por Alexsandra Tavares*
A revogação do uso obrigatório de máscaras em locais abertos por parte de alguns municípios brasileiros não é bem-vista por alguns especialistas. Na Paraíba, duas cidades já informaram a revogação da exigência, sendo Princesa Isabel com decreto em vigor e Bayeux com mudança oficializada pela prefeita Luciene Andrade Gomes. Além disso, Cabedelo e Campina Grande sinalizam para a revogação nos próximos dias.
Mesmo com a justificativa do avanço da vacinação informados pelos municípios, um estudo feito nos Estados alerta que a adoção deste item de proteção, mesmo em locais onde a vacinação atingiu patamares elevados, pode salvar vidas.
O Jornal A União ouviu a opinião de profissionais e especialistas que repudiam a medida neste momento, informando que ainda é muito cedo diante do quadro epidemiológico vivido.
“Temos de ser mais cautelosos nesse aspecto da liberação da máscara. A epidemia de coronavírus ainda está vigente, a Organização Mundial da Saúde ainda mantém o estado de pandemia no mundo todo, e acreditamos que o uso de máscara ainda precisa ser respeitado”, afirmou o médico intensivista Pablo Antônio Vidal, chefe da Divisão Médica do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW).
Segundo ele, independentemente da decisão do gestor público em revogar o uso deste item de segurança, a responsabilidade do cidadão é maior, pois cabe a ele o livre arbítrio para aderir ou não à mudança.
Já a infectologista Monnara Lúcio da Silva Bezerra declarou que ainda é precoce se pensar em tirar o uso da máscara, mesmo em locais abertos, sobretudo quando as crianças ainda não estão com o esquema vacinal completo, potencializando o risco de maior contaminação.
Monnara Bezerra destacou ainda que as crianças, mesmo apresentando sintomas leves na maioria dos casos, também podem apresentar quadros mais severos e transmitir a doença para outras pessoas. De acordo com ela, não há como prever até quanto tempo seria importante se manter o uso da máscara. “O mais prudente seria desobrigar o uso quando toda a população estivesse vacinada, inclusive com a dose de reforço”, salientou.
Observar o contexto da pandemia, regionalmente, também é um ponto importante a ser considerado. Essa foi a ressalva feita pelo infectologista Fernando Chagas, diretor-geral do Hospital Clementino Fraga, em João Pessoa. De acordo com ele, não se trata de tirar uma simples máscara, mas o único anteparo que evita que o vírus saia da boca de uma pessoa e contamine outra. “Então, é um instrumento de proteção de barreira, não tem nem medicação que faça isso, nem a vacina faz isso. Por isso, é uma medida que você tem de tomar de forma muito cautelosa”.
Avaliando o contexto nacional, Fernando Chagas declarou que há dois cenários: um é a recém-saída do quadro elevado de Covid-19 no país em função da terceira onda com a variante Ômicron, e o outro são os resultados após o carnaval, como resultados de aglomerações generalizadas. “O ideal seria avaliar umas três semanas após esses dois momentos, para recalcular tudo, e se fazer uma discussão em caráter regional. Porque nacionalmente, não é hora de se tomar essa atitude, uma vez que ainda é alto o número de pessoas perdendo a vida para essa doença”, afirmou Fernando Chagas.
Pesquisa
O estudo de pesquisadores estadunidenses, publicado no periódico especializado Lancet Public Health, sugere que a máscara é uma importante ferramenta para reduzir a disseminação da Covid-19. Segundo os especialistas da Universidade da Cidade de Nova Iorque, apenas a vacinação não é suficiente para controlar a pandemia, e que medidas de proteção que funcionem como diferentes camadas sobrepostas são necessárias para limitar impactos econômicos e mortes.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 11 de março de 2022