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Doenças que afetam pets e humanos

publicado: 29/10/2024 08h15, última modificação: 29/10/2024 08h15
Guarda responsável também inclui o descarte correto dos dejetos de animais, para não oferecer riscos à saúde pública
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Incomodada com o descaso, Rayssa acaba recolhendo dejetos que não são dos seus animais | Foto: Evandro Pereira

por Sara Gomes*

Ao caminhar por espaços públicos, é comum ter encontros indesejados com o cocô deixado por animais que também trafegam por ali, seja com seus tutores, seja de forma solitária. Parques, praias e calçadas urbanas são os lugares preferidos. A maioria dos tutores recolhe as fezes do seu animal de estimação, durante o passeio diário, mas uma parcela deles que não tem esse cuidado. Tal desleixo pode causar não apenas incômodo visual e olfativo, mas doenças, como a dermatite causada pela larva migrans cutânea — conhecida popularmente como “bicho geográfico”.

É fundamental manter a higiene das mãos antes das refeições e depois do manuseio com os animais   --   Fernando Chagas

Rayssa Helena Evaristo, moradora do bairro Cabo Branco, passeia toda manhã com os seus cães, tanto no calçadão quanto na areia da praia. Frequentemente, ela encontra dejetos nos canteiros do vasto coqueiral que permeia a orla. “Considero não somente um desrespeito à vida em coletividade, mas também um problema de saúde pública, já que esse material transmite doenças”, diz. Sempre que possível, Rayssa recolhe fezes de outros animais e coloca no lixo mais próximo. No entanto, nem sempre tem saco de lixo disponível nos totens colocados pela Prefeitura de João Pessoa, ao longo do calçadão.

 Em outro bairro da capital, o dos Bancários, vive o estudante Jean Pereira.  Ele não tem animais de estimação, mas cultiva o hábito diário de caminhar nos fins de tarde. Antes, ia sempre à Praça da Paz; atualmente, tem caminhado mais no Parque das Três Ruas, por ser mais próximo da sua casa. Apesar de esse espaço público ter sido inaugurado há pouco tempo, Jean contou que já viu muito saquinho com fezes largado no chão. “As pessoas têm preguiça de levar ao lixo mais próximo. Nas Três Ruas, a experiência de caminhar é muito agradável, mas é preciso preservar os espaços de convivência”, declarou.

Doenças

 Segundo o infectologista Fernando Chagas, as principais doenças ocasionadas por vermes ou protozoários que podem ser transmitidas pelas fezes de animais — especialmente de cães — são a toxocaríase, a giardíase e o bicho geográfico.

A toxocaríase é uma infecção causada por larvas que habitam o intestino delgado de gatos (Toxocara cati) e cachorros (Toxocara canis). Essas larvas podem chegar ao organismo humano por meio do contato com as fezes de animais infectados, causando sintomas como dor abdominal, febre, diminuição da visão e dor no olho, por exemplo. “Crianças pequenas podem adquirir a infecção ao comer terra contaminada, seja brincando na areia da praia, seja pegando o material da caixa sanitária do gato”, alerta.

Outra doença é a giardíase, causada pelo protozoário Giardia lamblia, que pode acontecer devido à ingestão dos cistos desse parasita que estejam presentes em água, alimentos ou objetos contaminados. Os sintomas podem ser diarreia, náuseas, fezes amareladas, dor e distensão abdominal. No entanto, se for um caso assintomático, a pessoa pode transmitir a doença para outras pessoas do seu convívio familiar. “A principal forma de transmissão é a falta de higiene das mãos”, aponta Chagas.

Já o bicho geográfico é um parasita que vive no intestino de cães e gatos. Segundo o infectologista, a contaminação ocorre quando um animal contaminado defeca na areia da praia, em parquinhos de areia, em gramados e em quintais, por exemplo, por onde transitam pessoas com os pés descalços. “Quando pisamos ou brincamos na areia contaminada, as larvas podem penetrar na nossa pele, especialmente se houver algum ferimento ou arranhão”, explica. Ao entrar em contato, o verme faz lesões que parecem um mapa geográfico (daí o nome popular da dermatite). “Como coça bastante, algumas pessoas acabam desenvolvendo um processo alérgico”, conclui.

Como evitar

Para evitar infecções causadas por fezes de animais, Chagas lista algumas medidas que podem ser adotadas: “É fundamental manter a higiene, lavando as mãos, especialmente antes das refeições e depois do manuseio com os animais. Também é importante não ter contato direto com as fezes dos animais, utilizando calçados fechados e desviando de áreas onde os cães podem defecar”, orienta.

Outra medida eficaz é a vacinação e a vermifugação regular dos animais de estimação. Em relação aos humanos, o infectologista recomenda medicamentos antiparasitários, uma vez ao ano.

De acordo com a Câmara Municipal de João Pessoa, existe uma lei, criada em 2009, a Lei nº 11.880, de autoria da vereadora Eliza Virgínia (PPS), que obriga o recolhimento dos resíduos fecais de animais conduzidos em espaços públicos. Quem infringir essa normal será multado no valor equivalente a cinco Unidades Fiscais de Referência do município de João Pessoa.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 29 de outubro de 2024.