Atualmente, é cada vez mais comum observar pessoas com uma rotina acelerada, com diversas atividades e sobrecarga de trabalho, além do uso excessivo de telas, como o celular, sem falar nas demandas familiares. Esse dia a dia sempre sobrecarregado pode levar ao adoecimento mental, causando síndromes como o burnout - Síndrome do Esgotamento Profissional - e o burnon, termo relativamente recente, que trata dessa característica crônica de viver constantemente “On”, sem nunca relaxar ou se desligar dos afazares.
O termo burnon foi criado pelos psicólogos alemães Timo Schiele e Bert Te Wildt e descrito pela primeira vez em 2021, no livo “Burnon: Immerkurzvorm Burnout: Das unerkannte Leiden undwasdagegenhilft” (“BurnOn: Sempre à beira do Burnout: O sofrimento não reconhecido e o que ajuda contra ele”). Ao contrário do burnout, o problema se caracteriza pela paixão excessiva pelo trabalho e a sensação de estresse constante. Essas pessoas ainda têm a necessidade de manter uma vida social, prática de atividades físicas, cuidar da alimentação, dar atenção à família, se manter informado ou mesmo seguir com os estudos, buscando equilibrar uma série de atividades numa rotina frenética.
Sintomas
Fruto dessa sobrecarga crônica, as pessoas com burnon, inicialmente, parecem muito animadas com seu trabalho e sua rotina, mas a médio e longo prazos podem sofrer de dores musculares, dores de cabeça, bruxismo (ato de ranger os dentes), e até mesmo estarem mais propensas a ter problemas como pressão alta e ataques cardíacos.
Essa falta de descanso, de pausas reais na rotina, também acaba levando ao esgotamento mental, e ao desenvolvimento de problemas como ansiedade, depressão e burnout, um distúrbio emocional caracterizado pela exaustão extrema, estresse e esgotamento físico.
Segundo explica o médico psiquiatra, Napoleão Bezerra, o burnout surge como um reflexo do processo de adoecimento causado pela rotina muito acelerada, sobretudo relativa ao trabalho. “A maior parte das pessoas tem essa percepção de que acidente de trabalho é só um acidente no sentido físico, problemas com movimentos repetitivos, problemas ergométricos, muito tempo sentado, muito tempo na mesma posição, dores lombares, hérnia de disco, sobrecarga de peso. Mas, no mental, nosso trabalho também nos adoece, porque a nossa mente sobrecarrega e esgota”, afirmou.
Busca por produtividade excessiva é sinal de alerta
O psiquiatra Napoleão Bezerra explica que o estilo de vida muito focado no aumento da produtividade, a busca pela melhor performance, a competitividade excessiva, tudo isso, pode levar ao adoecimento mental, e que é preciso estarmos atento aos nossos limites.
“Cabe a nós buscarmos um momento de cuidado da saúde, prática de atividade física, momentos de desacelerar, momentos em que a gente se desconecta da nossa rotina”, destacou.
Napoleão ainda aponta que o burnout tem sinais bem específicos, e que o diagnóstico é feito com base na observação e acompanhamento desses sintomas. “Você começa a perceber que você começa a ter mais irritabilidade, apresenta tolerância reduzida e começa a perder o entusiasmo por coisas que você gostava antes. Quando você é submetido ou está próximo ao trabalho, você começa a sentir angústia, começa a sentir desmotivação e começa a sofrer”, afirmou.
Tratamento
Ele enfatiza que quando essa ausência de ânimo, tanto para o trabalho como para outras atividades cotidianas, impacta na qualidade de vida, é um sinal de alerta, e que nesses casos as pessoas devem procurar ajuda profissional. O tratamento, segundo Napoleão Bezerra, pode variar de acordo com cada paciente, podendo ser apenas terapêutico ou também medicamentoso.
“Há casos da psiquiatria que não precisa de intervenção medicamentosa e há outros que precisam, que aquela pessoa não consegue lidar com aquela tristeza. Então, a gente precisa de uma intervenção e, claro, de acompanhamento terapêutico, buscar associar o máximo de ferramentas no sentido de melhorar a saúde, como dormir cedo, acordar cedo, ter bons hábitos alimentares, evitar uso de estimulantes com excesso de cafeína, e a atividade física, que não pode faltar”, destacou.
Atenção
- Ansiedade e depressão são pedidos de socorro
O psiquiatra Napoleão Bezerra explica que o cuidado com a saúde mental é um trabalho de dedicação contínua, e que devemos estar sempre atentos, buscando desacelerar e respeitar nossos limites.
Ele ainda afirma que, nos últimos anos, os problemas de saúde mental vêm aumentando, e que os distúrbios como ansiedade e depressão são, hoje, uma das principais causas de afastamento do trabalho em todo o mundo, e que isso também é um reflexo da sociedade atual, cada vez mais competitiva e acelerada.
“Na grande maioria das pessoas, depressão, ansiedade, principalmente a ansiedade, são pedidos de socorro. A sua mente não está aguentando, a sua mente não está tolerando”.
Ele acrescentou que toda a sobrecarga, cobrança exagerada, autonegligência com a saúde, impactam no emocional.“Então, a solução é respeitar o limite de cada um. Nós precisamos trabalhar, todo mundo tem seus compromissos, tem suas obrigações, mas trabalhar para viver bem, não para ficar doente”, destacou o psiquiatra.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 12 de maio de 2024.