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EDITORIAL: Uma canção para o Brasil

publicado: 03/11/2022 00h00, última modificação: 29/12/2022 15h05

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A indigência verbal do presidente Jair Bolsonaro, na hora de reconhecer o resultado das urnas, na terça-feira (1), frustrou o séquito que o acompanha, de modo particular, os seguidores tão radicais quanto ele - ainda criando problemas país afora -, que esperavam um comando do tipo “tocar o terror”. É lamentável que um presidente da República, às vésperas de deixar o cargo, não se dirija à nação com palavras de maior substância.

Já as comemorações pelas vitórias de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para a Presidência da República, e João Azevêdo (PSB), para o Governo do Estado, revelaram uma extraordinária sintonia entre os dois lados do palanque, ou seja, entre os candidatos e as pessoas que os elegeram. Cantaram e dançaram a música da gratidão, de contagiante harmonia, com exaltação à paz, ao amor, à esperança, à união, à liberdade e à justiça.

Pronunciamentos de autoridades brasileiras e mensagens de governantes de vários países, saudando o presidente eleito, seguiram no mesmo diapasão, prova de que, aqui e em grande parte do mundo, aspirava-se por um tempo novo para o Brasil, no qual a coragem e a esperança vencessem a ignorância. Uma estação do sorriso e da solidariedade para um país agora de punhos cerrados contra o tempo dos olhares sombrios do medo.

Governar para todos, esse o refrão que agora se ouve. Não mais acicatar a desnaturada segregação política, esporear o enfrentamento ideológico até as últimas consequências. Não mais um país dividido entre predadores e presas, nação povoada de caçadores armados até os dentes, empenhados de corpo e alma na captura da paz, do bom senso, de tudo, enfim, que significasse cadência, tolerância, solidariedade e entendimento.

Para a maioria do povo, inaugura-se, afinal, o tempo novo que se esperava. Tempo do contraditório buscar no diálogo o equilíbrio possível. Da política pública levar para casa (segura e de mesa farta) os moradores de rua. Do posto de trabalho (com bons salários e melhor previdência) trazer de volta os que não têm emprego. Do leito de hospital acolher os que sofrem de algum mal e a sala de aula, os que querem e precisam saber mais.

Tempo de incentivar e democratizar a produção cultural, para que o lazer e o conhecimento gerem sabedoria. Tempo das pessoas voltarem a sair às ruas sem medo de serem agredidas por questões de gênero ou em virtude da cor da pele, da condição econômica ou da opção ideológica. Tempo de renovar o ar dos pulmões, expelindo o carbônico tóxico envelhecido de quatro anos. Tempo, enfim, do país exercer o legítimo direito de ser feliz.

*Editorial publicada originalmente na edição impressa de 3 de novembro de 2022.