Elas são a maioria da população. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) de 2022, as mulheres negras representam 60,6 milhões de pessoas, mais de 28% da população brasileira. Porém, apesar do número, elas ainda são minoria no acesso a direitos fundamentais, na ocupação de espaços de poder e decisão e na formação superior, entre outros fatores. Hoje, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e também Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, movimentos sociais e Poder Público reforçam a necessidade de equidade social.
De acordo com Terlúcia Silva, uma das coordenadoras da Abayomi — Coletiva de Mulheres Negras na Paraíba, o dia 25 de julho tem um forte significado para as mulheres negras, sobretudo aquelas organizadas em movimentos. “A data remonta ao encontro de mulheres negras da América Latina e do Caribe, que, em 1992, na República Dominicana, definiu o 25 de julho como dia de luta das mulheres negras no continente. As organizações de todos os países se uniram para dar visibilidade a essa data”, contou.
A data remonta a um encontro na República Dominicana, que definiu o 25 de julho como dia de luta das mulheres negras no continente -- Terlúcia Silva
Na Paraíba, segundo ela, as atividades de mobilização para marcar a celebração dupla estão vinculadas à agenda regional e nacional do chamado Julho das Pretas. “Para nós, mulheres negras, as reivindicações dizem respeito ao racismo e a como ele impacta nas nossas vidas, seja em relação às violências, seja na dificuldade de acesso a políticas públicas de educação e saúde, por exemplo”, destacou. Ela acrescentou que o Brasil tem uma sociedade racista, em que o processo de escravização tem reflexos negativos até os dias de hoje. “Isso afeta todas as pessoas negras, mas, quanto às mulheres, há ainda as questões de gênero”, disse.
Para a secretária de Estado da Mulher e da Diversidade Humana, Lídia Moura, a programação para essa data é realizada com o intuito de sensibilizar a população sobre a importância de combater a desigualdade social. “São datas fundamentais, que servem para refletirmos sobre os desafios enfrentados pela população negra e, especialmente, pelas mulheres negras. Nossa programação visa não apenas celebrar, mas também sensibilizar a sociedade sobre a importância da equidade racial e de gênero”, destacou.
Estar na política é, antes de qualquer coisa, ter a possibilidade de fomentar esse sentimento em outras mulheres negras -- Jô Oliveira
Na política
Os dados da Pnad Contínua de 2022 também apontam que as mulheres negras são a maioria entre as trabalhadoras domésticas (67%) e têm maior participação em programas sociais (38,5%). Já na política, elas governam apenas 4% dos municípios. No Nordeste, segundo dados do Odara — Instituto da Mulher Negra, levantados entres os meses de novembro e dezembro de 2022, a cada 14 mulheres brancas que se candidataram, uma foi eleita; já em relação às negras, a proporção é bem diferente: foi eleita uma mulher negra a cada 42 que se candidataram.
Com base nesses números, alcançar um espaço na política é ainda mais difícil para as mulheres negras. Que o diga a vereadora Jô Oliveira, de Campina Grande, primeira mulher negra eleita para o Legislativo do município. “Estar na política é, antes de qualquer coisa, ter a possibilidade de fomentar esse sentimento em outras mulheres negras. Os espaços de poder são fundamentais para nós — no Legislativo, no Executivo, nos sindicatos ou nos partidos —, porque mostra a importância de falarmos por nós mesmas dentro dessas estruturas, ainda predominantemente ocupadas por pessoas brancas”, ressaltou a parlamentar, ao defender a ocupação desses espaços para buscar mudanças sociais.
Atividades
Em João Pessoa, a Secretaria da Mulher e da Diversidade Humana (Semdh-PB), por meio do Centro da Igualdade Racial João Balula, realizou, durante todo o mês, uma programação com oficinas e debates. Hoje, a partir das 9h, acontece, no local, uma Vivência de Autocuidado em Saúde Mental e Promoção da Beleza. Já amanhã, também a partir das 9h, o centro vai promover uma atividade com música e uma oficina de escrita criativa.
Outro evento que acontece hoje, organizado pela Abayomi e outras organizações, é o Vadiagem das Pretas, a partir das 18h, no Bar da Cléa, no Castelo Branco. Amanhã, a partir das 20h, por meio de parceria entre a Semdh-PB e a Fundação Espaço Cultural da Paraíba (Funesc), haverá show de MC Soffia. A atividade conta ainda com performance da DJ Acarajow, que se apresenta ao lado de MC’hirlla. Gratuito, o show acontece no Teatro de Arena do Espaço Cultural, na capital paraibana.
Amanhã também acontece a Tarde das Pretas, a partir das 13h30, em Santa Rita, no Terreiro de Mãe Mocinha de Oxum. Já a Marcha da Negritude Unificada da Paraíba realiza a sétima edição do Uyelê Oriki das Pretas, um evento que conta com sarau poético, performances de artistas paraibanas e feira de artesanato. A atividade acontece no sábado (27), a partir das 16h, no Café da Usina Cultural Energisa, em Tambiá, com entrada gratuita.
Maracatu
Em Campina Grande, também dentro da celebração dupla, acontece o evento É Por Esse Baque, com o Maracatu do Baque Mulher. No sábado (27), sairá um cortejo do Centro de Arte e Cultura da Universidade Estadual da Paraíba (CAC-UEPB), em direção ao Parque do Povo, a partir das 17h.
Já no domingo (28), acontece uma preparação para a Marcha das Mulheres Negras, realizado por várias associações da cidade. A atividade acontece no Sesc Açude Velho, a partir das 8h, e se encerra com a apresentação musical do grupo Sambada Lunar, no Museu de Arte Popular (Mapp), às 17h.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 25 de julho de 2024.