história, de maneira geral, e da arte. No Centro Histórico é possível ver muitas das marcas desses períodos.

A exemplo, o conjunto arquitetônico de São Francisco, que abarca o Convento de Santo Antônio e a Igreja de São Francisco. Ele é considerado um dos complexos mais importantes do Brasil quando se fala em período barroco.

Segundo a arquiteta Amanda Roth, especialista em patrimônio histórico, a construção da igreja foi concluída em 1770, depois de ter tido a obra interrompida em decorrência da invasão holandesa. “A parte relativa ao convento foi iniciada em 1590 pelo Irmão Francisco do Campo Mayor, depois de projetado pelo frade e arquiteto Francisco dos Santos”, dividiu Roth em publicação no blog Arquitetando Rotas.

Na construção do conjunto de São Francisco se destacam a torre coberta por azulejos e suas superposições de abóbadas, também “as talhas de arenito de folhagens e flores estilizadas, se entremeiam com relevos barrocos”.

O púlpito possui uma talha dourada trabalhada que foi considerada única no mundo pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco); o pátio do convento é do estilo mourisco – grupo de espanhóis muçulmanos que foram batizados depois do pragmatismo dos reis católicos em 1502 e na escadaria os detalhes são reflexos das influências de povos originários como incas e astecas. 

Barroco é estilo que se destaca

Outro exemplar do barroco no centro histórico de João Pessoa é a Igreja e Convento de São Bento, na avenida General Osório. Conforme destaca Amanda Roth, “um dos aspectos que mais chamam a atenção em sua concepção é a grande harmonia de suas linhas. É sem sombra de dúvidas um dos exemplares mais bonitos do barroco brasileiro”, apontou a especialista em uma de suas publicações do Arquitetando Rotas.

Além destes dois, o Teatro Santa Roza, considerado o terceiro mais antigo do Brasil, também é um cartão-postal indicativo da força do barroco na capital. De acordo com material da arquiteta, a construção apresenta uma influência forte do barroco original da Itália. A pedra calcária nas paredes e os camarotes – e estruturas do interior – constituídos de madeira de Pinho de Riga (que se assemelha a uma embarcação) são alguns exemplos de materiais utilizados na obra.

O barroco é, possivelmente, a corrente artística mais importante do período colonial e, surgido na Itália, chegou ao Brasil através dos jesuítas. A influência religiosa foi somente uma das fontes da qual o barroco bebeu, tendo como outras referências a arquitetura da Europa, principalmente a portuguesa. As principais características do estilo no Brasil são os jogos de luz e sombras, murais e pinturas, uso de elementos em madeira e pedra-sabão.

A mistura que produz identidade

“As obras de modernização nas primeiras décadas do século 20 deram à área a feição urbana que conhecemos hoje; os casarões ali existentes (proximidades do Porto do Capim) também datam da mesma época, cujo estilo eclético varia entre o neoclássico e o art-déco”, explicou Eudes Raony, arquiteto e professor do IFPB. A arquitetura eclética é quando há a combinação de dois ou mais estilos e referências artísticas nas obras, como nos detalhes da Igreja de São Francisco, por exemplo. Esse estilo está bem presente nas imediações da Praça Antenor Navarro e também no Hotel Globo.

A praça, que possui em seus arredores as casas coloridas que chamam atenção em quem desce do bairro do Centro para o Varadouro pela Rua Cândido Pessoa, nasceu, segundo Roth, em um período que impulsionou uma série de projetos urbanísticos entre 1920 e 1930. Em relação à arquitetura, o estilo predominante é o art-déco.

O Hotel Globo possui em seu estilo arquitetônico as influências da chamada art-nouveau, além de também ter elementos da art-déco e do neoclássico. Ainda no ramo hoteleiro, o Paraíba Palace, no Centro de João Pessoa, também é um exemplo de arquitetura com elementos da arte-nouveau. Assim como o estilo, o prédio teve seu auge entre as décadas de 1930 e a de 1960.

O estilo denominado de “art-déco” surgiu na França, na década de 1920, e tem a escultura do Cristo Redentor como um de seus principais exemplares.

No mesmo período, por volta da década de 1920, surge o estilo art-nouveau marcado pela associação com a natureza. Além disso, dentre suas principais características estão as linhas curvilíneas e assimétricas, as formas orgânicas, o design considerado extravagante, priorizar materiais como vidros e o ferro e, de certa forma, se assimilar ao barroco e o rococó.

O neoclássico também marca presença em João Pessoa com um dos principais nomes sendo o prédio do Tribunal de Justiça, a antiga Escola Normal.

O Centro Histórico de João Pessoa é rico em sua arquitetura e paisagens. 

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 17 de abril de 2022