Para muita gente, calor, sol e mar são um convite irresistível para desfrutar o período de veraneio que se aproxima. No entanto, um elemento indesejado, que também se aproveita dessas condições, pode atrapalhar algumas mulheres — e alguns homens — durante a época: o fungo responsável pela candidíase. “Esse hospedeiro ‘adora’ ambiente quente e úmido. É uma combinação que favorece a sua multiplicação”, alerta Isabella Carvalho, ginecologista clínica que atua em João Pessoa.
Coceira genital, vermelhidão e a presença de uma secreção esbranquiçada ou esverdeada, grumosa, que se assemelha a uma coalhada, são os sintomas mais comuns da candidíase — provocada, principalmente, pelo fungo Candida albicans, que responde por entre 44% e 70% dos casos registrados no Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde.
Embora qualquer pessoa possa desenvolver a infecção, o problema é mais prevalente entre mulheres, especialmente durante os períodos quentes do ano, quando o calor e a umidade criam condições ideais para a proliferação do fungo. Por isso, Isabella enfatiza que as ocorrências da candidíase aumentam de forma aguda durante o verão — não apenas devido ao clima quente, mas também por conta do uso prolongado de roupas de banho molhadas.
“Todas as semanas, atendo a pacientes com esse quadro”, revela a ginecologista, destacando que, apesar de o Candida albicans comumente integrar a flora natural humana, passa a gerar efeitos nocivos quando se prolifera de maneira descontrolada — o que também pode acontecer em situações de imunidade reduzida. Segundo a especialista, esse desequilíbrio no organismo pode ser desencadeado por fatores como estresse, alimentação inadequada, alterações hormonais e uso prolongado de antibióticos.
Mais comum em mulheres, problema pode ser sanado com o uso, sob orientação médica, de pomadas e comprimidos
Dieta e imunidade são importantes na prevenção
O diagnóstico de candidíase é clínico e pode ser confirmado por exames laboratoriais. O tratamento da infecção envolve a aplicação, sob orientação médica, de remédios antifúngicos (disponíveis como cremes, óvulos ou comprimidos). Para os casos de crise, Isabella afirma que a solução consiste no uso combinado de creme vaginal e antifúngico oral, durando até cerca de sete dias.
Ainda conforme a ginecologista, quando há recorrência no aparecimento da candidíase, também é importante prevenir os fatores que costumam desencadear o problema. “Isso inclui: manter a imunidade alta; evitar o uso de antibióticos, corticoides sem indicação precisa; tentar o manejo do estresse; manter a saúde intestinal boa, com consumo de fibras; e restringir doces, massas e até o leite na dieta, para evitar disbioses [desequilíbrios na composição de microrganismos no intestino]. Vale, ainda, evitar ‘abafar’ a região genital por períodos prolongados (com o uso de protetores de calcinha ou roupas muito apertadas, por exemplo)”, recomenda Isabella.
Ela reforça que, para a candidíase em órgãos genitais de homens, o tratamento indicado é praticamente o mesmo, incluindo a utilização de pomada e de medicação oral. Além disso, a especialista enfatiza que, apesar de não ser considerada uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST), a candidíase pode ser transmitida por meio de relações sexuais.
Variedade
Existem cerca de 200 espécies de fungos causadores da candidíase. Uma das mais recentemente identificadas, a Candida auris, distingue-se por sua alta capacidade de provocar lesões graves e fatais, além de ser resistente a múltiplos medicamentos.
Nos casos mais extremos, como a candidíase sistêmica, a infecção pode, inclusive, atingir outros órgãos, exigindo cuidados hospitalares.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 26 de novembro de 2024.