Notícias

Por tempo indeterminado

Correios seguem em greve na PB

publicado: 18/12/2025 08h32, última modificação: 18/12/2025 08h32
Trabalhadores reivindicam reposição salarial e rejeitam mudanças no acordo coletivo em meio à crise da estatal
WhatsApp Image 2025-12-17 at 18.34.07.jpeg

Assembleia definiu pela continuação da greve na noite de ontem; sindicato aponta adesão superior a 60% nas áreas operacionais | Foto: Divulgação/Sintect-PB

A greve dos trabalhadores dos Correios na Paraíba foi mantida, por tempo indeterminado, após assembleia realizada no início da noite de ontem (17). O movimento, deflagrado à meia noite de ontem, integra a paralisação que acontece em nove estados, e tem como foco a luta pela reposição inflacionária dos salários e contra propostas da empresa que, segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Correios e Telégrafos na Paraíba (Sintect-PB), retiram direitos conquistados. A direção sindical aponta paralisação superior a 60% nas áreas operacionais do estado.

Em nota, os Correios afirmam que, no país, 91% do efetivo trabalha normalmente. A paralisação ocorre em meio à crise financeira profunda que atinge a empresa. A estatal registrou prejuízo superior a R$ 6 bilhões de janeiro a setembro de 2025 e busca um empréstimo de até R$ 12 bilhões, com aval do Tesouro Nacional, para reequilibrar as contas. Paralelamente, executa um plano de reestruturação que prevê, entre outras medidas, corte de despesas, venda de imóveis e um programa de demissão voluntária com potencial para desligar até 15 mil funcionários, nos próximos anos.

Foi nesse cenário de ajuste que as negociações do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) emperraram. Em entrevista, Tony Sérgio, secretário-geral do Sintect-PB, detalhou os motivos do impasse que levou à greve. “A nossa pauta foi entregue em fevereiro. Tivemos a primeira reunião no fim de junho, estávamos com seis meses de negociações e não avançou em nada”, afirmou.

A principal exigência da categoria é a reedição do acordo coletivo com correção salarial pela inflação do período. “A data-base da categoria é 1º de agosto, e não foi cumprido. Já seria uma correção de algo que a gente já está perdendo. Seria uma reposição da inflação de algo que a gente já perdeu”, explicou Sérgio. Em contrapartida, segundo ele, a empresa apresentou uma proposta que inclui a retirada de direitos.

O ponto mais criticado pelo sindicato é a proposta de implantação de uma escala de trabalho de 12h por 36h. “Imagina um carteiro o dia todo no sol, na chuva, com peso nas costas e trabalhando 12 horas por dia. Isso é insuportável”, argumentou o dirigente. A manutenção do valor do vale-refeição, que complementa a renda, também é uma reivindicação.

Além das questões da mesa de negociação, os trabalhadores reagem a declarações que teriam sido feitas pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa. “A primeira declaração foi no mês de julho, quando ele falou que para resolver o problema dos Correios teria que demitir 10 mil trabalhadores. É um absurdo”, disse. A segunda, mais recente, foi interpretada como uma ameaça.

“Numa das conversas com o ministro do TST, quando ele fez uma ameaça aos trabalhadores de privatizar os Correios, caso houvesse uma greve, ele colocaria a privatização”. As negociações estão sob mediação do Tribunal Superior do Trabalho (TST). Tony Sérgio relatou que houve reuniões na sexta-feira passada, segunda-feira (15) e terça-feira (16), mas sem avanços concretos.

Em nota oficial, os Correios afirmam que “mais de 90% dos empregados estão trabalhando normalmente” e que “todas as agências estão abertas e entregas em curso”. O sindicato apresenta um quadro diferente na Paraíba. A adesão, segundo Sérgio, é massiva nos Centros de Distribuição Domiciliar (CDDs). “O CDD do Cristo, por exemplo, está 100% parado. O CDD Mangabeira, com aproximadamente 80% parado. O CDD Bessa, tem aproximadamente 70%”.

O secretário-geral também contestou a informação de que nenhuma agência estaria fechada. “Por exemplo, a agência do Boqueirão, a agência de Teixeira. Tem várias agências que estão paradas, mas a gente ainda não tem estimativa da adesão geral”, declarou. O impacto mais direto para a população está na distribuição e entrega de objetos postais em geral, tanto encomendas como cartas.

“A condição mínima para a categoria voltar a trabalhar é a reedição do acordo coletivo, mantê-lo e garantir no mínimo a inflação do período”, afirmou Tony. O dirigente reafirmou a disposição da categoria: “Neste ano, infelizmente, a empresa optou por retirar direitos. Quem é que vai aceitar retirar direito? Ninguém aceita”.

A paralisação ocorre enquanto a empresa aguarda o aval da União para um empréstimo bilionário, essencial para seu plano de sobrevivência, e em meio a um debate público sobre o futuro da estatal, que envolve desde ajustes dolorosos até ameaças de privatização. Para o sindicato, a greve é também uma defesa da empresa pública. “Hoje você defender a empresa pública é importante para o país, para a economia”, finaliza Tony Sérgio.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 18 de dezembro de 2025.