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cruz do espírito santo

Engenho sustentável atrai turistas

publicado: 25/07/2024 09h11, última modificação: 25/07/2024 09h11
Famosa por cachaças premiadas, propriedade também chama atenção por projeto ambientalmente responsável
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Com formação em Engenharia Civil, Murilo Coelho decidiu produzir bebidas em 2014
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Empreendimento produz 10 mil litros de cachaça por ano
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Fotos: Roberto Guedes
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Fonte da recém-eleita melhor cachaça branca do Brasil, conforme o renomado ranking da Cúpula da Cachaça — formada por especialistas de todo o país —, o Engenho Nobre, em Cruz do Espírito Santo, na Região Metropolitana de João Pessoa, também vem se destacando nas áreas de bioconstrução e turismo. Quem visita o empreendimento se encanta com suas instalações, em formato totalmente diferente do convencional.

Aliar a produção da cachaça à bioconstrução, ainda na concepção do projeto arquitetônico do engenho, foi ideia de seu proprietário, o mineiro Murilo Vilela Coelho. Com telhas ecológicas e paredes de solo-cimento de 45 cm de espessura, as estruturas do local criam um ambiente térmico ideal para o armazenamento e envelhecimento das cachaças.

Medalhas
A Cachaça Nobre branca, eleita a melhor deste ano no Brasil, já foi laureada duas vezes no Mundial de Bruxelas, em 2017 e 2018

Formado em Engenharia Civil, Murilo decidiu, no fim de 2014, se tornar produtor de cachaça. Cumprindo seu sonho, ele tem chamado atenção em vários concursos voltados à tradicional bebida. O Engenho Nobre, que deu início a suas atividades comerciais em 2017, produz 10 mil litros de cachaça por ano, incluindo brancas e envelhecidas, de diversos rótulos, e ainda tem capacidade de aumentar a produção anual para até 20 mil litros.

A premiada Cachaça Nobre branca é, de fato, um dos produtos de destaque do engenho. Além da recente eleição pela Cúpula da Cachaça, ela foi laureada duas vezes no Mundial de Bruxelas — Etapa Brasil, com medalhas de prata, em 2017, e ouro, em 2018. No ano seguinte, outra bebida do engenho, a Cachaça Arretada Mandacaru — um blend de barris de carvalho norte-americano e francês — ganhou a medalha de prata no World Spirits, um dos mais importantes concursos de destilados do mundo, promovido em São Francisco, nos Estados Unidos.

A propósito, a série das Arretadas — formada, ainda, pelas Arretadas Carvalho, Blend Nordestino e Cordel — também chama atenção entre os produtos do Engenho Nobre. Lançadas em edições limitadas, de cerca de 1.500 unidades, as bebidas especiais são extremamente macias e aromáticas.

Além dos sabores inigualáveis, as diversas cachaças fabricadas pelo engenho se distinguem pelos formatos e rótulos de suas embalagens, confeccionadas com detalhes que enaltecem a cultura nordestina.

Preocupação ecológica se estende ao solo e às águas locais

Outro aspecto marcante do cuidado ecológico na concepção do Engenho Nobre foi o uso da técnica conhecida como hiperadobe. Esse método de bioconstrução utiliza sacos raschel feitos de uma malha mais aberta, para permitir que a terra e o cimento possam atravessá-los, garantindo maior aderência e união entre as camadas, estabilizadas por meio de compactação manual. 

Formas arredondadas das estruturas do engenho despertam a curiosidade dos visitantes

“Nós aproveitamos o que temos; pegamos a terra, madeiras de reflorestamento e usamos conceitos da bioconstrução. Ou seja, usamos, nesta obra, 10 kg de terra para 1 kg de cimento”, comenta Murilo Coelho. Seguindo a lógica da sustentabilidade ambiental, o proprietário do engenho ainda instalou uma Bacia de Evapotranspiração (BET) para fazer o tratamento do esgoto do local. Trata-se de uma caixa feita de alvenaria e argamassa com impermeabilizante, situada a 10 m do empreendimento, visando evitar a contaminação do solo e das águas subterrâneas da área.

Como se não bastasse a fabricação de bebidas premiadas, aliada a um projeto ambientalmente responsável, as estruturas que compõem o engenho apresentam formatos arredondados, com tetos semelhantes a cúpulas ou iglus, acrescentando um atrativo visual para os turistas interessados em conhecer a propriedade.

O Engenho Nobre recebe visitantes por agendamento, permitindo-lhes desfrutar um ambiente agradável, onde se poderá não somente conferir as belas estruturas de bioconstrução, como também se degustar todos os tipos de cachaça produzidos no local, proporcionando sensações e sabores aos que apreciam a bebida. Para mais informações, basta visitar o Instagram @engenhonobre.

Memorial e igreja são outros destaques turísticos da cidade

O município de Cruz do Espírito Santo abriga muitos outros atrativos turísticos. Para os apreciadores do turismo cultural, é um lugar perfeito para se conhecer. Estamos falando, afinal, da terra natal do poeta Augusto dos Anjos, que ali viveu até junho de 1914, quando se mudou com a família para Minas Gerais. Em um retorno imaginário ao passado remoto, o visitante pode até registrar fotos sob o pé de tamarindo onde o poeta costumava ficar, uma importante fonte de inspiração de suas obras.  Próximo ao tamarindeiro, se situa o Memorial Augusto dos Anjos, instalado na casa que pertenceu a Dona Guilhermina, ama de leite do poeta. O local busca proporcionar um passeio pela história do homenageado, preservando livros, fotos e documentos sobre sua vida. A visita ao memorial pode ser agendada por meio do site memorialaugustodosanjos.com. 

A Igreja do Divino Espírito Santo tem arquitetura distinta

Turismo religioso

Quem for a Cruz do Espírito Santo também não pode deixar de conhecer a bela Igreja do Divino Espírito Santo, um dos principais pontos turísticos da cidade. Construída no século 19, ela possui uma arquitetura encantadora, totalmente distinta das demais. Diferentemente dos templos tradicionais, seu altar tem uma forma arredondada, similar ao teto de uma mesquita islâmica. No alto e em torno do altar, há, ainda, estátuas de anjos, que, em meio a diversas cores, embelezam ainda mais a igreja.

O historiador Beto Mendonça conta que a enchente do Rio Paraíba, em 1789, carregou, por aquela região, uma cruz de madeira chamada de Cruz do Espírito Santo, a qual acabou inspirando, em 1948, a renomeação do município, antes conhecido como Maguari. Há, inclusive, uma réplica dessa cruz na Igreja do Divino Espírito Santo; conta-se que a original, após a enchente, encalhou na Praça Lourival Lacerda, situada à frente do templo.

“A igreja teve a sua construção iniciada em 1884 e, em 1885, foi feita sua primeira celebração, que contou com a presença de Córdula de Carvalho Rodrigues dos Anjos, mãe de Augusto dos Anjos”, revela o especialista.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 25 de julho de 2024.