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Jornada braille

Evento enfoca relevância da inclusão

publicado: 09/04/2024 08h57, última modificação: 09/04/2024 08h57
Dia Nacional do Sistema Braille foi celebrado ontem no Instituto dos Cegos da Paraíba. Programação segue até amanhã
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Ação contou com realização de jogral, depoimentos de profissionais do ICPAC e de convidados como o atleta paralímpico Marcos José Alves | Fotos: Leonardo Ariel
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por Sara Gomes*

O Instituto dos Cegos da Paraíba Adalgisa Cunha (ICPAC) celebrou, ontem, o Dia Nacional do Sistema Braille com “A Jornada do Braille”, evento que segue até amanhã e que tem como tema central “Alternativas e possibilidades para atuação numa perspectiva inclusiva”. A iniciativa conta com o apoio da Fundação Centro Integrado de Apoio à Pessoa com Deficiência (Funad), Universidade Federal da Paraíba( UFPB), Fundação Espaço Cultural, Empresa Paraibana de Comunicação (EPC) e a Rede de Leitura Inclusiva.

A programação contou com um jogral, em que o professor de História, José Roberto Ferreira, interpretou a trajetória de Louis Braille – criador do sistema de leitura e escrita para cegos. Em seguida, o público pôde assistir o depoimento do atleta paralímpico -  da modalidade futebol de cegos, Marcos José Alves.

Em sua fala, a presidente do Instituto dos Cegos, Valéria Carvalho, comenta a importância da invenção do Braille para os deficientes visuais e profissionais de Educação na perspectiva da inclusão. “Certa vez, um aluno do Instituto e da escola regular me disse: ‘É muito ruim a gente escrever algo que o professor não sabe ler’. Esse comentário me fez refletir. Para acontecer a inclusão social, os mestres precisam saber ler a produção de seus alunos. A partir de maio, o Instituto dos Cegos vai ofertar cursos de capacitação com equipe de profissionais da Educação, familiares como também para a comunidade, a fim de fortalecer o aprendizado do Braille”, declarou.

Precisamos dizer não ao capacitismo, mostrando à sociedade que as pessoas com deficiência podem ir além, apesar das limitações   --    Vanessa Veloso

A professora de Braille e assessora educacional do ICPAC, Vanessa Veloso, enfatiza a importância do tema para promover eventos inclusivos. “Precisamos dizer não ao capacitismo, mostrando à sociedade que as pessoas com deficiência podem ir além, apesar das limitações”, declarou.

A  servidora pública lotada no Instituto dos Cegos e mediadora do evento, Gerluce Limeira, entrou no Instituto dos Cegos aos cinco anos. Ela relembra o quanto o Instituto foi importante para sua formação e construção de autonomia. “A escola funcionava da 1ª a 4ª série. Eu fui alfabetizada aqui e aprendi a ser independente, a me locomover sozinha. Na 5ª série comecei a estudar na escola regular, mas sempre tive o apoio pedagógico do Instituto, pois a gente precisava de profissionais para transcrever nossas atividades e livros. Aqui é minha segunda casa, hoje faço por eles o que fizeram por mim”, disse.

Natural do Rio de Janeiro, a aluna Anne Luize Souza, 15 anos, tem baixa visão e foi alfabetizada no Instituto Benjamin Constant, onde o Braille começou. Ela conta que a instituição não a incentiva o aprendizado do Braille por ter baixa visão. Como ela tem familiares paraibanos, sua mãe percebeu que a Paraíba oferecia melhores oportunidades de aprendizado, então desde 2018 moram em João Pessoa. “Foi no Instituto dos Cegos que aprendi o Braille. Eu evolui bastante desde então”, afirmou.

Acompanhado pelo Instituto dos Cegos desde os três anos de idade, Pedro Paulo dos Santos, 13 anos, mora em João Pessoa, e estuda também em uma escola regular. “Aprender o Braille foi muito importante para meu aprendizado. Não sei como seria minha vida sem ele”, declarou.

Saiba mais

O Braille é um sistema universal de leitura e escrita para pessoas cegas ou com deficiência visual. Foi criado pelo francês Louis Braille e a versão mais conhecida é do ano de 1837. Segundo informações do Ministério da Educação, o Dia Nacional do Sistema Braille, celebrado em 8 de abril, destaca o nascimento de José Alvares de Azevedo, primeiro professor cego do Brasil, que trouxe o código da França, ensinou e divulgou o sistema de leitura e escrita no país. A data propõe uma reflexão sobre os desafios enfrentados pelas pessoas cegas e a importância de continuar a produzir obras em relevo, para proporcionar-lhes iguais oportunidades de ler e aprender. Criado há quase 200 anos, esse sistema abriu as portas do conhecimento e da cultura para as pessoas com deficiência visual.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 09 de abril de 2024.