Um grupo de estudantes da Universidade Federal da Paraíba, Campus I, “acampou” no hall da Reitoria na tarde quinta-feira, em protesto ao valor da refeição no Restaurante Universitário (RU), que sofreu reajuste superior a 36%. O aumento passa a vigorar amanhã. Os alunos passaram a noite dessa quinta-feira e a manhã de ontem no prédio. Até o fechamento desta edição, o grupo permanecia no local, sem previsão de sair.
Ontem foi publicada uma carta aberta assinada pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFPB e por 35 Centros e Diretórios Acadêmicos.
A carta, com denúncias e reivindicações, foi protocolada na Reitoria. “Hoje (ontem) vamos nos reunir para decidirmos até quando vamos ficar na Reitoria e programar as próximas ações”, afirmou o aluno do curso de Gestão Pública, João Victor Barbosa da Silva, da coordenação de Finanças e Patrimônio do DCE.
De acordo com integrantes do DCE, antes do reajuste, o valor do almoço era R$ 10,57 e do jantar R$10,33. O novo preço, unificado no Campus I, ficou fixado em R$ 14,40. Com isso, o acréscimo com relação ao almoço é de 36,2% e em relação ao jantar é de 39,3%
Quem foi ontem à Reitoria pela entrada principal, logo percebeu a mobilização dos estudantes, que fixaram faixas na fachada da instituição e, no hall de entrada, improvisaram uma mesa com alimentos. Alguns montaram barracas de acampamento e outros dormiam em colchonetes. Os alunos, em pequena quantidade, transitavam livremente pelo vasto salão de entrada da instituição e, apesar do clima pacífico, a fala do grupo era de total insatisfação em relação à gestão atual da UFPB.
Antes do reajuste, o valor do almoço era R$ 10,57 e do jantar, R$ 10,33. O novo preço, unificado no Campus I, ficou fixado em R$ 14,40
“A gente, hoje, reivindica a saída do reitor Valdiney e dessa gestão interventora. Lutamos por melhorias na Universidade. A gente sabe que é por causa dessa gestão que os estudantes vão ter que pagar um RU de R$ 14,40, e tem aluno passando fome. Apenas um baixo número de universitários recebe auxílio para ter acesso ao restaurante, quando tem muito mais gente precisando dessa comida”, frisou Alice Cavalcante de Andrade, estudante do curso de Serviço Social, que faz parte da Coordenação de Cultura, Eventos e Esportes do DCE.
Segundo Alice, são várias reivindicações e todas estão relacionadas à saída do atual gestor. “Ele foi eleito de maneira antidemocrática. Não passou na lista tríplice. Teve de entrar com um processo e acabou entrando nessa lista, ficando em último lugar. Foi escolhido pelo antigo presidente para o cargo, contrariando a maioria da comunidade acadêmica, dos alunos, professores e funcionários técnico-administrativos”, acrescentou.
Os estudantes disseram que já enfrentaram três meses sem acesso ao RU, recebendo uma pecúnia de R$ 9,00 para fazer duas refeições no Campus. Como o auxílio era insuficiente, os universitários tinham de passar o dia comendo salgadinho. “Os alunos enfrentaram insegurança alimentar porque não há como fazer duas refeições no Campus com R$ 9,00. Então, passavam o dia comendo salgado, que é a opção mais viável”, declarou Alice.
O aluno do curso de Gestão Pública, João Victor Barbosa da Silva, da coordenação de Finanças e Patrimônio do DCE, destacou que a alimentação do RU é feita por uma empresa terceirizada, e não pelos funcionários da instituição, como ocorria há alguns anos. Essa realidade, segundo ele, aumenta o custo da alimentação para os alunos, e resulta na má qualidade do alimento. “Ora, se temos curso de Nutricionista e Gastronomia na UFPB, porque não usar esse pessoal e usar os próprios funcionários da Universidade, como ocorria antigamente, para cuidar da nossa alimentação?”, questionou João.
“Queremos que a gestão repense como está gerindo o RU. Antigamente, tínhamos um restaurante de autogestão, em que a UFPB contratava os funcionários, fazia licitação dos alimentos e era a principal responsável pela nossa alimentação. Se ocorresse algum problema alimentar, a gente questionava a UFPB. Hoje, uma empresa terceirizada faz esse serviço. Aliás, já é a terceira empresa contratada. Além disso, a terceirização só visa o lucro, porque eles ganham por refeição. Já há estudo de alunos da Universidade mostrando que se o RU for autogerido, o preço das refeições vai baixar”, completou o estudante.
João Victor também destacou que a terceirização no RU está implantada em todos os Campi da UFPB e há problemas relacionados à qualidade do alimento oferecido, porque já foram encontrados inúmeros objetos nos pratos servidos. De acordo com ele, a UFPB tem mais de 25 mil alunos e pouco mais de 2.000 recebem ajuda de custo da instituição para se alimentar.
Grupo nega quebra-quebra e, em nota, Universidade repudia invasão
Na noite de quinta-feira, o grupo de estudantes que está mobilizado para pedir a redução do preço da refeição no RU, chegou a se acorrentar na porta da entrada principal da Reitoria. O objetivo, segundo o aluno João Victor Barbosa da Silva, era evitar que fechassem o local. “Os alunos ficaram se revezando, acorrentados na porta da Reitoria, das 21h às 4h da manhã (de sexta-feira)”, contou.
Ainda na noite da quinta-feira, esses mesmos estudantes, foram até o auditório da Reitoria falar de suas reivindicações. Segundo João Victor, na ocasião estava ocorrendo um evento festivo referente às comemorações dos 70 anos da Escola Técnica de Saúde (ETS), que funciona no Campus I.
De acordo com o universitário, a ideia era mostrar, a um número maior de alunos, os motivos pelos quais estavam acampados na instituição. “Vimos no evento a oportunidade perfeita para falarmos sobre as nossas reivindicações. Esperamos a orquestra tocar e quando terminaram as falas de algumas pessoas, entramos com cartazes e com uma caixinha de som portátil. Apresentamos os problemas e os alunos nos aplaudiram. Mas, como houve um tipo de ‘deboche” por conta da gestão, pelo fato de estarmos em situação de insegurança alimentar, aí a gente rasgou o verbo sobre os problemas da UFPB. Depois, nos retiramos. Mas, não houve quebra-quebra”, destacou João.
O que diz a UFPB
Em nota, a UFPB informou que “repudia, veementemente, a ação de pessoas que invadiram e tumultuaram, no auditório da Reitoria, o evento de celebração do 70º aniversário do Centro Profissional e Tecnológico/Escola Técnica de Saúde”. Disse, ainda que, igualmente, “repudia a invasão do prédio da Reitoria, montando indevidamente acampamento em órgão público, que impede seu funcionamento normal”. A UFPB comunicou que medidas estão sendo tomadas para apurar responsabilidades e punir as ações, consideradas pela instituição “no mínimo pouco urbanas e flagrantemente desrespeitosas, atentando contra servidores e órgão público”.
Serviços dos RUs estavam suspensos desde abril
Os serviços do Restaurante Universitário (RU) no Campus I, em João Pessoa, estavam suspensos desde o dia 27 de abril. No Campus II, em Areia, a suspensão teve início em 17 de julho, devido ao encerramento do contrato de prestação de serviço de alimentação com as empresas que gerenciavam as unidades.
Suspensão atingiu os restaurantes dos Campi de João Pessoa e Areia
Durante este período, os estudantes assistidos pela instituição com os auxílios Restaurante Universitário e Residência Universitária receberam, em pecúnia, o valor para a realização das refeições.
Segundo comunicado da Prape, os estudantes contemplados com os Auxílios Residência Universitária, e Auxílio Restaurante Universitário nos Campi I e II já receberam, em suas contas bancárias, os valores em pecúnia para custear a realização das refeições durante a primeira quinzena do mês de agosto, até a véspera da reabertura dos restaurantes em João Pessoa e Areia. O valor pago foi de R$ 180 para os discentes contemplados com o Auxílio Restaurante Universitário, e de R$ 270 para os contemplados com o Auxílio Residência Universitária.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 12 de agosto de 2023.